No último post dei vários exemplos do crescimento do Futebol Feminino nos últimos anos. Neste, reforçarei esses dados com mais outros factos e opiniões especializadas que julgo serem bastante esclarecedores sobre a forma como esse crescimento se processa a um ritmo alucinante e como se afirma na expansão geográfica, na expansão de jogadoras, na expansão de públicos e na expansão de valor comercial.

Poderão pensar que estou “sempre a bater na mesma tecla”, mas faço-o para providenciar aos adeptos leoninos os elementos necessários à percepção do potencial desportivo e financeiro que uma boa aposta no Futebol Feminino pode oferecer de retorno ao Clube. E para que essa maior consciência colectiva desse potencial possa ter algum reflexo nas decisões que possam vir a ser chamados a tomar sobre o futuro do FF no Sporting.

Começo pelo 25º Congresso da CONCACAF, a Confederação FIFA para Caraíbas, América Central e América do Norte. Desde logo porque se realizou em Paris de 1 a 4 de Junho. E porque falamos de uma Confederação de Futebol (que engloba Futebol Masculino profissional e de formação, futsal, futebol de praia e Futebol Feminino) que escolhe a capital de um país de outro continente , na véspera do início de um Campeonato do Mundo de Futebol Feminino que se realiza nesse país (França 2019, com início a 7 de Junho). Este facto, por si só, atesta a importância que a 2ª Confederação mais poderosa da FIFA (e a que tem conhecido o maior crescimento comercial realtivo) confere ao Futebol Feminino. Mas, mais relevante que isso é o facto de uma das decisões mais importantes do Congresso ter sido a adopção do Plano Estratégico CONCACAF para o Crescimento do Futebol Feminino sendo a 1ª Confederação a formalizar uma estratégia na sequência do Plano Estratégico FIFA para o FF, de Novembro de 2018.

Relevantes também as declarações de Amanda Duffy, Directora Administrativa da NWSL, a Liga Profissional norte americana, afirmando que a Liga mais rentável e competitivo do Mundo, vai adoptar as linhas orientadoras do Plano FIFA para garantir mais um grande salto qualitativo e quantitativo do FF nos EUA, propondo-se duplicar receitas, assistências médias e número de praticantes num período de 5 a 10 anos. Estamos a falar de metas ambiciosas no país que já é líder mundial em matéria de sustentabilidade da Modalidade.

Outras declarações muito interessantes foram as de Suzy Brown, diretora de marketing da VISA para o Reino Unido e a Irlanda, que explicam o envolvimento no Futebol Feminino da gigante mundial das tecnologias de pagamentos electrónicos. A VISA, que já era parceira principal da FIFA, garantiu em Dezembro passado um acordo coma a UEFA em que se torna também a sua maior patrocinadora para os próximos 7 anos. Na passada semana, a VISA anunciou um reforço dos termos desse acordo através de outros planos para aumentar o seu investimento global no futebol feminino na Europa, dentro e fora do campo. A empresa decidiu também investir no Mundial FF França 2019 exactamente a mesma astronómica quantia que instira no Mundial de Futebol Masculino Rússia 2018. Outra informação interessante de Suzy Brown respeita à campanha promocional que efectuaram nestes primeiros 7 meses de acordo com a UEFA e que intitularam de atletas Team VISA. A campanha é composta de vários curtos documentários de 2 minutos com actuais e antigas “estrelas” do Futebol Feminino de vários países europeus, documentários que destacam o papel de modelos desportivos mas também sociais das atletase ajudam a um maior reconhecimento dos públicos das participantes e dos bastidores do jogo.

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Finalmente, os primeiros dados relativos ao Mundial FIFA-França 2019 de Futebol Feminino. O jogo de abertura, França-Coreia do Sul, em Paris, no Parc des Princes, teve 45.261 espectadores batendo o record absoluto de assistências do Futebol Feminino em França (23 de abril de 2019, Lyon-PSG, 25 907 espectadores) e criando a expectativa de duplicar o record de assistências a jogos da selecção em França (24.385 espectadores, França- Grécia, Rennes, Europeu de 2017). Antes do Torneio começar já se tinham vendido 941.000 ingressos, esgotando as vendas de 20 partidas. A expectativa da FIFA é de conseguir o record 1,3 milhões de espectadores nos estádios do Mundial do Canadá em 2015. A sondagem de espectadores a nível global ultrapassa os mil milhões de visionadores. O jogo Argentina- Japão, do Grupo D, teve 25.055 espectadores apesar de envolver 2 países de outros continentes e que distam cerca de 15.000 km do país que hospeda a competição.

Mais uma vez, o Sporting não perceber a bola de neve em que se está a tornar o crescimento do Futebol Feminino a nível global e não investir SIGNIFICATIVAMENTE, para tentar assegurar a hegemonia nesta vertente da modalidade, significa desperdiçar uma oportunidade única de reforço internacional da marca Sporting e de realização de negócios que poderão, com relativa facilidade, ser multiplicadores do investimento a realizar. E isso deve ser feito neste timing, por forma a que a equipa feminina profissional possa rapidamente ganhar expressão europeia e, assim facilitar ainda mais esse efeito multiplicador do retorno do investimento. Porque, dentro de 2 ou 3 anos, o mercado europeu de transferências será uma realidade o que traz uma dupla implicação: primeiro, se não investir agora, perderá o timing para o fazer a preços ainda relativamente acessíveis, tornando mais difícil investir mais tarde; depois porque,se investir agora, e se afirmar internacionalmente, não só estará a valorizar nesse emergente mercado de transferências as jogadoras que adquirir como também valorizará muito mais facilmente as jogadoras que já possui e as que formar. E, muito embora o crescimento internacional (e particularmente europeu) da modalidade propicie várias fontes de potencial rentabilização para os Clubes que mais se destacarem (nomeadamente sponsoring, bilhética, merchandising e marketing), sem dúvida que a sua maior fonte de receita poderá vir a ser a venda de activos desportivos.

Deixar passar esta oportunidade, poderá significar ficar muito mais longe da meta do projecto original do departamento de colocar o Sporting entre as 8 melhores equipas da Europa, não só porque cava um fosso maior com as equipas das melhores Ligas, como também porque corre o risco de nem sequer aceder às competições que garantem a visibilidade e o reconhecimento europeus (por perder até na competitividade nacional).

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino