Ainda dopado pela festa de sábado, resolvi apresentar o novo treinador da equipa de voleibol masculino. Com a anestesia de sportinguismo com que estou e depois de o conhecer mais fundo, seria impossível não afirmar, perentoriamente, que se trata do melhor treinador do mundo. Colocando o humor de lado e esta euforia do fim-de-semana vamos tentar analisar quem é o brasileiro, de 40 anos, chamado Gersinho.

Podemos começar por aí. Um brasileiro de 40 anos.

O Brasil é um dos países mais desenvolvidos ao nível da modalidade. Desde a metodologia de treino e aperfeiçoamento tático até a estudos de comportamento de liderança no segmento masculino e feminino. O que muitas vezes vemos, em Portugal, para o futebol, no Brasil existe para o voleibol. Importante relembrar que o voleibol é o segundo desporto mais importante neste país. Tendo o Gersinho trabalhado sempre em equipas de topo, tem, de certeza, um conhecimento muito interessante.

Quanto à idade é sempre aquela questão da faca de “dois legumes” (by Jaime Pacheco). Ser um treinador jovem traz inexperiência e possível imaturidade na relação emocional. Isto não é uma crítica, é o que acontece. Eu, com 33 anos, lido com a pressão de uma forma diferente que há 10 anos, quando iniciava a minha atividade profissional. Por outro lado, ter “apenas” 40 anos traz sangue quente, uma garra e capacidade de trabalho. Ainda é nesta idade que queremos conquistar o mundo. Conto com esta motivação do Gersinho para o Sporting.

A experiência profissional não é gigante e não era suposto que fosse. É a necessária para este patamar. O Gersinho trabalhou alguns anos com a formação da seleção do Brasil, tendo treinado muitos craques que hoje começam a despontar. Fez parte da equipa técnica do Sada Cruzeiro de Marcos Pacheco. Certamente que a experiência de trabalhar com um supercampeão como o treinador Marcos Pacheco o fez evoluir exponencialmente. Possivelmente a maioria dos que lêem não reconhecem o nome, por isso terão de confiar que é um guru do voleibol brasileiro.

Antes da sua última experiência profissional, também passou pelo Japão, sendo treinador adjunto dos Suntory Sunbirds. Na época anterior treinou a equipa do Corinthians-Guarulhos, onde se estreou como treinador principal sénior e logo na superliga do Brasil. Foi contratado “com a missão de fazer a equipa dar um salto de qualidade após a primeira participação na elite nacional, onde o Corinthians/Guarulhos chegou aos playoffs.” Não correu da melhor maneira a época tento terminado em 9º lugar. Em 22 partidas da primeira fase, o Corinthians Guarulhos conseguiu vencer apenas seis duelos e terminou na 9ª posição, com 20 pontos. Isto não se traduz necessariamente na incompetência do Gersinho. A equipa não era espetacular e os craques da mesma já andavam todos pelos 40 anos. As expectativas da equipa ficaram abaixo, no entanto, na minha opinião, não se deve exclusivamente ao treinador. Acredito até que foi quem teve menos culpa.

Lidar com egos gigante e com craques
O Gersinho terá jogadores mais velhos que ele no plantel e com currículos vastos no voleibol. Nunca é uma situação fácil. Curioso é que na época passada, a equipa do Corinthians/Guarulhos tinha 3 ex-craques olímpicos. Trabalhou consigo o maior líbero de todos os tempos, Serginho, que por acaso teve a sorte de nascer no melhor dia do ano, 15 de outubro. Outros dois campeões pertenciam ao elenco, o capitão distribuidor Marcelinho e o Sidão. Todos estes 3, ex-internacionais brasileiro e consagrados do voleibol mundial. Não me acredito que a idade possa ser uma limitação na relação com os jogadores com currículo e mais velhos.

Em jeito de conclusão, e sendo muito objetivo, parece-me uma boa opção. Não sei se será melhor que o Hugo Silva ou do Alexandre Afonso (que seria a minha opção), mas terá as suas competências.

A época será como a duas anteriores. Terá dois jogos importantíssimos contra o benfica, na fase regular. Depois irá ter testes diícies contra a AJ Fonte Bastardo, Sporting Clube de Espinho e veremos como estará o Esmoriz este ano. E, de resto, andará com adversários bastante mais fracos, onde é suposto mostrarmos superioridade. Em resumo, tem dois jogos para mostrar com que unhas se toca uma guitarra e o resto do campeonato para confirmar superioridade.

Evidentemente, que importa lembrar que para ser melhor que o Hugo Silva terá de vencer o campeonato e a taça. Só vencer o campeonato, iguala a nossa primeira época de voleibol. Eu estou com boas expectativas porque alguém com um bom currículo, deixar o campeonato brasileiro e vir para Portugal, só quer dizer uma coisa. Ele quer lançar-se na Europa e para isso tem que “varrer” tudo em Portugal e vencer nas competições europeias. De outro modo, para quê sair do Brasil?

Nós queremos festejar títulos, logo pela manhã, quando começa o dia. Contamos contigo, Gersinho!

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)