Surpreendente prova de maturidade de um Sporting que se viu reduzido a dez logo aos quatro minutos, mas que soube reagrupar-se e merecer uma vitória conquistada pela força de um grupo e pela inequívoca qualidade de alguns artistas

A azia desgraçada com que eu fiquei quando vejo o Mathieu e o Renan terem uma paragem celebrar em simultâneo, só podia ser superada pela decisão daquele que é um dos árbitros que mais questão faz de decidir contra o Sporting: Artur Soares Dias. Aos quatro minutos, só porque sim, o árbitro que se diz ser o melhor cá do burgo (o que diz muito sobre os árbitros cá do burgo), achou que devia mostrar vermelho a Renan por ele: 1. ter derrubado um jogador que jamais esteve enquadrado com a baliza; 2. ter derrubado um jogador quando entre eles e a baliza estava Coates.

Veio Salin e saiu o pobre Jovane. E eu fiquei ainda mais lixado, porque senti que num jogo que pouco ou nada contava para as nossas contas finais, o caminho era tirar Gudelj ou Wendel e manter a armada ofensiva. A estratégia de Keizer resultaria e eu, sorridente, meteria a viola no saco e batia as minhas palmas ao técnico que as mereceu pelo que fez ontem. E, já agora, tão grandes ou maiores para o jovem Jovane que, ao respirar fundo e trocar a frustração pelo estar ao lado da equipa até ao final, no banco, deu uma prova de maturidade fora de campo consentânea com a que os seus colegas deram dentro dele.

Mesmo tendo em conta que os 21 remates que o Aves fez estabeleceram um novo recorde de um adversário frente ao Sporting, esta época, há que dizer que apenas cinco deles foram enquadrados. E que o Sporting, mesmo a jogar com dez, fez 8 remates enquadrados em 13 tentativas. Chama-se a isto qualidade. E, sim, o Sporting tem tanta mais qualidade que, mesmo a jogar um jogo inteiro com um a menos, teve a mesma posse de bola (50/50), fez menos faltas (19/10), ganhou mais duelos (58/59) e, claro, marcou mais golos.

O primeiro surgiu aos 24 minutos, por Luiz Phellype, rapaz que picou o ponto no único disparo que fez à baliza aumentando uma estatística muito interessante: dos 5 últimos remates que Luiz Phellype fez à baliza, na Liga, 4 resultaram em golo. Assinalável, tal como o cruzamento perfeito de Acuña, um dos melhores em campo e claramente um jogador muito acima da média, que ia combinando com Bruno Fernandes e fazendo com que, em posse, o Sporting não desse sinais de estar em inferioridade.

Mas ser do Sporting é ter sempre uma surpresa à esquina e foi de uma delas que apareceu outra vez aquele boneco das correrias, o Luquinhas, a arrancar pela área até o Salin o abalroar, fazendo penalti. Pimba, empate, e só não foi pior porque as regras mudaram e não permitem dupla penalização, safando-nos de ter outro guarda redes expulso e ter que pedir a um qualquer jogador de campo para calçar as luvas durante sessenta minutos.

O Sporting continua a saber o que fazer com a bola (e na primeira parte teve 67% de posse), mas seria de uma parada, mesmo em cima do intervalo, que surgiria a redenção de Mathieu: jogada ensaiada para a cabeça de Coates, este amortece para o remate pateta de Wendel, mas a bola encaminha-se em direcção ao central francês que a empurrar lá para dentro.

Ao intervalo, Inácio arriscou e trocou Ponck por Varela, abdicando da linha de cinco defesas e lançando mais uma “gazela” lá na frente. O Leão, esperto, em vez de correr atrás delas, baixou as linhas de pressão e passou a ser cínico, criando as duas melhores oportunidades de golo do segundo tempo através de rápidas saídas em contra golpe, desperdiçadas por Acuña (48′) e Raphinha (60′). Doumbia entrava para o lugar de Gudelj e empurrava Wendel para uma ponta final em crescendo, além de dar uma pantufada em Luquinha que levou a muita berraria e pedidos de expulsão.

E quando o jogo estava estagnado, lá apareceu aquele gajo que é, só, o actual segundo melhor jogador português, logo a seguir a Cristiano Ronaldo: Bruno Fernandes. O camisola 8 resolveu igualar o máximo de golos marcados por um médio, numa única época, num campeonato europeu, mas fê-lo como ainda não o tínhamos visto fazer: com uma cabeçada à ponta de lança, colocando um ponto final no jogo e ainda sendo brindado com uma chapadinha por parte de uma adepta do Aves que, se tivesse batido numa carinha mais imberbe, por certo teria passado a noite na esquadra, recordando a noite chuvosa em que o Sporting mostrou que, aos poucos, vai cimentando processos menos espectaculares e goleadores, mas mais seguros e apostados em aprender a defender antes de tentar regressar à vertigem ofensiva.