Se o Sporting de Marcel Keizer chegou a saber a Toranja Mecânica, neste momento é apenas mecânico. E mesmo com semanas inteiras para trabalhar, sobra o consolo de ganhar com pouco sumo

Começamos pelas boas notícias, certo? Ok, vamos a isso. Ganhámos com inteira justiça, o Doumbia mete o Gudelj no bolso sem ter que transpirar, o Raphinha jogou que se fartou e colocou um ponto final naquela história de estarmos a dever dinheiro ao Guimarães, acabámos o jogo em terceiro e a cinco pontos do primeiro, à condição, sendo que este gajo que vos escreve e vos quer bem acordou com uma comichão zandinga que o faz acreditar que estes três pontinhos pouco brilhantes até vão ter um significado interessante lá para o final da jornada.

Portanto, e assim sendo, tudo o resto poderia passar para segundo lugar. Mas foi o próprio Marcel Keizer, com ar meio zangado, quem foi para a conferência de imprensa afirmar que o que fizemos, futebolisticamente, foi muito pouco. E é verdade. Não só é verdade como é preocupante, pois se o técnico holandês se queixava de, com jogos de três em três dias, ter falta de tempo para implementar as suas ideias, a verdade é que em das semanas de total concentração competitiva nos jogos do campeonato, o sumo desta toranja é pouco, incluindo nas bolas paradas.

Dá que pensar, por exemplo, o facto de sermos incapazes de aproveitar um dos 14 cantos que tivemos a nosso favor e que podiam ajudar a desbloquear um jogo onde o Santa Clara, completamente descansado na tabela, demorou cerca de 35 minutos a querer passar do meio-campo e congestionando completamente o corredor central para impedir que a bola chegasse a Bruno Fernandes e a Wendel. Restava dar largura ao jogo, tarefa em que Ristovski servia de muleta ao melhor em campo, Raphinha, para tentar sacudir o autocarro açoreano. Dost, a viver uma verdadeira crise de identidade, procurava desesperadamente fazer-se a toda e a qualquer bola, mas a fome com que procura regressar aos golos tolda-lhe o último momento. Tal como a equipa, no seu conjunto, mostrava pouca inteligência no último passe e acumulava cruzamentos de toda a forma e feitio, como que acreditando que de um haveria de nascer um golo.

Não nasceu e, ao intervalo, a única certeza era a de que, se relegar Doumbia para o banco e voltar a colocar Gudelj a titular, Keizer merece ser despedido.

Raphinha ameaçou assim que a segunda parte começou, obrigando Marco, provavelmente o redes com menos pinta do campeonato, a uma boa defesa e, na resposta, o Santa Clara teve oportunidade de ouro para marcar: na sequência de um lançamento de linha lateral, a bola fica perdida na marca de penalti, mesmo a jeito de Chrien a meter lá dentro. Valeram as costas de Ristovski a fazer um corte à futsal.

E de lançamento em lançamento, a bola chegou a Acuña, entretanto já lateral esquerdo para a entrada de Diaby. O “ovo” viu Bruno Fernandes esquecido lá bem à frente e juntou todas as suas forças num lançamento de vários metros que desmarcou o camisola 8. o resto foi pura classe, tanto no passe de trivela de Fernandes como na finalização de Raphinha. O golo, finalmente!

E valia mais o jogo ter terminado aí, pois o que se seguiu foi ficando bem mais frio do que uma noite onde meia casa de resistentes, entre eles muitas crianças, mereciam ver bem mais. Os pequenos, entre acenos ao Jubas e uma guloseima, lá deram a noite por bem empregue. Os mais velhos, cansados de ver tão pouco, têm bom remédio. Regressam ao início do texto e acreditam em Zandinga.

putos em alvalade