Várias vezes, apontei os erros de comunicação do mandato de Bruno de Carvalho. Não vou revisitar esse “dossier”, mas relembro a velha questão da “forma e conteúdo” e do muito que tantos concordaram em discordar que era de facto importante a escolha do timing, o meio, o interlocutor e o estilo escolhido para comunicar.

Apesar de não considerar uma falha fundamental no anterior mandato, infelizmente outros erros pagaram-se mais caros, desajudou brutalmente a imagem que ficou estabelecida do próprio presidente como um belicoso destemperado e equívoco dirigente, incapaz de encaixar na arte de um cinismo político que é o modo survival essencial para quem não obtém conquistas constantes e significativas.

Ora bem, o CD que se lhe seguiu está a fazer tudo ao contrário, passando de um absurdo 80 para um pobre 8. Vejo que entenderam o erro e nas últimas semanas corrigiram a mira e há de facto mais actos de comunicação, há de facto mais vontade em não deixar as polémicas rebentar nas paredes de Alvalade, há de facto a preocupação com a erosão provocada por silêncios que não beneficiam ninguém. Não sei se é uma linha para continuar a ser desenvolvida e melhorada, mas temo que não, que uma vez volvidos alguns assuntos considerados “extraordinários”, voltemos à tal “gestão silenciosa”, a tal linha que serve a evidência que Varandas não é Bruno de Carvalho.

O que tem escapado espetacularmente a quem aconselha Varandas no capítulo da comunicação é a necessidade absoluta de transformar este CD numa outra coisa aos olhos de grande margem dos associados e adeptos do nosso clube. Os rótulos de “incapazes”, “desconfiados”, “hesitantes”, “impreparados”, “autistas” ou “arrogantes” têm aderido à imagem destes dirigentes com um sucesso crescente. Alguns estarão baseados em factos, outros em preconceito, alguns poderão até ser injustos, mas de uma coisa tenho a certeza, sem melhorias sobretudo no futebol tenderão a ser os alicerces onde serão construídos os aríetes que podem vir a derrubar ao seu mandato.

Será essencial preocuparem-se com isso? Será importante mostrar que são considerações injustas? É importante que mudem o registo com que “falam de e com o clube”? Respondo eu, talvez por muitos outros, sim. E acrescento, é urgente.

Varandas e quem o acompanha, tem de entender definitivamente uma coisa – ser líder do Sporting não é só fazer boas escolhas, dar estabilidade ou procurar competência nas várias áreas com que se dirige um clube ou uma SAD. É também inspirar os sócios, motivar os adeptos, transmitir o carisma necessário a toda uma massa adepta que o elemento com mais poder, saberá comandar cada um de nós em direção ao melhor futuro para o clube.

Acima de tudo há imensas feridas abertas nos adeptos, graves, profundas, que não podem ser deixadas a cicatrizar por si mesmas. Por muito que custe ao entendimento de LPM’s e afins, a insatisfação e a não aceitação deste CD como legítimo é a causa de uma jogada macro-política feia, repleta de gestos e pactos velados, que deixaram milhares de associados órfãos de aquilo que queriam ver continuado no seu clube. Tornaram-se sócios de 2ª categoria? Proscritos? Desprezáveis e desprezíveis? Não foi isso que tanto chocou e “levantou” tantos sócios contra Bruno de Carvalho? Se querem ou desejam ser e fazer melhor que o presidente que se uniram para derrubar, comecem – minha sugestão – por estarem atentos ao que agrada a estes sócios e adeptos.

A leitura mais primária de quem parece estar a ajudar este CD a gerir a sua linha de comunicação é que o clube é composto por facções e basta agradar às que possuem a maioria dos votos, para sustentar um mandato. Ou seja, basta agradar aquela porção de associados com a grande margem dos votos, sócios que privilegiam a “tranquilidade”, o “bom nome”, o “saber estar”, a “estabilidade”, as “boas contas”, a “boa relação” com a imprensa e com outras “instituições”. Eu acho manifestamente equívoca esta “segurança” de Varandas e um desperdiçar impressionante das alas mais ativas, mais interventivas e aguerridas de sócios. É como se passássemos de um clube de combate para um salão de chá, rasgando e deitando fora a utilidade de um meio-termo, tão mais aproveitador como necessário para sobreviver no futebol português.

Esta “demanda” pela inversão do que é e como se relaciona um clube com tudo ao seu redor, serve um propósito que acho mesquinho e desconsiderador do papel e da inteligência dos sócios. Ao tentar enterrar a “via popular” debaixo das provas forenses dos equívocos de Bruno de Carvalho, Varandas prepara-se para ferir de morte não a própria figura presidenciável de Bruno, mas sim toda a incrível força e vontade de lutar de muitos sócios que se reviam numa perspetiva de um Sporting farto de ser secundarizado, enganado, roubado, gozado e menosprezado pelo tal “sistema” do futebol português. É uma estupidez tão grande, que terá graves consequências, tão grandes como abrir uma cisão que pode resultar em última análise, na criação ou separação da força do nosso emblema.

Não vou ser hipócrita e deixem que vos diga que sou totalmente contra todos aqueles que fazem vida, minuto atrás de minuto, hora atrás de hora, a distorcer, a desinformar, a intoxicar as várias comunidades leoninas contra este CD. Movidos por vingança, ódio e apetites destruidores, trabalham arduamente para fazer cair uma direção. É esse o papel de um sócio ou adepto? Não foi isso que tantos de nós nos insurgimos quando BdC era presidente? Qual é a coerência de fazer exactamente exactamente aquilo que criticamos? Qual é o grande proveito que terá a falência do mandato de Varandas? Quem sairá vitorioso e feliz sobre as cinzas de mais um falhanço directivo do nosso clube?

Nesta sucessão de “vinganças”, todas elas óbvias e sagradas para quem defende cada lado, quem acaba mais ferido é o próprio clube, vítima de uma incapacidade crónica de encontrar a força dos seus adeptos. Vítima acima de tudo de uma incapacidade para conseguir amar o clube e não os seus dirigentes. Em amar a equipa e não os seus treinadores. Em amar o emblema e não a sua posição na tabela. É neste jogo de incompreensões que se torna errada toda a linha “pacifista” e “mecânica” de Varandas. Errada porque falha no seu objetivo primordial – assumir-se como uma teia inteligente de argumentos (orgulho, defesa, combate, agregação, semelhança) que motivam e aproximam os sócios. Há milhões de anos que a espécie humana entendeu que a forma mais fácil de sobreviver e prosperar é estabelecendo, em grupo, as mesmas prioridades e as atenção às maiores necessidades.

Será assim tão fácil deitar por terra a herança, que todos os outros sportinguistas que vieram antes de nós, construíram? Do presidente ao adepto, estamos todos a fazer o melhor pelo Sporting?

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca