O que falta ao Sporting para ser campeão? A pergunta repete-se infindavelmente nas nossas cabeças e aposto que nas cabeças de toda a gente que entra diariamente pela Academia e pela 10A. Todos verão a questão de posições distintas, com prioridades diferentes, até com ângulos diversos – consoante o grau de conhecimento do que temos hoje.

E quase todos começamos pela questão “fora das 4 linhas” e aí, não há como não ver isto, o Sporting é o saco de pancada do sistema. Ao olhar para a tabela da indisciplina (nº de amarelos e expulsões acumulados nas jornadas da Liga Nos) a ficha cai-nos em cima, violentamente. Somos autenticamente descriminados negativamente e sucessivamente pela arbitragem e se o VAR nos trouxe muitos pontos que perderíamos em modo “old school”, outros ficaram quase de certeza ganhos com muito mais aflição do que seria suposto.

Não é normal a 3ª melhor equipa da Liga, com um volume de jogo atacante e percentagem de posse de bola ao nível dos 2 primeiros, ser tão castigada e…convenhamos, a nossa equipa não é propriamente um 11 de Ruben Dias. Não só não é normal, como deveria, proactivamente, merecer uma análise séria por parte do Conselho de Arbitragem, mas não esperemos tanto.

Também “fora das 4 linhas” existe o tal “jogo das malas” que têm o particular condão de tornar Tondelas e afins em furacões desportivos, a espumar raiva enquanto fazem o jogo das suas vidas, a lutar contra as suas naturais dificuldades como se os 3 pontos frente ao Sporting fossem cem vezes mais importantes que os 3 pontos frente ao Benfica. Das coisas mais óbvias desta liga, foi ver o número de pontos ganhos fora, assim que o Sporting deixou de contar para a luta pelos primeiros lugares. O argumento de que a pressão diminuiu e isso libertou a equipa para melhores exibições é válido, mas não explica a diferença de exibições das mesmas equipas contra “grandes” diferentes.

Não basta nesta questão olhar apenas para o nosso umbigo. O número de pontos ganhos pelo rival Benfica, especialmente na 2ª volta está ao nível do sobrenatural. Com minha idade, lendo os e-mails que li e olhando as “sinergias” entre alguns clubes da nossa Liga, diria que o Benfica preparou bem os seus jogos e a proteção a Bruno Lage. A um nível que nem Porto, nem Sporting conseguem alguma vez fazer. Os defesas contrários têm especiais falhas, coisas que resultariam num vídeo épico, ao som do genérico do Benny Hill e com comicidade garantida.

Haveria muito mais para falar, mas entre dopping e Meirins, direi apenas que, em conclusão, neste “campeonato” seremos sempre perdedores e eternamente goleados. Há alternativas? Há. Uns quererão entrar pela badalhoquice dentro e transformar o nosso clube em cópias dos nossos rivais (esquecendo tudo o que tem acontecido ao Sporting sempre que se arma em “bad boy”). Outros preferirão continuar a levantar a cabeça a seguir a cada injustiça, encarnando a versão mais voltairiana de Cândido, tentando esquecer as dores rectais ao mesmo tempo que disparam a raiva para dentro. Eu, há muito que defendo que é preciso uma posição muito mais firme do Sporting.

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Para mim, é evidente que a FPF e Liga Nos (em conjunto com o Governo) nada farão para acabar com esta verdadeira palhaçada que rodeia os clubes e as competições. Esses silêncios e ponderadas passividades apenas estimulam os dirigentes e empresários que vivem nesta roda de gatunagem. Se existir vontade, esta permissividade termina. Se houver coragem essa gente acaba toda na prisão. Neste momento, não há nem uma coisa, nem outra. Há dissimulação e damage control das polémicas e suspeitas. Isto só se resolverá com posições extremas. À cabeça, defendo um ultimato ao Governo e à Liga/FPF. Ou agem proactivamente para tornar as competições “limpas” ou o Sporting (e a quem a nós se juntar) desenvolverá todos os esforços para fazer eleger uma lista às eleições da FPF e Liga Portuguesa, que o faça.

Sei que esta “ameaça” será vista como risível e cairá naturalmente no esquecimento do esgoto que é a nossa comunicação social, mas se a este ultimato estiver associado a ameaça de outras medidas (muito mais duras e que ninguém desejará) aposto que algo se obteria, nem que fosse apenas o compromisso de eliminar alguma percentagem da vasta podridão que se passeia pelos corredores do nosso futebol. Uma coisa tenho mesmo a certeza: construir boas equipas e ter bons treinadores não vai chegar, nos próximos anos, pelo menos. Não querer olhar a esta nossa falta de músculo “fora das 4 linhas” será sempre um pedra no caminho de qualquer direção e, obviamente, no caminho da própria sobrevivência do Sporting como clube “grande” em Portugal.

Se é para sermos pequenos, autofágicos e repositório de piadas desportivas, prefiro a inexistência. E todos os dirigentes do Sporting (atual ou futuro) terão de começar a colocar estas peças em cima desta mesa. A paciência e o estupro tem limites e só acabará quando coletivamente dissermos convictamente que, ou muda ou estamos fora.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca