IMG_20190526_235733_926A história que conto abaixo, é sobre o meu irmão e a sua primeira vez no mar leonino do Jamor. Como esta história haverá muitas outras mas todos precisam de perceber a importância que este dia tem para os nossos jovens.

O Rodrigo tem 15 anos, vive o Sporting de forma intensa e apaixonada como muitos miúdos, sem nunca ser alimentado por títulos no futebol. Esta final foi a primeira e a primeira vez ninguém esquece.

Desde que garantimos a presença no Jamor que a pergunta mais frequente era “Diogo, vamos ao Jamor?”. Ninguém mais que eu queria dar-lhe esse privilégio e tentei de todas as formas garantir o ingresso mágico para aquele dia. Como todos sabem, não há jogo mais difícil para garantir bilhete que este e desta vez diria que foi até ao fim. Na quinta-feira recebo uma chamada a dizer que tinham dois bilhetes e aí a minha cabeça parou a pensar no miúdo que tinha o sonho de entrar no Jamor pintado de verde e branco.

Mas a equipa não estava completa, tínhamos dois bilhetes mas faltava uma pessoa chave nesta equação, a Inês, a pessoa que me acompanha em todos os jogos. A minha primeira frase foi “Vais tu e o miúdo e eu fico cá fora, o miúdo tem que ir e eu não importa”. A resposta dela foi pronta e imediata “Não, a primeira vez tem que ser contigo, ele não pode ir sem ti”. Após umas horas e luta para tentar convencê-la que não me importava de ficar de fora, eis que surge mais uma chamada, no qual tínhamos o terceiro bilhete. Quando pensamos que a equação está fechada, faltaria uma pessoa, a Joana (irmã da Inês) que nos acompanha todos os jogos. Entre tentativas de deixá-las ir ao jogo com o menino, fui sempre travado e acabou por ficar a Joana de fora.

Sexta feira quando cheguei a casa, esperei que o jantar terminasse e pedi-lhe que fosse aos documentos do carro trazer uns papéis, ao abrir deparou-se com aquilo que tanto ansiava, os bilhetes do Jamor. Programámos tudo e sábado era o grande dia.

O despertador tocou às 4:45 e depressa o menino saltou da cama para ultimar os últimos pormenores. A mítica verde e branca estava escolhida e lá fomos nós. Depois de apanhar dois amigos, às 6:50h estávamos a montar arraiais na Mata do Jamor. Daí para a frente seguiram-se 10 horas de pré-jogo do mais intenso que já vi, um verdadeiro mar de sportinguismo, uma forma diferente de viver um clube que nada ganhou nos últimos anos.

A ele, queria mostrar que aquilo era o Sporting, que era por aquilo que nós somos completamente apaixonados. Naquelas horas partilhámos experiências com pessoas vindas de todo o país, que têm uma paixão louca por este clube e que nos transmitem mais amor. Após tudo isto, chegou o momento de entrar no estádio, e aí mais um banho de sportinguismo, um topo norte repleto de verde e mais uns pozinhos no topo sul.

O jogo não começou famoso e quando sofremos o golo veio me à memória a final do ano passado, na qual eu tinha estado presente. Enrolando mais uns minutos naquele sofrimento todo e quando faltavam 5 minutos, decidi ir comprar águas. Quando peço as águas e coloco o dinheiro na mesa, eis que…. “GOLOOOO”. Uma explosão enorme no topo norte, voaram águas, cerveja, pessoas agarradas a mim sem as conhecer, uma loucura no seu ponto mais alto.

Quando cheguei ao lugar, as caras eram mais sorridentes e a Inês soltou no meu ouvido “O teu irmão estava a chorar no golo”. A primeira coisa que me veio à cabeça foi “Isto vai ser duro, seja qual for o resultado”. Após mais 45 minutos medonhos e entre muitos sofrimentos, entramos no prolongamento. Um prolongamento que pisámos o céu e o inferno, mas primeiro vamos ao céu.

Minuto 101, cruzamento da esquerda, corte falhado e Bas Dost a finalizar. Uma verdadeira explosão de alegria e os nossos olhares colocam se um no outro e ele corre na minha direção de lágrimas nos olhos. Aquele abraço é eterno, as palavras foram só “Obrigado Diogo”, repetidas vezes e vezes em contas. Olhei-o com as lágrimas nos olhos e pedi “Calma, não ainda não ganhámos nada mas vamos ganhar, nós merecemos isto!”.

Passados 19 minutos, tocámos passámos do céu ao inferno. Aquele golpe de cabeça surgiu como um soco no estômago que deixou o topo norte em silêncio durante uns segundos. Pensei “Não lhe podem fazer isto”. Naqueles minutos não tive reação mas os olhares tocaram se novamente e pedi “Calma”… Na lotaria dos penaltys, entrámos a bater no ferro e os corações tremiam a cada penalty. Quando Pepe partiu para a bola, a Inês deu me a mão e ali explodimos de alegria novamente, tinhamo-nos levantado novamente e estávamos na luta.

Os olhos dele brilhavam e eu voltei a pedir “Calma!!”. Tudo o que pedia era para ser feliz naquele dia, merecíamos isso, os olhos daquele menino mereciam isso até que….. Fernando Andrade parte para a bola e Renan voa para uma defesa épica. Mais uma explosão total, nesse momento já era difícil segurar as lágrimas. Nesse momento cada um permaneceu no seu lugar. Quando Luiz Phyllipe partiu para a bola só pedi “Façam este miúdo feliz”…. Quando entrou tocámos no céu novamente, ele voltou a correr para os meus braços e aí chorámos os dois, voltei a ouvir vezes sem conta as palavras “Obrigada Diogo”.

Não queria agradecimentos, queria apenas que ele desfrutasse tal como eu estava a desfrutar por perceber que a minha missão tinha sido concluída com sucesso. Após limparmos as lágrimas vivemos a festa intensamente. Após este momento, abracei a Inês e agradeci lhe por tudo, ela é parte da nossa vida e mais uma vez estávamos juntos num dia histórico, abracei o meu companheiro David que nunca falha nestes momentos e por fim um abraço ao pai da Inês que estava radiante.

Esta turma é incrível e este dia foi épico. Esta história termina aqui, mas não posso deixar de agradecer à Inês por tudo o que fez por nós. Ao David, o companheiro de sempre que não falha nestas alturas e que nunca me deixa a cantar sozinho. Ao pai da Inês pela paciência para aturar os doidos de sempre. À Joana por ter abdicado de um dos bilhetes para um de nós estar presente. Por fim, a todos os leões que me cruzei neste dia, foi memorável. Sporting Sempre!

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Diogo Conceição
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]