Mais aquele solo do Renan, a defender o penalti. Mais a consistência da prestação de Thierry, à direita da defesa. E aqueles três minutinhos de Bragança em que o puto queria era ter a bola na canhota e ser ele a dirigir uma orquestra completamente desafinada. Tudo somado, não foi suficiente para evitar o que cedo se percebeu que podia acontecer: o Sporting voltou a perder o seu jogo de apresentação e o respectivo Troféu Cinco Violinos.

Não será tão mau perdê-lo com o Valência do que foi perdê-lo com o Empoli, mas foi realmente mau o que se viu no relvado de Alvalade. Mais do que mau, foi preocupante.

E foi desde logo preocupante porque a equipa só tem ideias quando Bruno Fernandes tem uma ideia. Está totalmente trabalhada em função da inspiração do camisola 8 e as coisas tendem a dar para o torto quando ele está em dia de mais transpiração do que inspiração. Quando ela surgiu, aos cinco minutos, fez aquela mudança de flanco perfeita para Raphinha, o extremo amorteceu e Dost disparou uma bomba. Golaço!

E quando o pessoal pensava que ia assistir a um concerto do caraças… percebeu que o hit tinha sido tocado a abrir e o resto do tempo ia ser feito de versões mal amanhadas. A defender, um verdadeiro terror, seja pela incapacidade de fazer pressão, seja pela forma patética como a equipa se desposiciona, seja pelo ar completamente atarantado de tudo e de todos nas bolas paradas. Inqualificável e inaceitável, tendo em conta que este é o treinador que trabalha estes movimentos desde outubro do ano passado.

E se a defender foi um terror, a atacar foi um exasperante bocejo. Já aqui falámos da dependência da inspiração de Bruno Fernandes, mas também podemos falar da petrificação de uma ideia. A insistência em jogar com extremos de pé trocado, por exemplo, ainda por cima com um Raphinha inconsequente a quem parece ter sido dito que tinha lugar garantido, mesmo que existissem mais opções. Será que não dava para, sei lá, durante dez minutos, tentar jogar para um ponta de lança chamado Bas Dost? Tipo com os extremos a irem à linha e a meterem-na para o homem finalizar? Não dava ensaiar um 3-5-2 ou um 4-4-2, mas uma coisa a sério, com dois avançados e não com o Bruno Fernandes a fazer três posições ao mesmo tempo e o Vietto a olhar para aquilo tudo sem perceber onde deve jogar?

E, depois, a cereja no topo do bolo, com a duvidosa gestão do plantel e dos recursos humanos. A entrada de Diaby antes de Plata, depois dos bons sinais que o puto foi dando e de tudo o que sabemos que o maliano pode dar, só se explica se aquela corrida finalizada com uma queda tiver sido ensaiada para animar as bancadas.

Ou, então, fazemos com mister Keizer. Fingimos que nada disto aconteceu, acreditamos que a culpa foi do jet lag provocado pela viagem aos states e dizemos com o ar menos entusiasmado e convincente que pudermos: estamos prontos!