EscravosO fim de semana contou com duas vitórias das nossas equipas. Todas as vitórias são importantes, mas há umas mais importantes que outras. Estas duas foram críticas porque marcarão, certamente, o futuro que aí se avizinha. Não ter conseguido estas conquistas era dar razões à mente para acreditar que não iríamos atingir os nossos objetivos.

Estas vitórias, à Sporting, foram como uma libertação. Estávamos, todos, um quanto ao tanto amarrados ao que a época nos foi trazendo ultimamente e isso podia, porventura, condicionar.

Vi, neste fim de semana, uma escultura fantástica que me lembrou imediatamente do voleibol do Sporting. Estas duas vitórias ainda reforçaram mais a minha “visão”. Quando entramos na Galleria dell’Accademia, viramos para a sala à nossa esquerda e deparamo-nos, lá ao fundinho da sala, numa das mais belas obras de arte feitas pelo Homem – David, de MichelAngelo. É, a par de outras obras, um cliché ir a Florença e querer ver a escultura. Todos o fazem e eu também (vale cada segundo de admiração).

Ao percorrer a sala, vamo-nos deparando com esculturas, do mesmo autor, que estão inacabadas. MichelAngelo dizia que “tudo o que a mão do escultor pode fazer, é quebrar o feitiço e libertar as figuras que dormem dentro da pedra”. Basicamente, ele achava que a pedra já sabia a sua finalidade, e cabia-lhe a ele, libertá-la. É precisamente aí que está a metáfora com as nossas equipas. A escultura da foto não está inacabada, prefiro pensar que ainda não está completamente libertada. Reparem que já se veem os músculos, as pernas estão a soltar-se, mas continua com aquele pedaço enorme de pedra nas costas.

As nossas equipas venceram e isso faz-nos olhar para o futuro com outros olhos. A equipa masculina vem de uma derrota inesperada com a AJ Fonte Bastardo e chegou a este Domingo e venceu, como tinha de ser, o Sporting Clube de Espinho por 3-1 (25-23; 15-25; 27-25; 25-21). Ganhámos mais um jogador, o reforço Jordan Richards, que jogou muito bem. Arrisco-me a dizer mais um nome para destacar – Hernan. O Miguel Maia continua com umas mãos de escultor, contudo será vital ter o Hernan em forma, se queremos ambicionar vencer o campeonato deste ano. Se quiser pôr um nome no homem que se liberta da pedra, na foto, podia ser Hernan. Ele está a fazer tudo para estar em forma para as finais.

Esta equipa tem qualidade, tem capacidade para ser campeã e, não tenho qualquer dúvida, que tem a vontade necessária para o conseguir. Vamos vencer o Sporting Clube de Espinho em 3 jogos (a eliminatória é à melhor de 5 jogo) e conseguir recuperar os lesionados e a confiança. Tudo o resto tem um check.

Já agora, vou citar a minha avó quando eu lhe chamo “velhota”: “Oh filho, velhos são os trapos e a **** do vizinho”.

Certo é que MichelAngelo também podia estar a pensar na equipa feminina quando deixou a escultura dos “escravos” por concluir. As meninas terminaram o campeonato com duas derrotas com o principal adversário à subida – CD Aves. Claro que isto abala a confiança, por muito que esta se possa traduzir num Q de raiva e superação.

Estão a ver a pedra por cima do ombro direito da escultura? Nesta equipa feminina, já se vê uma ranhura por onde se soltará esse peso enorme.

Acabou assim: Serviço da jogadora do CD Aves, receção da Fernanda e a Sara sobe a bola para a zona 6, colocando-a na mesma jogadora. A Fernanda ataca com brilhantismo para o fundo de campo. Foi assim o último ponto do jogo. Contudo, houve um ponto extra, aquele que se seguiu ao ataque da Fernanda. Vou-vos descrever agora o bonito momento do festejo.

Assim que a bola toca no chão, a Kate (que craque!) levanta os dois braços de satisfação e sorri muito, ao mesmo tempo que a Matilde cerra o punho direito e manda um berro de alegria que se ouvia em todo o pavilhão. Sem querer saber o destino, a Mariana corre, festejando, por alguns segundos sozinha, esta conquista. A Sara, que jogão, parecia que estava a dizer aquele “siiiiiiiiii” do Ronaldo, quando viu o seu passe ajudar ao nosso 25 ponto. Das que estavam em campo, ainda falta a Fernanda e a Dalliane. Que abraço foi aquele, meninas? A Fernanda, depois do ponto, fica uns segundos no chão porque, na verdade, deu tudo o que tinha naquele ataque. Quase que vi toda a época naquele remate da Fernanda. E, por fim, a imagem da Dalliane a levantar a Fernanda, pegando-a ao colo e festejar. Isto já seria bonito em qualquer circunstância, no entanto, se colocas uma camisola do Sporting, 2 derrotas contra a equipa adversária e uma fase decisiva do campeonato, torna tudo arrepiante.

E o resto da equipa? A Bárbara, no banco, levanta-se assim que a Sara faz o passe, prevendo o desfecho. Ela sabia! Depois o sprint de todas as jogadoras para formarem uma só equipa no grito de guerra. Na verdade, isto só visto mesmo porque contado ninguém acredita.

Uma vitória importante por 3-1 (29-27; 25-23; 18-25; 25-12), com um plus de libertação daquele peso que atormentava e podia pesar.

É por isso que gosto tanto de escultura. As pedras falam e vão dizendo coisas diferentes a pessoas diferentes. Este fim de semana, esta escultura do génio MichelAngelo disse-me que se inspirou nas nossas equipas para deixar esta sua obra inacabada. Vamos a caminho da Master Piece.

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)