Ponto prévio: este post não pretende colocar em causa o Sportinguismo de Sousa Cintra. Acredito, muito sinceramente, que Sousa Cintra gosta genuinamente do Sporting e que, na sua cabeça, o que fez durante os três meses que esteve à frente do clube faz todo o sentido.

O que está em causa é achar-se que tanta merda que foi feita pode limpar-se ou disfarçar-se com um “Não vale a pena entrarmos em detalhes, porque isso levaria muito tempo e muita conversa tinha de haver. O que eu fiz, em consciência, foi o melhor que pude, atendendo às circunstâncias que existiam”.

Foi assim que Cintra respondeu, quando lhe pediram uma explicação para os mais de 17 milhões de euros gastos nos três meses à frente do Clube de Portugal.

Entre transferências e “resgates”, os 17,3 milhões de euros resultam das despesas diretas com os regressos de Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia, após terem rescindido, e das contratações de Diaby, Gudelj e Nani e até com a venda de Piccini, que implicou o pagamento de uma comissão à mesma empresa (Socas) que depois intermediou a aquisição de Nani e à qual a SAD leonina deve 1,1 milhões de euros.

Muito boa gente já aproveitou para voltar a justificar a saída de Nani por aquilo que ganhava (oito milhões por um contrato de dois anos), mas eu continuo a achar que o problema não é querer contratar um Nani, antes em carregar uma folha salarial com um Diaby, que custou 4,5 ME aos quais juntou uma comissão de 1,1 milhões de euros com o Stellar Group.

Ao mediano, perdão, ao maliano, junta-se o sérvio Gudelj, verdadeiro negócio capaz de causar horror: o Sporting pagou três milhões de euros pelo empréstimo, verba onde ficou incluído uma percentagem do salário que o médio auferia nos chineses do Ghuangzhou (2,8 milhões de euros líquidos por época, o que antes de impostos em Portugal, equivaleria a 5,6 milhões de euros).

Isto, sim, é inacreditável. Tão ou mais inacreditável como pagar dois milhões em comissões e prémios para fazer regressar Batagglia, com a agravante de ainda lhe aumentar o ordenado para três milhões. Estaria Cintra crente de que conseguirá vendê-lo por 40 milhões?

Depois, o resgate de Bruno Fernandes e Bas Dost. Ultrapassada a questão de que eu, se mandasse alguma coisa, não teria tentado recuperar nenhum deles, consigo compreender a perspectiva de estarmos perante mais valias futebolísticas. Claro que isto teve custos: 1,6 milhões (que ainda não foram pagos) para o empresário de Bruno Fernandes; dois milhões de euros em comissões/prémios para Bas Dost e um disparar do ordenado dos cerca de 2,8 para os 5 milhões brutos por época. E o Nani é que era caro…

Conforme já escrevi acima, Sousa Cintra, que presidia a Comissão de Gestão antes da entrada de Frederico Varandas, defende-se, explicando que fez tudo em defesa dos interesses do clube, mas existem perguntas que, algum dia, ele deverá ser obrigado a responder, de preferência numa AG, cara a cara com os sócios que não compreendem, por exemplo:
– como se pode gastar este dinheiro em três meses, num clube que se dizia com necessidade de apertar o cinto?
– porque se dispensa Matheus Pereira para investir balúrdios num Diaby?
– porque foram dispensados Francisco Geraldes e Palhinha, para investir balúrdios num Gudelj?
– quanto nos custou, efectivamente, a brincadeira Sturaro?
– como é que se dispensa um jogador como Demiral, oferecendo-o de mão beijada por 3,5 milhões, quando estava à vista de todos a sua mais valia desportiva e financeira?
– como é que Domingos Duarte voltou a ser emprestado?
– como é que se gasta 1,5 milhões para ir buscar Renan, quando existe um Max para apostar?
– porque é que, com tanto dinheiro para esbanjar, não sobrou uma migalha que fosse para investir no futebol feminino na defesa de todos os títulos conquistados e rumo a mais um passo na afirmação europeia?

“Não vale a pena entrarmos em detalhes, porque isso levaria muito tempo e muita conversa tinha de haver. O que eu fiz, em consciência, foi o melhor que pude, atendendo às circunstâncias que existiam”.

Não vale a pena o caralho, ó Cintra! Sim, tem que haver muita conversa, porque isto não basta dizer que fizeste o melhor que pudeste quando está a vista de todos que não foi isso que se passou!