Um artigo publicado no Expresso e assinado por Tiago Teixeira, defende que, depois de uma época em que, passados 11 anos, o Sporting voltou a conseguir conquistar dois troféus – a Taça de Portugal e a Taça da Liga, Marcel Keizer tem agora a obrigação de lutar até ao fim pelo tão desejado título de campeão nacional, que já foge há 18 anos à formação leonina.

Ao contrário do que aconteceu na temporada passada, na qual José Peseiro era o treinador quando começaram os trabalhos, Marcel Keizer teve a possibilidade de trabalhar a sua ideia de jogo durante a pré-época e, pelo que foi possível ver, o Sporting continua a ser uma equipa que quer dominar e jogar um futebol de posse, sempre com a intenção de chegar ao último terço de forma apoiada.

MESMO SISTEMA, POSICIONAMENTOS DIFERENTES
Tendo em conta a pré-época realizada, o Sporting de Marcel Keizer deverá apresentar-se no mesmo 4-2-3-1 com que terminou a época passada, embora com algumas diferenças a nível posicional, que foram bem visíveis nos jogos de preparação.

Numa fase inicial da construção, o duplo pivô será, ao que tudo indica, mais vezes utilizado do que na época passada (com a bola em zonas recuadas, era mais comum ver apenas um dos médios perto dos centrais), com Wendel e Eduardo/Doumbia a posicionarem-se lado a lado, no espaço à frente da dupla de centrais.

Contudo, a principal diferença relativamente à época passada é o posicionamento do extremo esquerdo, com Vietto a assumir-se como candidato número um para essa posição.

Ao contrário do que acontecia com Acuña, que quando atuava nessa posição raramente aparecia em zonas interiores, Vietto aparecerá muitas vezes no corredor central, mais concretamente no espaço entre os defesas e médios adversários, onde contará com a companhia de Bruno Fernandes.

Com este tipo de posicionamento, a tendência é para que o Sporting tenha um jogo interior com mais qualidade do que na época passada.

Este posicionamento interior de Vietto obrigará o lateral esquerdo a ser responsável pela largura e profundidade de todo o corredor lateral esquerdo. Do outro lado, Raphinha, que parte como principal titular, será sempre mais perigoso nos movimentos de rutura nas costas da linha defensiva adversária.

Apesar de, na maior parte da pré época, Vietto ter partido do corredor lateral para o corredor central, contra o Liverpool, Marcel Keizer optou por colocar Bruno Fernandes na esquerda (com liberdade para se movimentar para zonas interiores) e Vietto perto de Luiz Phellype na frente de ataque.

No momento defensivo, as alterações em relação à época anterior serão praticamente inexistentes, uma vez que Marcel Keizer continua a preferir o 4-4-2 em organização defensiva.

A grande dúvida neste momento do jogo poderá passar pelo escolhido para fechar o corredor esquerdo, uma vez que Vietto é um jogador pouco participativo defensivamente, e poderá ter dificuldades perante laterais direitos que se envolvam muito no processo ofensivo.

No jogo contra o Liverpool, talvez a pensar neste aspeto, Keizer optou por colocar o capitão Bruno Fernandes a fechar o lado esquerdo. A disponibilidade física e o empenho que coloca em todas as ações defensivas podem ser um fator decisivo na hora de Keizer escolher quem fecha esse corredor quando começarem os jogos oficiais.

A nível individual, o Sporting apresenta neste momento, um plantel com mais soluções de qualidade quando comparado com o da época passada, sendo que a grande indefinição diz respeito à permanência ou não de Bruno Fernandes.

E, obviamente, a continuidade do capitão fará toda a diferença na qualidade do plantel.

BALIZA
Não há nenhuma dúvida no que diz respeito a quem irá ser o guarda-redes titular na época que se segue. Renan Ribeiro – herói das duas taças conquistadas na época passada – continuará a ser o número um da baliza leonina, sendo que o jovem Luís Maximiano, de apenas 20 anos, será o número dois. Com esta mudança (saída de Salin e “entrada” de Max), o Sporting, além de não perder qualidade, demonstra estar já a pensar no futuro, uma vez que o jovem português tem muito potencial. Diogo Sousa, também ele de 20 anos, fecha o lote de guarda-redes.

