Antes de mais, permitam-me apresentar as minhas mais sinceras desculpas a todos os Tasqueiros (e ao dono da Tasca em particular) por ter falhado a presença desta rubrica nas duas últimas semanas (que, ainda por cima, coincidiram com as dus últimas jornadas do campeonato). Mas não foi o desalento pela confirmação do insucesso desta época que me levou a fahar-vos. Uma deslocação um pouco mais longa a Lisboa para cuidar da saúde, uma “lesão” de última hora incurável do meu portátil que apagou de vez, a necessidade de usar na viagem, como recurso, o portátil da mulher e uma pen, as falhas de internet no Hotel em que me alojei, a falta de tempo, a cabeça focada noutros assuntos mais prementes … foram conjugação de factores que impediram o cumprimento desse meu compromisso.

Mas, cá estou de volta (de novo na ilha de Santa Maria) e com os meios disponíveis para fazer regressar a rubrica.

Terminadas as competições para a nossa equipa profissional é altura de fazer a avaliação da época que finda e de perspectivar a próxima. E balanço deste ano é bastante negativo. Se, nos últimos 2 anos, conquistámos todos os 5 títulos que disputámos, este ano não ganhámos nehum dos 3 títulos em jogo.

O equilíbrio entre as duas principais equipas (e o enorme desequilíbrio para as outras 10) voltou a ser a tónica, mas, desta feita, ao contrário das 2 épocas anteriores, os detalhes jogaram a favor das rivais bracarenses que acabaram por ser as justas vencedoras do campeonato (nos jogos da Supertaça e da Taça de Portugal os “detalhes” foram também condicionados por factores externos, que não são exclusivo do Futebol no Masculino).

A outra nota de saliência é a entrada em “jogo” de mais uma equipa integralmente profissional, a do Sport Lisboa e Benfica que disputa o Nacional da 2ª Divisão e que venceu, este fim de semana, a final da Taça de Portugal, batendo a equipa do Valadares por 4-1. Equipa constituída na base de um forte investimento, entrado maioritariamente em atletas estrangeiras (13 brasileiras e 1 cabo-verdiana), o Benfica não encontrou oposição de registo no escalão em que concorreu e chega à final da Taça de Portugal após perder em casa por 1-2 com o Braga e ir à Pedreira virar a eliminatória com um 2-4.

Fala-se, mas ainda não há confirmação, que o Guimarães também lançará, para a próxima época uma equipa feminina que competirá no Nacional da 2ª Divisão. A confirmação dessa entrada seria uma óptima noticia para o futebol feminino, pois significaria o ingresso de um clube com uma massa adepta fantástica e aguerrida e, por isso, com forte potencial e todas as condições para contribuir decisivamente para o crescimento da variante feminina da Modalidade em Portugal.

Mas voltemos à nossa equipa profissional. Os maus resultados da época e o reconhecimento da entrada em cena de um outro adversário de enorme peso, deverão levar os responsáveis pelo Futebol Feminino do Sporting a fazer um balanço sério sobre o que nos faltou para atingir de novo o sucesso e uma análise criteriosa sobre o que necessitamos fazer para recuperar esse sucesso.

Aliás, a primeira reflexão deveria até ser se estão ou não dispostos a fazer o necessário para recuperar esse sucesso e procurar a hegemonia do Futebol Feminino português. Porque, decididamente, teremos que partir para um patamar de investimento manifestamente superior se quisermos perseguir o objectivo com que foi retomado o Futebol Feminino do Sporting e que se definiu como pedra de toque da arquitectura do seu projecto: criar as condições e construir uma equipa que se pudesse vir a colocar regularmente entre as 8 melhores da Europa.

