Clássico é clássico… só que desta vez não é nada. Dois rivais históricos vão encontrar-se no próximo sábado, num desmotivado estádio do Dragão, meio tímidos perante a espectável festa do rival e ainda condicionados pelo foco na final do Jamor, que colocará a mesmas equipas frente a frente e que será a última oportunidade de ambos os treinadores para salvar uma época frustrante (ainda que por motivos tão diferentes).

E tem sido quase sempre assim nos últimos anos, ainda que o rival desta última jornada aumente ligeiramente os níveis de entusiasmo. O Sporting chega ao último jogo com objectivos pequenos face à sua dimensão, objectivos que se foram arranjando enquanto todos os outros caiam por terra, enquanto os meses se iam arrastando. O último jogo não tem sido mais que um cumprir de calendário, uma espécie de final do suplício de polémicas, épocas falhadas e títulos que não alimentam verdadeiramente os adeptos leoninos.

Mas, e porque nos aproximamos da última jornada de uma temporada especialmente dolorosa e difícil, sem vermos fim às guerrilhas eternas e adeptos descontentes que têm contaminado este clube desde há muito, temos forçosamente de falar do Sporting de há um ano atrás, que desprotegido de si mesmo enfrentava um dos momentos mais complicados da sua história. E por muito que me digam “podiam estar muito pior”, uma parte de mim ainda tem presente a vergonha, a apatia e a profunda desilusão que há um ano senti com toda a estrutura profissional do futebol leonino e a raiva que continuo a ter dos “adeptos” que decidiram um dia virar um clube de pantanas, porque o seu frágil ego não conseguiu suportar que a violência se responda de peito feito.

Algo se partiu nesse dia e por muito que me peçam para ver o quão bem estamos apesar de Alcochete, eu ainda não consegui deixar de lamentar Alcochete e tudo aquilo que o incidente precipitou. A verdade é que me identificava mais com aquele plantel antes de tudo aquilo. A verdade é que tínhamos jogadores que tinham feito carreiras inteiras de verde e branco, que usavam a braçadeira de capitão e que pareciam querer ficar por aqui muito tempo. A verdade é que tínhamos um extremo explosivo e talentoso, um médio defensivo como nunca tinha visto, um dos melhores guarda redes do mundo, um número nove feito em Alcochete que tinha tudo para vingar e agora… temos o Bruno Fernandes.

Gostava mais da forma como os adeptos viviam o clube antes de tudo aquilo, sem encontrar teorias da conspiração e trincheiras políticas em tudo aquilo que é o universo Sporting (sim, até se contabilizam o número de vezes que um jogador aparece nas redes sociais).

Gostava muito mais do Sporting, mesmo daquele que perdeu a Champions na Madeira, do que agora gosto. Porque de alguma forma tive de encontrar uma forma de me reaproximar do clube que adoro sem ser sugada pelo fumo tóxico que paira sobre ele. Tive de escolher o que posso ou não dizer, porque não me apetecia chatear-me logo pela manhã. Tive de conter-me perante a crueldade de adeptos que dizem gostar do mesmo clube que eu, que na sua cegueira e ignorância preferem ver tudo a arder do que reconstruir. E foram muitas as idas a Alvalade forçadas, quase que penitências que tinha de cumprir para ficar pasmada, semana após semana, com o nível fraco do futebol apresentado, com as opções estapafúrdias de construção de plantel, com a ausência de jogadores formados numa das melhores escolas do mundo e para no fim chegar à conclusão: eu não me identifico nada com isto.

O Sporting de há um ano para cá (e já vinha a dar alarmantes sinais nesse sentido há muito tempo) não me representa. Nem a mim nem a nenhum de vocês, por muito que não concordem com nada do que escrevo. O Sporting não representa os milhões de sportinguistas que não o deixam cair apesar de tudo, não representa os esforços monetários e pessoais que milhares de pessoas fazem para acompanhar um clube. O Sporting não se representa a si mesmo porque o seu ADN está completamente arredado das quatro linhas.

O Sporting é representado por alguns atletas (muitos deles nas modalidades) e por uma massa associativa incansável, para o bom e para o mau. E por isso digo, meio em tom de brincadeira, que sou sportinguista apesar do Sporting.
Se nós nos superamos ano após ano para apoiar um clube que cada vez parece mais condenado à loucura, se nós superamos as constantes vitórias dos rivais no futebol, se nós superamos as constantes direcções, treinadores e péssimas opções desportivas, o Sporting também tem de se superar. E quase nunca o faz.

Arranco para a última jornada sem a esperança no futuro de outros tempos. Sei que não seremos campeões nos próximos anos e não o exijo a quem não tem condições de me dar o desejado título. Peço apenas superação, entrega proporcional à dos adeptos e que ao ver uma equipa de verde e branco jogar me sinta representada. Todas as semanas e apesar do resultado.

islandesa

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa