A conquista da Taça de Portugal provou dois factos importantes:

1/ Há muitas formas de ganhar um jogo e nem sempre a equipa com menos recursos técnicos está condenada a perdê-lo. O Sporting fez da resiliência e saber sofrer a sua maior arma. Acreditaram no tal #AtéAoFim… até ao fim e isso deu-nos o troféu. Muito desta atitude teve em Bruno Fernandes uma espécie de bandeira, servindo de exemplo, servindo de bitola para que todos os seus colegas pudessem emular. E fizeram-no, cada um na extensão das suas capacidades.

2/ Ora, tudo isto também significa que quer o Porto, quer o Sporting assumiram que havia uma clara decalage de valor entre os dois conjuntos. O nosso plantel tem menos recursos, parece fisicamente menos fulgurante e transmite uma sensação menos harmoniosa taticamente.

Se o primeiro dos factos é honroso e de louvar, não deixa de tornar o segundo completamente preocupante. Principalmente os dois últimos parâmetros, que correspondem essencialmente ao trabalho e competência da equipa técnica de Marcel Keiser. Será duvidoso que as finais desta época se repitam, pois quem ataca mais e cria mais situações de golo, tende a vencê-las, além de que continuar a somar taças internas ficando fora dos lugares de acesso à Champions League e do título de campeão, não será mais visto como sinónimo de que “foi o que se pode arranjar”.

Com toda uma pré-época para realizar, com toda uma janela de mercado por aproveitar, a próxima temporada não vai ter as atenuantes da anterior e as considerações do que será positivo alcançar vão ter a fasquia muito mais elevada. O jogo do gato e do rato, em que claramente somos nós os pequenos roedores, não será mais visto como uma estóica persistência em partir mas não dobrar, mas sim como um sinal de incapacidade de gerir bem o futebol profissional, pelo menos incapaz de aproximar a nossa equipa ao patamar competitivo dos nossos rivais.

Varandas, se ele não sabe – eu digo-lhe, terá neste Verão a tarefa que decidirá o padrão para a sustentação do seu mandato. Ou consegue sustentar uma base crescimento, tornando a equipa mais valiosa e tendo em Keizer um dinamizador de uma atitude mais ambiciosa… ou no ciclo de renovação do plantel permanece aquém do nível dos nossos rivais, com a eternização dos terceiros lugares e mais ou menos competência nas taças internas. Como já aqui escrevi, este último paradigma não será compatível com um mandato pacífico e do que conheço do Sporting, mais tarde ou mais cedo cairão as bases que sustentam a validação do poder desta administração.

Cabe então à estrutura actual fazer um trabalho exemplar nesta janela de transferências. Destaco 4 pontos essenciais para o conseguir:
a alienação competente dos excedentários (que aliviará decisivamente a folha salarial);

a escolha cirúrgica dos atletas que sejam de facto reforços de primeira linha;

a venda superlativa de jogadores em final de ciclo de valorização, onde claramente não coloco Bruno Fernandes, pois se a sua venda poderia trazer receitas que permitiriam aceder a outro tipo de contratações, também será fácil de antever que perderemos um dos melhores jogadores que vestiram a nossa camisola nos últimos anos, além de um capitão em campo como raramente tivemos nos tempos mais recentes.

Outro factor com relevância será a avaliação dos atletas oriundos da formação e a sua capacidade para causar impacto dentro do plantel profissional. Há de facto alguns jogadores que podem passar de candidatos a evidentes recursos da equipa. Mas, ao contrário da opinião de outros sportinguistas (que respeito) não acho que o lote seja extenso. Daniel Bargança, Ivanildo, Domingos Duarte, Matheus Pereira, Pedro Mendes ou Bruno Paz (caso não se tivesse lesionado) são os melhores valores para apostar e ficarei sinceramente desiludido se mais uma vez tivermos os Misic desta vida a tomar o lugar de quem merecia uma sincera oportunidade.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca