No regresso das mini-férias, o Sporting foi a Chaves complicar um jogo que cedo pareceu ter na mão, mas acabou a escalar um lugar na classificação e a ganhar um boost de confiança para o dérbi da próxima quarta-feira onde joga o último objectivo da época

Não deve ser fácil ver passar as semanas e sentir que aquele sonho de chegar a um clube grande e marcar golos caminha para transformar-se numa foto para a caderneta dos flops que vestiram a camisola do Sporting. Não admira, por isso, que Luiz Phellype tenha chegado ao final da partida de ontem e tenha soltado um “foi um peso que saiu das costas”.

Goleador na segunda liga, o brasileiro chegou a Alvalade no mercado de inverno com a tarefa de oferecer soluções a uma equipa demasiado dependente de Bas Dost. Se pensarmos que o goleador holandês vive uma tremenda crise de confiança e está animicamente na merda e que a direcção decidiu despachar Montero para poupar em ordenados, então a responsabilidade do camisola 29 aumentou ainda mais. E na primeira oportunidade que teve de ser titular, há 15 dias, no Bessa, Luiz Phellype conseguiu falhar um golo a meio metro da baliza, fazendo com que os sobrolhos se contorcessem ainda mais ao escutar o seu nome.

Ontem, tudo mudou, nomeadamente aos 24′, quando empurrou para o fundo da baliza um belo desenho colectivo com assinatura mais relevante de Bruno Fernandes e de Ristovsky. Luiz respirava de alívio e o Sporting materializava em golos um início onde foi dono e senhor de uma partida para a qual José Mota, esse experiente camionista, trouxe um reboque duplo. Face aos 11 flavientes enfiados no meio-campo, o Sporting ia girando a bola de pé para pé e atirava pela primeira vez à baliza por intermédio de Gudelj, esse verdadeiro fetiche de Marcel Keizer que voltou a relegar para o banco o jovem Doumbia. Na sequência da defesa e do canto, Luiz Phellype teve primeiro ensaio, de cabeça, antes do tal festejo de que já vos falei.

Curiosamente, ou talvez não, por ser algo repetido há anos, o golo teve o condão de abrandar a velocidade de um jogo onde as alas leoninas mal se viam. E, até ao intervalo, nota apenas para um remate de Wendel, à entrada da área, e para um enormíssimo corte de Coates a evitar que o avançado do Chaves pudesse empatar a partida.

Quando, aos seis minutos do segundo tempo, o médio transmontano, Jefferson, deu mais uma das várias porradas e viu o segundo cartão amarelo, tudo parecia encaminhado para uma vitória tranquila do Sporting. O problema é que a pasmaceira que se vinha acentuando após o golo, acentuou-se e o Chaves, mesmo reduzido a dez, teve duas mãos cheias de minutos onde mandou no jogo. O aviso surgiu por Campi, defesa-central, o castigo surgiu por André Luís, desviando com categoria à saída de Renan.

Keizer olhou para o banco e procurou os menos afectados pelo jet lag das viagens que assinalaram os quatro dias de descanso. Lançou Doumbia para o lugar de Gudelj, depois lançou Jovane para o lugar de Borja, voltando a descer Acuña para a esquerda da defesa. O jovem extremo agitou o jogo e o Sporting haveria de conseguir voltar a adiantar-se no marcador à passagem dos 80 minutos, num golo de belo efeito de Bruno Fernandes, respondendo de primeira a um cruzamento de Acuña.

Depois veio o festival Mota. Não do treinador, mas sim do árbitro, esse nosso velho conhecido. No espaço de um minuto, marcou falta sobre Raphinha e expulsou Maras, foi consultar o vídeo-árbitro, reverteu a decisão e mostrou vermelho directo a Ristovsky por uma falta que nem para amarelo seria. Com quase 15 minutos para jogar, fruto de longa e necessária compensação, as equipas estavam novamente em igualdade numérica e a incerteza voltava a sentir-se até Luiz Phellype aproveitar uma bela abertura de Jovane e, com toda a calma, fazer o 1-3 que permitiu a Keizer surgir na flash interview com ar mais aliviado e com o recorrente «Podemos jogar melhor do que isto».

Não só podem, como devem. Porque se há tempo para mini-férias é porque os processos estão cimentados. E porque será obrigatório fazer bem mais na quarta-feira, frente ao benfic@, na segunda mão da meia final da Taça de Portugal.