Se a preparação da época deixou muito a desejar, a ida ao mercado tornou tudo ainda mais cinzento. E se a primeira parte do Sporting foi uma nulidade, na segunda Jorge Sousa tratou de garantir que os Leões saíam do Bessa com mais dois pontos perdidos

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O onze inicial já levantava diversas interrogações. Rosier, Bolasie e Plata de início, Jesé, o suposto reforço para o centro do ataque, no banco. Borja (como enganou este gajo nos primeiros tempos) regressava à titularidade, Acuña subia no terreno e o Sporting apresentava-se sem um homem fixo na área, com Bolasie a tentar fazer essa papel em desgastantes e infrutíferas diagonais.

E aconteceu o que era esperado: ofensivamente, o Sporting não existiu na primeira parte. Com Bruno Fernandes a recuar várias vezes para começar a jogar de trás (alguém me explica porque raio é que se continua a insistir em Doumbia quando na maioria dos jogos uma dupla Wendel Fernandes é mais do que suficiente?!?), com Plata a perder todos os duelos (acusou e de que maneira a estreia, mas é assim que se cresce), com Wendel a não criar desequilíbrios e com Acuña a perder-se em memórias argentinas, sobrava o tal do Bolasie. Que bem tentou, diga-se.

Aliás, aproveita o escriba de serviço para dizer-vos que, depois de uma primeira parte daquelas que gostamos de oferecer aos adversários e que ainda inclui estarmos a perder, desta vez de um golo de livre ao qual Renan reagiu como se tivesse dois blocos de cimento atados às canelas, não foi por falta de atitude que o Sporting deixou de conseguir atingir os três pontos. O próprio Jesé, que acabaria por não entrar para a posição 9, foi visto várias vezes em correrias na tentativa de dobrar companheiros, espelhando bem aquilo que foi a exibição do Sporting: uma equipa completamente em esforço, com o coração a bater no cérebro e a roçar o anárquico em termos tácticos. E tudo piora quando, como já se viu nos sopros do Pinheiro, há 15 dias, em Alvalade, qualquer rapaz do apito sente que pode fazer o que bem lhe apetece quando joga o Sporting (foi o que fez Jorge Sousa, numa vergonhosa dualidade de critérios na marcação de faltas e exibição de cartões, deixando o Boavista dar porrada atrás de porrada atrás de porrada).

É o Sporting que resulta de vários meses de preparação de uma época, onde tudo foi feito em cima do joelho e acreditando que a venda de Bruno Fernandes resolveria todas as necessidades financeiras. Sem essa venda, o Sporting entrou numa espiral de total desnorte directivo e, hoje, leva sete pontos perdidos em cinco jornadas e já despachou o treinador que era perfeito para um projecto. O novo, Leonel Pontes, desde logo um claro upgrade na forma de estar no banco e de tentar motivar a equipa, apanha uma equipa a precisar de ir ao psicólogo, um plantel feito à base dos remendos (e mal, como se viu ontem, onde a lesão de Luiz Phellype confirmou que só temos um número 9 quando até existem dois nos sub-23) e tem que fazer a pré época com o comboio em andamento, numa altura em que já foi atirado para uma carruagem a quatro de distância dos principais rivais.

Este é o cenário, totalmente diferente do traçado pelo rapaz dos números, o Zenha, que garantiu que os rivais tinham perdido jogadores e que o Sporting se tinha reforçado. Nesta coisa de dizer às pessoas que se serve sushi, não basta enrolar o arroz em alga, se o miolo tem mais pepino do que peixe. Nesse caso, o mais certo é engolirmos em seco e percebermos que a melhor solução é comer chop suey, essa mistura que nem é carne nem é peixe, mas vai disfarçando a fome.

Ficha de jogo
Boavista-Sporting, 1-1
5.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Bessa, no Porto
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto)

Boavista: Bracali, Fabiano, Neris, Ricardo Costa, Marlon, Carraça, Rafael Costa, Ackah Yaw (Obiora, 67′), Gustavo Sauer, Stojiljkovic (Cassiano, 90+3′), Yusupha (Mateus, 56′)
Suplentes não utilizados: Helton, Bueno, Edu Machado, Heriberto Tavares
Treinador: Lito Vidigal

Sporting: Renan Ribeiro, Rosier, Luís Neto, Mathieu, Borja (Jesé, 45′), Doumbia, Wendel (Eduardo, 81′), Bruno Fernandes, Gonzalo Plata (Rafael Camacho, 88′), Marcos Acuña, Yannick Bolasie
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Tiago Ilori, Rodrigo Battaglia, Miguel Luís
Treinador: Leonel Pontes
Golos: Marlon (7′), Bruno Fernandes (62′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Wendel (5′), Neris (21′), Acuña (49′), Bruno Fernandes (49′ e 90′), Luís Neto (68′), Stojiljkovic (68′), Bolasie (80′); cartão vermelho por acumulação a Bruno Fernandes (90′)