Sejamos claros, quem assistiu este sábado à final da UEFA Women’s Champions League entre o Lyon e o Barcelona, percebe com facilidade que estamos a anos-luz desse patamar (do Lyon, pelo menos, que o Barcelona não mostrou, neste jogo, argumentos que nós não possamos atingir). Mas essa enorme diferença é determinada por uma muito maior capacidade de investimento em jogadoras de topo e habituadas a discutir as principais competições europeias e mundiais.

O Sporting, para iniciar uma caminhada em direcção a esses níveis necessita, na minha opinião de dotar a equipa, já para a próxima época, de mais 3 jogadoras estrangeiras de nível superior e para ocupar as posições onde a estatura e a compleição atlética, em falta no nosso mercado e na nossa formação, são mais necessárias ao modelo de futebol mais “típico” da jogadora portuguesa: falo de duas defesas centrais e uma média-defensiva (trinco) que possuam entre 1,80m e 1,85m e possuam a destreza e habilidade suficientes para “encaixar” no nosso futebol.

Para quem conheça o futebol feminino internacional, dou como exemplos jogadoras como as centrais Wendie Renard (francesa 1,85m do Lyon, extraordinária no jogo aéreo, muito experiente, excelente leitura de jogo, técnica muito razoável), ou Daiane (brasileira 1,79m, do PSG e que tem todas as condições para ser adaptada a trinco: extraordinária leitura de jogo, enorme capacidade de desarme, bom jogo aéreo, poder de saída de bola, bom passe curto e médio, óptima resistência). Claro que qualquer destas jogadoras deve ser praticamente inacessível à nossa capacidade de investimento. E nem me refiro à capacidade actualmente disponibilizada, que essa é escassa até para competir com mercados médios (Dinamarca, Bélgica, Holanda, Áustria, Suiça ou paises Esacandinavos).

Falo da capacidade de investimento que nos coloque no caminho para competir de imediato com esses mercados e para vir a alcançar os mercados mais competitivos (França, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália). Ou seja, falo de investir, já na próxima época, num orçamento para a equipa profissional de 1,5M€, no mínimo, idealmente 2M€.

E, para este nível de investimento, deveríamos:
– manter no plantel A jogadoras como: as GR Patrícia Moraes e Inês Pereira, as Defesas Rita Fontemanha, Bruna Costa, Carole Costa e Joana Marchão, as centro-campistas, Nevena Damjanovic (a 8 box-to-box), Fátima Pinto, Tatiana Pinto, Joana Martins e Neuza Besugo; e como Avançadas, Ana Capeta, Ana Borges, Diana Silva e Carolina Mendes) [15 jogadoras];
– ir ao mercado buscar 2 defesas centrais como a irlandesa Louise Quinn (Arsenal, 1.80m), a inglesa Gemma Bonner (Manchester City ,1.78m), a americana Casey Murphy (Montpellier, 1.85m), ou a inglesa Leandra Little (Liverpool, 1,80m), contratar a já falada brasileira Daiane para a posição de trinco e a portuguesa Jessica Silva (atacante esquerda, 1,67m 24 anos, actualmente no Levante) [+ 4 jogadoras];
– ascender as juniores Carolina Beckert (defesa direita) a Andreia Jacinto e a Alícia Correia (centro campistas) e a Marta Ferreira, que passariam a treinar com as seniores A, a jogar regularmente na equipa B, a reforçar as juniores quando necessário e a colmatar eventuais necessidades da equipa A.

Este plantel, deverá manter-se dentro dos custos de 2M€ e oferece óptimas garantias de discutir os títulos que vai disputar na próxima época. Por outro lado, passaria a constituir uma óptima base para as melhorias progressivas que, no futuro de médio prazo, (5 a 7 anos) nos poderiam colocar no Top 8 europeu. Para isso, precisaríamos de garantir a acomodação das jovens mais competentes da formação e que, todos os anos, operávamos um aupgrade do nível de investimento de 0.5M€/ano, até um tecto de 5M€, o qual só seria ultrapassado se as condições de criação de receitas assim o sustentassem, isto é, se fossem geradas receitas que ultrapassassem os 2M€, considerando que 3M€ passaria a ser a base de transferência directa do orçamento da SAD.

