Este fim de semana o futebol das meninas, raparigas e mulheres do Sporting apenas competiu no escalão juvenil.

Às 11h do sábado, no Campo nº 6 do Estádio Universitário de Lisboa as leoas receberam e venceram as jovens do Malveira por 5-0, em jogo a contar para a 3ª Jornada da fase de Apuramento de Campeão Distrital da AF Lisboa, na categoria de juvenis sub17 de Futebol de 7 Feminino. Os golos das Leoas, que lideram isoladas o Campeonato, foram apontados por Marisa Paulo (defesa, 16anos), Nádia Bravo(defesa,14 anos), Marta Galvão (defesa, 15 anos), Marta Melão (defesa, 14 anos) e Andreia Bravo (meio-campo, 13 anos) (sendo que as “posições” se tornam muito relativas em futebol de 7 e dizem mais respeito ao contexto em que treinam).

A não existência de outros jogos deve-se ao facto de este fim de semana haver meias-finais da Taça de Portugal (onde, como é óbvio, jogaram 4 equipas, mas que interrompeu 3 competições: os campeonatos nacionais da 1ª e 2ª divisão seniores e o de juniores sub19). A equipa de Infantis, “folgou” este fim-de-semana porque o seu adversário, o Encarnaçõ e Olivais, desistiu da competição.

Todavia, a existência de um Torneio de Elite sub17 em que participou a nossa selecção, não foi suficiente para “interromper” as competições distritais nesse escalão. Enfim, mais uma bizarria da nossa Federação.

A propósito desse Torneio, Portugal venceu por 1-0 a República Checa (desculpem mas não resisto: o tal país que tem enorme tradição no Futebol Feminino). Foram titulares nesse jogo as leoas Alicia Correia, Bárbara Lopes e Andreia Jacinto (esta com a assistência de pura classe para o golo) e a Marta “Peyroteo” Ferreira entrou já no decurso da segunda parte.

E, a propósito da Taça de Portugal, não posso deixar de assinalar que um dos jogos das meias-finais opôs, em “final antecipada” Benfica a Braga e nos 2 onzes iniciais havia 5 portuguesas: o Benfica alinhou com 1 portuguesa, 1 cabo verdiana e 9 brasileiras; o Braga, alinhou com 4 portuguesas, 2 norte americanas, 2 brasileiras, 1 canadiana, 1 nigeriana e 1 camaronesa. Se fosse a final, teríamos metade das jogadoras brasileiras a disputar a Taça de … Portugal!!!

Mas, nesta rubrica de hoje, quero dedicar um espaço para outro assunto, também merecedor de reflexão.

No decurso desta semana, foi firmado um acordo de parceria a 3 anos entre a FA (Football Association, a entidade reguladora do Futebol em Inglaterra) e o Banco Barclays: esse acordo envolve 10M£ (equivalente a 11,6M€) e terá início já na próxima época de 2019/2020. Em linhas gerais, o que contempla esse acordo?

Em primeiro lugar, nos próximos 3 anos, a Women’s Super League, a única Liga de Futebol Feminino integralmente profissional, passará a designar-se Barclays FA Women’s Super League. A instituição bancária financiará um prémio total de 500.000£ (580.000€) que será distribuído de acordo com o posicicionamento final das equipas na Liga.
A parceria também se estende à cooperação entre o Barclays e a FA em iniciativas que visam promover as bases de crescimento do futebol femnino na Grã-Bretanha, usando o estatuto de liderança doFA Girls’ Football Schools Patnerhsips, projecto nacional de desenvolvimento do acesso das raparigas ao futebol a nível escolar.

O C.E.O. do Barclays, Jes Staley afirmou, a propósito desta parceria: ” O nosso (Barclays) empenho para o futebol das mulheres e raparigas, num momento crucial do seu desnvolvimento, vai muito além do simples patrocín; acreditamos que ele poderá ser um elemento chave para aumentar a participação, o crescimento e a visibilidade do Futebol Feminino”.

Ora chamo a atenção de que um acordo para a sponsorização de uma Liga Profissional que envolve 10M£ em 3 anos, apenas gastará 1,5M£ (15% do bolo) em prémios directamente para os Clubes, os outros 85% são para desenvolver o crescimento e a visibilidade do Futebol Feminino, com particular enfoque no Futebol de Formação e, particularmente ao nível do Desporto Escolar.

A nossa FPF, que é quem tem a seu cargo as competições nacionais do Futebol Feminino, não esclarece quanto do seu principesco Orçamento é dedicado à Modalidade neste Género, nem sequer divulga os contornos da sponsorização do BPI à Liga Principal (tal como não esclareceu no passado os da sponsorização da Allianz). A Federação deveria ter uma rubrica para o desenvolvimento do Futebol Feminino, mas se tem não diz quanto é. E só ficamos a saber que vai receber mais 150.000€ por ano da UEFA, por notícia da Soccerex, que isto da transparência no Futebol é para os Clube não é para a Federação ou as Associações.

Entretanto, a Seleccção principal Masculina joga mais duas partidas no Estádio FPF (que é como proponho se passe a designar a lixeira a céu aberto da Luz, pois 16 utilizações pela selecção principal em 10 anos e com pagamentos extra, pela “porta do cavalo”, já devia dar direito a naming no Estádio). Qual Emirates, qual o quê! O maior patrocinador do toupeirame é Fernando Gomes! Reparem que, também aqui, a “transparência” é opaca: só se soube dos pagamentos extra, através do blogue Mercado de Benfica. E ainda há quem queira criminalizar os Ruis Pintos deste nosso burgo.

Uma Federação que tem enchido os bolsos à custa de 2 gerações consecutivas de jogadores maioritariamente formados no nosso Clube, continua a só investir migalhas no desenvolvimento, formação, credibilização e visibildade do Futebol.

Mas, sejamos claros: quem tem telhados de vidro não pode atirar pedras. E a Sporting SAD, desde que formou a equipa profissional feminina também tem sido muito pouco transparente. Não consta nos R&C e nos balanços da SAD, ou sequer nas Contas Consolidadas do Universo Sporting, qualquer referência ao Futebol Feminino. Ora, a equipa principal é profissional, logo, tem custos, e este deveriam estar reflectidos nos R&C, como estão os do Plantel Masculino Senior (profissional). Temos (os sócios do Clube, mesmo os que não são da SAD e os sócios da SAD) o direito de saber quanto se investe e quais as recitas em cada ano no Futebol Feminino, com a descriminação de todas as transacções de activos, tal como sucede com no Futebol Masculino.

Essa transparência deveria ser promovida pelo Clube, comunicada à CMVM e exigir igual cumprimento da parte de outros Clubes que tenham SADs e Futebol Feminino. É a forma de poder vir a aplicar regras de “fair-play” financeiro. Porque elas também virão a ser implementadas na UEFA para o Futebol Feminino. Não se iludam. A notícia da parceria Barclays/FA estará, seguramente, a ser atentamente seguida em paíse como Espanha, França, Alemanha e Itália. E, estou certo que haverá, bem mais cedo do que alguns pensam, novidades nas competições desses países. Porque o impacto de um Atletico de Madrid – Barça em Futebol Feminino que coloca mais de 60.000 espectadores no Wanda Metropolitano, novo estádio do Atlético, não deixará de alertar os potencias sponsors e pstrocinadores (e as televisões) para o novo filão que está à sua disposição.

Por cá, continuamos a olhar para o lado, a assobiar, a fechar os olhos, os ouvidos e a boca. Ao contrário do que se possa pensar, não é a “liberalização” da industria que a vai fazer crescer em Portugal. Exactamente porque ela, por cá, ainda está numa fase muito gestacional do seu desenvolvimento, precisa de regulação criteriosa e de “suporte básico de vida”. Equipas com 10 ou 7 estrangeiras no seu 11 base, nesta fase do Futebol Feminino vão ajudara a crescer a modalidade? Associações Distritais como a de Lisboa ou a do Porto, sem quadro competitivo feminino para os escalões de sub13 e sub 15, estão a ajudar a crescer a Modalidade? Uma Federação e um Ministério da Educação que ainda não apresentaram um programa conjunto de promoção e incentivo ao Futebol Feminino nas Escolas estão a ajudar o desenvolvimento da indústria?

Questões como: a limitação do número de estrangeiras inscritas por clube; a coordenação na escolha de horários para que determinados jogos possam ser jogados em grandes palcos (Alvalade, Luz, Pedreira, Estoril) não colidindo com o uso desses palcos pelo Futebol Masculino; o investimento para aumentar a participação, o crescimento e a visibilidade do Futebol Feminino; a procura de sponsors mais proactivos; o investimento Federativo e Associativo na Formação (começando por incentivar o Futebol feminino no Desporto Escolar e passando pela criação de competições distritais nos escalões sub13 e sub 15, desde logo nas AF do Porto e de Lisboa a exemplo do que já faz a de Braga, ou ainda por promover torneios futebol 7 que congreguem equipas femininas de Distritos onde não haja competição nos escalões mais jovens), e outras questões relevantes para a defesa do crescimento sustentado da Modalidade, deveriam estar na ordem do dia do debate sobre o futuro do Futebol Feminino em Portugal.

O problema é que não existe esse debate e ninguém parece estar interessado em promovê-lo. O Sporting poderia (e na minha opinião deveria) ser o motor de arranque desse debate, até chamando a si os outros Clubes que saem mais prejudicados pelo regabofe “liberalizante” em que nos encontramos.

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino