Há duas tarefas essenciais para o futebol profissional do Sporting completar neste Verão.
1/ Conseguir colocar, com o máximo retorno, todos os excedentários do plantel (e são bastantes)
2/ no caso Bruno Fernandes resistir à pressão do empresário (com mais ou menos vontade do jogador) para realizar uma transferência que fique abaixo do real valor do capitão de equipa.

1/ Alan Ruiz, Iuri Medeiros, Lumor, Domingos Duarte, Viviano, Jefferson, André Pinto, Petrovic, Gauld, Matheus Oliveira, Carlos Mané, Leo Ruiz, Gelson Dela e alguns outros parecem fora dos planos desta época. Dentro deste lote, iremos somar mais uns jovens que estão num ponto de maturidade que precisarão de algo mais que a equipa de Sub23. É muita gente e o tempo de encontrar as melhores soluções para cada caso, começa a escassear.

O lote não é homogéneo e há decisões diferentes para cada elemento, conforme o valor e a perspectiva de futuro que o Sporting vê para cada um. O empréstimo com opção de compra e sem, a venda a baixo custo com divisão do passe, a rescisão bilateral de contrato, são muitas as soluções e poucas serão as vendas realizadas nos moldes mais tradicionais. O importante mesmo será aliviar a folha salarial e encontrar as melhores equipas para potenciar ou o crescimento dos atletas ou a sua venda posterior.

A brincar a brincar, estão aqui muitos milhões empatados em salários, verba que fará sem qualquer dúvida muita falta para acompanhar as subidas salariais de Battaglia, Acuna, Dost e Bruno Fernandes, além dos novos reforços. Confesso que estou preocupado, pois mais uma vez revelamos uma atitude incompreensível de deixar tudo para a última hora, à espera que a roda do mercado gire e que na rotação lá acabemos por fazer saltar as peças, rezando para que as slots disponíveis sejam clubes razoáveis para os atletas.

Continuamos a não explorar o mercado do Championship Inglês, talvez o trampolim mais compensador financeiramente da Europa, continuamos a desapreciar a Liga Belga, Holandesa e Suíça, terrenos onde muitos dos nossos “emprestados” poderiam atingir patamares muito interessantes de performance e com o olhar próximo de mais clubes interessados. Não entendo como podemos emprestar Mané a uma 2ª divisão alemã ou Iuri numa Liga Polaca, Domingos Duarte na 2ª Liga Espanhola ou Gauld para a Liga Escocesa ou pior.

Baixamos claramente o patamar competitivo, na esperança que o ditado “em terra de cego, quem tem um olho é rei” se cumpra e dê muito tempo de jogo aos atletas. Esquecemo-nos das realidades específicas desses campeonatos, da adequação dos jogadores ao estilo de jogo nativo, da desmotivação dos jogadores em baixar tantos degraus, da fraca visibilidade dessas ligas, enfim a lista seria muito maior do que o desejável. Temos de levar esta tarefa de colocação de atletas mais a sério, com muito mais trabalho pré-abertura de mercado, com muito mais adequação das equipas escolhidas às potencialidades dos atletas. Paga-se muito caro este permanente amadorismo.

2/ Bruno Fernandes. O nome repete-se infindavelmente nas redes sociais e nos #MaisTabacos britânicos. Todos os dias é dado como a transferência mais previsível para o Manchester United, todos os dias os adeptos dos red devils desesperam por fumo branco quanto à chegada do português ao plantel de Solslkjaer. Para quem anda mais fora da atualidade deste clube de Manchester, a SAD é detida pelos irmãos Grazier – magnatas americanos – que por esta altura são acusados dia sim, dia sim, de estarem a secar o plantel de valor, a reduzir o investimento e sobretudo a relegar o clube para um segundo plano de importância na Premier League.

#GlazierOut é a hashtag que manda o momento, a saída de Pogba é a notícia da hora. Ambas combinadas dão num cocktail que torna Bruno Fernandes numa espécie de tábua de salvação para a pacificação dos adeptos do MU. Sinceramente, só se o Sporting for muito incompetente e desprovido de qualquer habilidade negocial, é que não forçará uma venda por valores bem próximos da cláusula de rescisão do jogador. E terá mesmo de o fazer. É bastante evidente que Bruno Fernandes não é só o melhor jogador da equipa, como é o seu líder, o maior dinamizador do balneário, o jogador mais adorado pelos mais pequenos (goste-se ou não, é verdade), o mais valioso na cena internacional, tornou-se numa espécie de “faz tudo” no plantel.

Estes jogadores não podem ser vendidos por 50 milhões. Valem mais. Valem a diferença entre uma boa e uma má época. Têm de valer valores excepcionais. Não achando a venda de Félix um bom exemplo (muitos milhões ainda veremos descontados naqueles 120) mas a verdade é que o Manchester United não encontrará equivalente a Bruno Fernandes a menos de 100 milhões. Não esquecer que acabou de vencer, a titular, a Liga das Nações. Acabou, pelo 2º ano consecutivo de ser considerado o melhor jogador da Liga. É o médio, na história moderna do futebol, com mais golos marcados numa época. Isto vale 50, 60 ou 70 milhões? Não. Vale mais.

Espero que o CD do Sporting entenda bem a medida em que será avaliado numa possível venda do capitão de equipa. Espero bem que entenda o que se perde desportivamente e politicamente se, mais uma vez, vendermos o excepcional por valores correntes.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca