Foi preciso um penalti daqueles que jamais seria marcado se o Sporting estivesse a lutar pelo título, para os Leões conquistarem os três pontos no Bessa. Uma vitória tão justa quanto sofrida, com defeitos e predicados que uma semana com tempo para respirar em nada conseguiu alterar

Existe uma expressão utilizada inúmeras vezes: “Deus escreve direito por linhas tortas”. Deixado a divindade fora das contas, até porque a merda que João Pinheiro fez ao longo de 90 minutos nos obriga a tal, foi mais ou menos o que aconteceu no Bessa.

O Sporting foi a única equipa a querer ganhar o jogo, teve oportunidades para acabar com ele bem antes dos 90 minutos, mas foi preciso aquele penalti muito forçado sobre Raphinha, mesmo sobre o apito final, para dar os três pontos à turma de Alvalade. Foi o culminar de uma arbitragem inacreditável, onde existiu carta branca para a rapaziada de xadrez fazer faltas atrás de faltas, com destaque para Nwankwo Obiora, que hoje acordou a perguntar a si mesmo como foi possível ter chegado ao final do jogo sem, sequer, um amarelo.

Com o jogo a parar consecutivamente para a marcação de faltas e faltinhas, tantas delas por mergulhos de um tal de Sauer, claramente bem preparado por Lito Reis dos Empranchados Vidigal, chegou a ser exasperante o facto da bola não entrar. Tanto ou mais exasperante que o facto de ela ter voltado a entrar na nossa baliza ainda alguns adeptos escolhiam a melhor posição na bancada, algo que acontece pela terceira vez desde 23 de Janeiro, data em que defrontámos o Braga: sofrermos um golo nos primeiros três minutos da partida.

No final, Keizer diria que começar a perder apenas significa que teríamos que fazer dois golos, algo que demorou, pese os mais de 20 remates (mas só quatro ou cinco enquadrados) e a posso de bola bem acima dos 70%. E só chegou através de um autogolo e do tal penalti de que falámos. Dá que pensar, creio eu.

O volume ofensivo foi enorme, muito por culpa das arrancadas de Raphinha e do grande jogo feito por Acuña, nomeadamente na segunda parte. A eles se juntou a classe de Mathieu, que parece saber sempre onde cai a bola, a omnipresença de Bruno Fernandes e a liderança de Coates, carregando a equipa para a frente de todas as formas e sentidos, como quando, a meio da segunda parte, vestiu a pele de médio-ofensivo, sacou três ou quatro dribles, meteu na corrida de Raphinha e o extremo cruzou para um pontapé de bicicleta de Bruno Fernandes que ofereceu ao redes adversário a defesa da noite.

Antes disso, já Coates quase nos tinha feito gritar golo, com uma cabeçada em plena área. E, recuando mais o filme, Luiz Phellype, a meio metro de uma baliza despida, conseguiu acertar no poste; Raphinha marcou um golo que viria a ser bem anulado por fora de jogo; e Bruno Fernandes tentou inventar qualquer coisa num remate à meia volta. Ah, e ainda houve aquele momento Maradona do Doumbia, que vai continuando a mostrar pormenores que deixam água na boca.

Teria sido curto sem aquele golo salvador. Teria sido ainda mais curto se, depois de uma tão pedida semana para trabalhar descansadamente, a equipa tivesse empatado com a insistência num equívoco chamado Gudelj (graças aos santos viu um amarelo que o tira do próximo jogo) e com poucas ou nenhumas melhorias tácticas à excepção de uma maior dinâmica e capacidade dos laterais, Risto e Borja (depois Acuña) conseguirem vir corredor fora a criar desequilíbrios no último terço.

Mas como o diabo por vezes se esquece e nos deixa passar no intervalo dos dentes, acabámos todos com um ar de Jovane, incrédulo pelo facto do árbitro ter apitado antes de ele poder fazer as mil e uma maravilhas que lhe estavam destinadas naqueles 28 segundos em que estaria em campo.