DEFESA
Com a entrada de Luís Neto, o Sporting conseguiu acrescentar qualidade ao seu eixo defensivo. O internacional português, que terminou o contrato que o ligava ao Zenit, é um defesa central que oferece mais garantias (melhor capacidade de desarme, mais rápido e melhor com bola) do que André Pinto. A ele junta-se a dupla titular da época passada, Coates e Mathieu, com o francês a ser o diferenciador, pela qualidade que oferece com bola no momento da construção. Há ainda Tiago Ilori (tem atuado – e mal – a lateral direito), Ivanildo Fernandes e Eduardo Quaresma (aturá nos sub-23), pelo que o eixo central tem qualidade suficiente para não dar nenhuma dor de cabeça a Keizer.

Nos corredores laterais, com a permanência de Ristovski e a entrada de Valentin Rosier, contratado ao Dijon, o Sporting também conseguiu acrescentar qualidade, uma vez que ganhou um lateral mais forte em termos ofensivos (capacidade de drible, qualidade em condução e no passe), principalmente quando comparado com Bruno Gaspar, que, apesar de ter regressado aos treinos, é muito provável que não faça parte das escolhas finais. Há ainda Thierry Correia, que é um jovem com muita margem de progressão.

Do lado esquerdo, com Borja (que também pode atuar como central num sistema de 3 centrais) e Acuña (a capacidade de percorrer todo o corredor lateral esquerdo será fundamental caso Vietto jogue muito por dentro) o Sporting não necessita de nenhuma alteração.

MEIO-CAMPO
Com a saída de Gudelj e a entrada de Eduardo Henrique (jogou no Belenenses na época passada), o Sporting ganha mais qualidade na fase de construção, uma vez que o médio brasileiro é muito competente na ligação – qualidade em condução e no passe vertical, sendo também mais capaz de resistir à pressão adversária. Wendel, Doumbia e Miguel Luís permanecem no plantel, o que, a juntar ao regresso de Daniel Bragança (caso fique…), parece ter fechado o lote de jogadores para o duplo pivô no 4-2-3-1. Na posição “10”, Bruno Fernandes continuará como titular indiscutível caso fique no Sporting. O capitão leonino continua a ser o principal responsável por fazer a bola chegar a zonas de finalização, sendo também fundamental na concretização.

Caso Matheus Pereira acabe mesmo por sair, ele que no início da pré-época demonstrou ter qualidade para ser uma excelente opção para a posição “10”, é muito provável que o Sporting vá ao mercado contratar um médio ofensivo (Thiago Almada tem sido o nome mais falado nos últimos dias).

ATAQUE
Nos corredores laterais do ataque, com a “promoção” de Gonzalo Plata e a contratação de Rafael Camacho, o Sporting consegue algo que faltou em muitos jogos da época passada: desequilíbrio individual. São dois extremos muito rápidos e fortes no 1×1, principalmente quando comparados com Diaby (claramente o elemento mais fraco do ataque leonino) e Acuña, que no ano passado fizeram vários jogos a extremos.

Vietto, que ao tudo indica começará a época como extremo esquerdo, poderá ser uma mais valia a nível ofensivo. Depois da saída de Nani, nenhum outro jogador além de Bruno Fernandes foi capaz de apresentar qualidade no espaço entre linhas, e Vietto, com a sua capacidade de definir em espaços curtos, é esse tipo de jogador, pese embora a pré-época tenha deixado muito a desejar.

Há ainda Gelson Dala (poderá ser uma excelente opção se pisar zonas interiores como Vietto), Raphinha (mais forte nos movimentos de rutura do que em apoio) e Jovane, pelo que o Sporting é, neste momento, uma equipa com mais recursos a nível ofensivo, nos corredores laterais, do que na época passada.

Como responsáveis máximos pela finalização, surgem Bas Dost e Luiz Phellype, sendo que Vietto e Gelson Dala também poderão ser utilizados na frente de ataque (se Keizer optar por jogar com um avançado mais fixo e outro mais móvel, como aconteceu no amigável contra o Liverpool).