Mais uma vez, na minha opinião o investimento de 2,5M€ (incluindo 0,5M€ para a formação) no Futebol Feminino, deve ser garantido COMO BASE pelo orçamento da Sporting SAD a partir de 2019/20.
Logo nesse ano, devem ser geradas recitas próprias a partir de:
venda de Gameboxes FF = 18€ = jogo de apresentação em Alvalade + 9 jogos em casa para a Liga BPI; jogos em casa contra Benfica, Braga, Fófó e Estoril a disputar no Estádio Alvalade, com bilhetes nas centrais a 4€ contra os 2 primeiros e a 3 € contra os outros 2; em casa contra as outras 5 equipas da Liga BPI, jogos no Estádio Aurélio Pereira a 2€/entrada; Jogo de Apresntação contra equipa da 2ª liga inglesa a 2€ (e.g.: Tottenham, Sheffiels United, Aston Villa ou Leicester City). Deve ser feita uma promoção muito criativa e agressiva de marketing para a Gamebox e para os jogos; devem ser procuradas metas MÍNIMAS de 1000 Gameboxes, de 10 000 lugares vendidos para os jogos de apresentação, Benfica e Braga, de 2 000 lugares vendidos nos jogos contra Fófó e Estoril e a lotação de 1180 lugares vendidos nos jogos do Aurélio Pereira. Se a venda de Gameboxes ultrapassar o número de 1.000, todos os jogos se deveriam realizar em Alvalade
procura de um sponsor para as camisolas que garanta um mínimo de 150.000€/ano;
procura de outros patrocínios para publicidade estática nos jogos em casa em Alvalade e no Aurélio Pereira;

procura de grandes patrocínios para publicidade dinâmica (ecrã gigante) nos jogos em Alvalade;
procuras de patrocínios para exclusividade de vendas de “comidas e bebidas” nos jogos, dentro dos estádios (e.g. Coca-Cola ou Pepsi-Cola; Sumol, ou Fanta ou Compal; batatas fritas; um fornecedor de sandwiches; um de burgers) nas bancadas ou em espaços bar-fans;

venda de direitos económicos e desportivos de activos (jogadoras);

criação de artigos de merchandising próprios: camisolas das atletas, cahecóis SCP Ladies, posters, calendários, artigos de escritório, e outros para venda nas Lojas Verdes e nos Núcleos e com associação de custos/receitas ao departamento de Futebol Feminino; participação regular das Atletas na promoção desses artigos associando cada promoção a uma causa social ou cultural;

alocação ao Departamento de Futebol Feminino das receitas das vendas de artigos femininos nas Lojas Verdes;

procura de venda de direitos televisivos de jogos não transmitidos pela Sporting TV;
transmissão na Sporting TV de jogos mais “emblemáticos” da equipa B e das equipas Juniores e Juvenis, como forma de dar a conhecer e sobre-motivar as atlletas e de cativar novos públicos para os seus jogos;

ser activo na procura de participação em torneios internacionais de pré e de pós temporada;
promover a imagem das atletas, em associação a grandes causas nacionais e internacionais de cariz educativo, de saúde, social, cultural e/ou humanitário (e colocando essas promoções como modelos de valorização da Imagem do Sporting);

criação de metas mínimas para cada um destes “items”, e com a obrigatoriedade de upgrade anual das mesmas;

divulgação aos sócios dos números globais do orçamento, das Gameboxes vendidas, dos valores dos contractos de sponsorização e dos maiores patrocínios, das assistências em todos os jogos em casa, das receitas anuais de merchandising.

Estas seriam as medidas que começaria a aplicar desde já, se fosse o Filipe Vedor. Claro que a composição do plantel teria de ser feita em consonância com a equipa técnic,a mas a definição donovo patamar de investimento deveri ser previamente garantida junto da administração da SAD e com as propostas de medidas para geração de receitas próprias e de promoção agressiva da Modalidade que potenciem a sua rentabilidade futura.

Paralelamente a estas medidas, que podemos chamar de “ferramentas e procedimentos internos”, haverá também que iniciar uma postura de liderança do movimento de promoção, crescimento e qualificação do Futebol Feminino português. Aí devemos apresentar um pacote de medidas que nos coloquem nos caminhos apontados pelo documento FIFA “Womens Football Strategy” que o organismo máximo do Futebol internacional editou em Outubro de 2018, para providenciar a todos os seus afiliados (incluindo Confederações continentais e regionais e Federações nacionais) linhas de orientação estratégia que conduzam ao crescimento e melhoria do Futebol Feminino, quer enquanto Desporto quer enquanto actividade económica de enorme potencial. Nem temos que inventar o fofo ou a roda!

Para sairmos desta pre-história da modalidade em que ainda nos encontramos em Portugal, basta-nos adoptar os caminhos indicados naquele documento FIFA (deixo o link no final deste parágrafo) e estudar, adoptar e adaptar os modelos de organização dos países mais avançados na prossecução dos objectivos e metas traçados pela FIFA, como são os casos da NWSL nos EUA, a FA WSL em Inglaterra ou a D1F em França. (o link é: https://resources.fifa.com/image/upload/women-s-football-strategy.pdf?cloudid=z7w21ghir8jb9tguvbcq).

Quanto a medidas que poderiam constar de um programa português para a mudança do FF, já elenquei várias em post anterior, colocado na Porta da Tasca em 1 de Abril com o subtítulo: “Balanço e Perspectivas”. Remeto os Tasqueiros para a leitura desse post, mas destacaria como objectivos mais imediatos:
– a profissionalização completa das equipas de arbitragem na Liga BPI,
– a criação de regras de condicionamento do (ab)uso de jogadoras estrangeiras através de limitação ao máximo de 1/3 (6) na lista de jogo,
– a introdução imediata do VAR nos jogos da LIGA BPI e nas meias-finais e final da Taça de Portugal;

como metas a curto médio-prazo destacaria:
– a completa profissionalização do quadro da 1ª Liga até ao início da época 2021-22 e a redução desse quadro competitivo para 8 equipas; a partir dessa época,
– a semi-profissionalização da Liga de Promoção (2ªa Liga) com uma 1ª Fase de 4 grupos regionais de 6 equipas cada e uma Fase Final de Promoção com as 3 primeiras de cada grupo a disputar a subida num Grupo de 12 a 2 voltas e as 3 últimas noutro Grupo idêntico a disputar a manutenção,
– quaisquer equipas que conquistassem os 2 lugares de Promoção à Primeira Liga teriam de submeter à federação um formulário com os quesitos adesão às Regras de Profissionalização vigentes na nessa Liga, caso alguma(s) não conseguisse(m) preencher esses quesitos avançariam as classificadas nas posições seguintas e que fossem habilitadas para os preencher,
– na época de 2021-22 e 2022-23 não desceria qualquer equipa da 1ª para a 2ª Liga, ficando a Liga profissional a partir da época 2023-24, novamente com 12 equipas, mas agora, todas profissionais.

Essas e outras medidas (de sustentação da Formação desde o Desporto Escolar às Associções de Futebol, de condições de sustentabilidade económica e financeira do negócio, de promoção e propaganda da Modalidade e das Atletas, etc) deveriam ser bandeira do Sporting Clube de Portugal na liderança de um projecto de verdadeira e radical mudança do Futebol Feminino em Portugal. ´
Sobre a questão da profissionalização do Futebol Feminino, falarei no próximo post, partindo dos modelos dos campeonatos Norte-americano e Inglê (os 2 mais bem sucedidos comercial e desportivamente).

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* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino