Acabando a época existem temas que eu considero interessantes, mas que durante uma época desportiva não são pertinentes explorar. Nos nossos tempos preocupamo-nos sempre muito em ter opiniões, no entanto preocupamo-nos pouco em fazer perguntas.

O que é que representa o voleibol em Portugal? Há muitos praticantes? Os jovens aderem à modalidade? O que tem o Sporting a ganhar com o voleibol? Só interessa ser campeão nacional de seniores? Que caminho estamos a seguir? Porque é que a localidade de Fiães tem um dos melhores pavilhões para a prática do voleibol?

Em resumo, vamos situar-nos.

Para conhecer um pouco melhor do mundo voleibol e do que ele representa, trouxe-vos 5 indicadores. Estes vão contextualizar o voleibol no panorama nacional, percebendo o potencial da modalidade. Com isto, perceberemos a importância que existe em ter um Sporting forte. Não só vencendo campeonatos, mas tendo uma estrutura desportiva e formadora.

1. Voleibol é a 4ª modalidade com mais federados em Portugal (Fonte: Pordata, 2017)
Em primeiro lugar, destacado, surge o futebol com 176.349 atletas, seguido da natação e andebol com 65.499 e 49.812 praticantes, respetivamente. Com 44.208 federados surge o voleibol na 4ª posição, de entre 70 modalidades contabilizadas. Por mera curiosidade, das 4 modalidades referidas, apenas o Andebol tem vindo a perder atletas de 2014 a 2017, último ano analisado pela Pordata.
O Sporting percebeu isto, reabrindo a modalidade na época passada. Termos sido campeões ajudou a colocar o clube a ganhar competitividade no panorama voleibolístico e credibilidade no mundo leonino.

2. Esquema organizativo do voleibol em Portugal
A Federação Portuguesa de Voleibol organiza as suas atividades por Associações, escalões etários e divisões. Na verdade, muito idêntico ao futebol. No que respeita a Associações são 18 (16 + 2), não sendo pertinente esmiuçá-las. Os escalões etários são 8 segmentos: Mini, Infantis, Iniciados, Cadetes, Juvenis, Juniores, Seniores e Veteranos. No escalão sénior, os campeonatos dividem-se em 3 divisões. A nossa equipa masculina entrou diretamente para a 1ª divisão, mas a nossa equipa feminina percorreu todas as divisões atingindo este ano o topo das divisões competitivas.

O Sporting tem ambas as equipas seniores na primeira divisão. Ao nível da formação, esta está exclusivamente nas meninas, onde apresentamos equipas no escalão de mini, iniciadas, juvenis e juniores. No final do mês de janeiro, deste ano, o capitão Miguel Maia garantia ao jornal Sporting que o clube ia apostar na “integração de jovens, tentando atraí-los para a modalidade”, uma vez que para a próxima temporada, “o Sporting terá, para além dos escalões de formação femininos, todos os escalões de masculinos”. Teremos, portanto, caso isto se confirme, uma boa estrutura de voleibol, preparada para atacar o futuro.

3. Número de participantes federados (Fonte: Federação Portuguesa Voleibol, 2018)
O voleibol tem vindo a crescer em número nos últimos 3 anos. Se contarmos os últimos 10 anos como amostra, a modalidade cresceu 9%. Como referi, de 2016 a 2018 houve crescimento, contudo os números são humildes. Em 2016 contavam-se 43.625 federados, em 2017 eram 44.208 e em 2018 apresenta-se 44.739 atletas inscritos na Federação.
Num país tão pequeno como o nosso, a segmentação por localização por vezes não faz sentido. Neste caso, até conseguimos perceber um perfil interessante. Para o voleibol, se contabilizarmos os atletas do Norte do país, concluímos que 60% dos jogadores estão registados nesta região (Porto, Braga, Viana, Viseu, Trás dos Montes). A força da modalidade está muito concentrada.

Em termos de sexo, as mulheres são quem mais ordena. Com dados de 2018, temos uma relação de 55,7% de mulheres (24,920 atletas) para 44,3% de homens praticantes (19,819 atletas). Estes participantes espalham-se por 905 clubes. Destes, 405 são da Associação de Voleibol do Porto e 70 de Lisboa. Destaco também Braga (57), Alentejo e Algarve (69), Madeira (52) e Açores (54).

Tal como na casa de muitos de nós, também no Sporting as mulheres mandam, ganhando importância pelo número de atletas (toda a estrutura de formação está no feminino). Nos campeonatos seniores temos também a confirmação da força do Norte. Comparando as duas primeiras divisões, das 12 equipas femininas, 8 localizavam-se a poucos quilómetros de distância: AVC Famalicão, Leixões, GC Vilacondense, AA José Moreira, Castelo da Maia GC, Porto Volei, Boavista e SC Braga. No masculino, a nossa equipa mediu forças com o mesmo perfil de equipas: SC Espinho, Vitória SC, Esmoriz GC, AA São Mamede, Famalicense, Leixões, Castelo da Maia GC, VC Viana e AA Espinho. Das 14 equipas, 9 distavam pouco do nosso “quartel general” em Fiães.

4. Atletas Jovens
A diferença entre atletas jovens (mini até juvenis) e adultos (juniores, seniores e veteranos) é abismal. Os números mostram que 91% dos praticantes são jovens, havendo um segmento de destaque. No escalão minis, está resumido 69% dos federados de voleibol, ou seja, 31.085 têm até 12 anos de idade. Se queremos concluir que o futuro da modalidade está garantido, teríamos de perceber o comportamento deste indicador em outros anos. Tal como agora, a taxa de desistência é alta percebendo que há um caminho grande para transformar esta força na geração mais jovem, numa força adulta também. Imagino que este seja o grande desafio estratégico da Federação Portuguesa de Voleibol.

Aqui temos dois pontos de análise muito interessantes a realçar.

O Sporting teve cerca de 100 atletas na época de 2018/2019. Toda a estrutura de formação foi captada e não convidada. No início da época abriram-se 2 dias de captações, onde as jovens podiam tentar a sua sorte. Dos 130 participantes, cerca de 100 ganharam o seu espaço no universo leonino. Vou repetir, 2 dias, 100 miúdos e voleibol. Isto é estrondoso. A marca Sporting a funcionar. Segundo a análise do professor Rui Costa no Sporting160, o Sporting pode e deve tentar apostar em ter 200 atletas a representá-lo. O sonho é ter equipas seniores a serem alimentadas pela formação, tal como acontecia antes da extinção da secção.

Outro indicador é o facto de 69% dos jogadores federados são minis. Bom, há um potencial imenso na modalidade. Ao mesmo tempo que temos muitos jovens nesta idade temos, para o escalão seguinte (infantis), quebras de 90% no número de participantes. A proporção não faz sentido. Ou se estão a comparar “coisas” diferentes, ou se estão a fazer somas diferentes, ou estamos perante um case study no desporto. Só a Federação pode responder. De qualquer forma, e sem aprofundar muito, fico-me pelas boas notícias. Há crianças prontas a jogar voleibol, há poucos clubes em Lisboa, há pais desejosos de passar “este amor e esta paixão, de geração em geração” do nosso Sporting dada a adesão que vemos e há campeonatos para ganhar.

‘Bora construir uma potência nacional para atacar MAIS UM TÍTULO EUROPEU?

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)