Depois de uma entrada de Leão, o Sporting recolheu as garras e colocou em risco a vantagem alcançada. No final, ficam mais duas assistência e um golo daquele que continua a ser o abono de família de uma equipa com demasiados equívocos

Com o golo apontado ontem, num penalti forçado resultante de uma falta forçada cometida sobre si, Bruno Fernandes tornou-se o médio com mais golos de sempre numa só temporada pelo Sporting: 23. E não será de todo exagerado afirmar que o camisola 8 é um dos melhores jogadores que alguma vez vestiu a camisola verde e branca, o que nos leva a uma coincidência: é que cá para este que vos escreve, uma das melhores música feitas até hoje tem como título a alcunha com que Bruno Fernandes ganhou depois do seu regresso.

The Rat, assim se intitula a falada canção, podia ser Bruno Fernandes em versão guitarrada. Aquele início incrível, com um passe para a primeira ameaça do Raphinha, depois o canto para a cabeçada à toa do Diaby que abre o marcador, depois mais um passe brilhante para Raphinha fazer um golaço com o pior pé. Tudo isto em três minutos, entre os 9 e os 12, depois de uma entrada em campo do Sporting a piscar o olho às entradas em campo que se pedem ao Sporting.

Wendel sabia que tinha que ganhar o meio-campo, atrair adversários e deixá-la redonda em Bruno. E este sabia que devia disparar passes incríveis para a corrida de Raphinha e de Diaby, até mesmo para o arranque tartaruga de um Bas Dost a quem a baliza parece agora meter medo e que prefere tentar passar a bola a alguém do que tentar metê-la lá dentro. Foi assim que se falharam dois golos feitos na primeira parte, mas não se pense que isto foi marcar só dois quando podiam ter sido quatro.

É que, atrás de Bruno, está uma mistura de Mauro Soares com Bruno Caires, capaz de falar mandarim e de, jogo após jogo, enterrar a equipa e continuar a merecer a titularidade. Gudelj, assim se chama este rapaz que tem o desplante de dizer a Bruno Fernandes “meu, preocupa-te em marcar golos que para defender estou cá eu”, foi capaz de, em 30 segundos, ter três erros básicos (perda de bola, incapacidade de recuperá-la, posicionamento patético a deixar fugir o jogador que estava a marcar) e oferecer o golo ao adversário à passagem da meia hora.

Um golo merecido, mesmo, pois depois de ter feito o 2-0 o Sporting desapareceu, o Portimonense cresceu e obrigou Renan a uma trabalheira danada, finalizada com uma enorme defesa, com o pé, mesmo em cima do intervalo, perante os aplausos de Tiago Ilori que tudo fazia para bater o record de passes mal medidos e perdas de bola quando tentas sair a jogar da tua área. Não admira, portanto, que quando as equipas foram para o descanso o Portimonense tivesse mais remates, mais remates enquadrados e mais remates realizados dentro da área.

No regresso, percebeu-se que a preocupação maior passava por evitar que o Portimonense conseguisse continuar a jogar entre linhas e a fazer transições rápidas. E conseguiu-se (um remate de fora da área foi tudo o que os algarvios conseguiram na segunda parte), o que levou a que também a equipa do Sporting fosse bem menos ofensiva, mesmo com a entrada de Luiz Phellype para o lugar de um Dost a precisar de psicólogo e brindado com os inenarráveis assobios por parte daqueles a quem já tantas vezes permitiu festejar.

Mas, mais ou menos ofensivo, tudo continuava a depender da inspiração e do talento de Bruno Mighty Mouse Fernandes, aqui e ali ajudado por Acuña e com a defesa entregue a um Mathieu que ainda tentou ir desequilibrar lá na frente só para espairecer do tormento que foi estar lá atrás e refilar constantemente com quem não ajudava a defender. Foi do Rato um incrível falhanço de cabeça, foi o Rato a inventar um remate para grande defesa do redes e foi o Rato a ganhar e a marcar o tal penalti que já vos falei e que deu a machadada final no jogo.