14 anos. E 14 anos não são 14 dias. É este o tempo durante o qual Iuri Medeiros foi do Sporting. Primeiro, um puto artista. Canhota lixada, finta curta, uma espécie de falso lento. Foi-se aprimorando. Os movimentos de fora para dentro e as cortadas ao segundo pau. Os livre directos. As assistências açucaradas. E nós (sim, porque não sou só eu), à espera que o gajo chegasse à equipa principal.

Chegou o verão de 2013 e o Sporting participou na recuperada Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Levou os putos todos que podia levar, no fundo a equipa B que era orientada por Abel Ferreira. Estava lá o Esgaio, o Riquicho, o Nuno Reis, o Fokobo, o Betinho, o João Mário. Também estavam o Jeffren de Cristal, o Diego Rubio e o Valentin Viola. E, claro, o Iuri.

No primeiro jogo, frente a um benfica que alinhou com Jardel, com o avançado Rodrigo ou com o enorme monstruoso André Gomes, os jovens Leões venceram por 2-1 e rumaram à final onde haveriam de encontrar o Estoril de Marco Silva. Os canarinhos não fizeram poupanças, os verde e brancos voltaram a atirar lá para dentro a miudagem, deste vez com Victor Golas na baliza. O jogo ficou 3-3, Iuri marcou um dos golos e nos penaltis a Taça veio para as nossas mãos.

Passaram seis anos. Nos dois primeiros, Iuri continuou na equipa B. 57 jogos e 12 golos, fora as assistências. A meio de 14/15, ruma ao Arouca. Em 15/16 ao Moreirense. E em 16/17 ao Boavista. Sempre em crescendo, sempre em destaque, ao ponto de liderar a lista de jogadores com mais assistência e com mais golos de livre na nossa liga (inesquecíveis aqueles dois em pleno galinheiro).

Aos 23 anos, dizia-se estar no ponto para regressar ao Sporting. E regressou. Para fazer número e entrar a cinco minutos do final, quando o iluminado mascava a chicla da aposta na formação. A meio da época, emprestado ao Génova. Boas prestações quando teve oportunidade de jogar, limitações de um empréstimo que obrigava os italianos a pagarem 12 milhões se ele jogasse um determinado número de minutos. Nova época, novo empréstimo, menos oportunidades, toca a fazer novamente as malas e ruma à Polónia, para meia época com as cores do Legia.

E cá estamos nós em 2019. Iuri vai para a Alemanha. Definitivamente. Quatro anos no Nuremberga, a troco de três milhões de euros + 10% de uma futura transferência. Sou-vos sincero: estou-me a cagar para o valor da transferência.

Incomoda-me, sim, a forma como, uma vez mais, tratámos um inegável talento. Os iluminados dirão que lhe falta intensidade e empenho nos treinos e que se não ficou foi porque os treinadores não lhe viram qualidades suficientes para tal. Eu continuo a defender que teria sido obrigatório alguém ter-lhe dado uma sequência de 7, 8, 9, 10 jogos. Ter-lhe mostrado que acreditava naquele talento. Tê-lo feito sentir importante. Mas, para treinadores que são uma merda como condutores de homens, é mais fácil colocar de lado jogadores com feitios especiais. Dirão que é a bem do grupo, eu continuarei a dizer que são uma merda a liderar homens.

Tal como continuarei a dizer que se o Medeiros se chamasse Iuricic ou Iuri Ruiz, teria visto abrirem-se-lhe as portas de Alvalade com toda a pompa. Teria sido contratado em vez de um Heldon, de um Shikabala, de um Sacko, de um Dramé, de um Marcelo Meli, de um Lazar Markovic, de um Alan Ruiz, de um Ruben Ribeiro, de um Diaby… no fundo, Iuri, a culpa é dos teus pais, do teu nome e desta estranha forma de promover a aposta na formação. Tirando isso, rapaz, podíamos ter feito coisas bonitas.