Leonel Pontes disse que não há vitórias morais. Que há vitórias e que há derrotas. E que também há empates. No final, o Sporting voltou a perder, fruto de erros inadmissíveis durante a partida e de uma preparação da época patética que nos trouxe até aqui e nos deixa a tentar encontrar alguma ponta de esperança à qual nos agarrarmos

sporting psv

Os sinais vinham-se acumulando desde a pré-época e a cada novo jogo a certeza crava-se no peito de cada Sportinguista preocupado: esta época tem tudo para ser um tormento.

Desculpem começar assim uma crónica que até podia assentar em alguns laivos de sol por entre as nuvens que vieram para marcar este final de verão. Podia falar do Pedro Mendes, esse rapaz que o mister Leonel disse não ter sido inscrito por não termos ido a tempo (foda-se…), mas que afinal pode não ter sido por qualquer outra questão que escapa ao mister que, disse-o ontem, estava nos sub-23 e não sabe porque raio só inscreveram o ponta de lança na Liga Europa. Também podia falar daqueles dez ou quinze minutos da segunda parte em que, depois de estar a perder por 3-1, o Sporting resolveu jogar à bola e ainda teve um puto, Jovane, a ajudar ao carrossel que chegou a arrancar em frente à defesa do PSV. Ou de como o 4-4-2 até pode fazer sentido e parece ter oferecido mais Bruno Fernandes à equipa (o que já não sei se é bom ou se é mau, até porque é a morte de Wendel se for colocado como interior).

Mas, depois, olhos para a tela completa e o que vejo é mais uma derrota. Podíamos ter feito outro resultado? Obviamente que sim, pois tivemos oportunidades para marcar mais golos. Mas também é verdade que, agora em losango, continuamos a ter um meio-campo que é um passador, desde logo porque se preparou uma época com três ou quatro número 8 e sem um único médio defensivo de raiz. Continuamos a ser anedóticos na forma como defendemos, como fica bem provado no segundo e no terceiro golos. Andamos, em pleno setembro, a experimentar soluções atacantes, tentando conjugar um extremo e um peso pluma enquanto o suposto avançado contratado está de diarreia e o que é mesmo avançado fica no banco até aos 80 minutos e se insiste em manter em campo um miúdo fora de posição e que não joga há meses, Miguel Luís, ou um Doumbia que corre muito e produz pouco.

No fundo, a imagem que fica é que tudo o que de bom que venha a acontecer de bom a este Sporting 19/20… acontecerá por acaso. Basta lembrar que Leonel Pontes afirmou, na antevisão, que “é preciso criar dinâmicas importantes na equipa e, como não temos vindo a treinar, o jogo serve para melhorar alguns aspetos de dinâmicas coletivas”. E a isso juntamos o “pormenor” de que o técnico apanha um plantel pensando por Keizer e fechado vá lá saber-se por quem, que na altura em que encerraram as transferências e trocámos jogadores por remendos o holandês ainda opinava menos do que aquilo que opinou ao longo dos meses que por cá esteve. Ah, e Leonel Pontes não faz puto de ideia se é o mister dos sub-23 que veio fazer uma perninha aos crescidos ou se é real aposta para liderar os mais melhos até final da época. É o chamado, logo se vê.

O regresso do incrível losango foi, apenas, mais um capítulo desta época que ameaça transformar-se num expoente da relação amor ódio entre os adeptos e o clube, entre os adeptos e os adeptos. Um capítulo onde parecemos estar confortáveis num jogo que começou sem balizas e onde aqueles nossos quatro médios que se estendiam na linha intermédia mas que podiam encavalitar-se no Doumbia e jogarem os quatro na posição oito. Estávamos confortáveis por estar a anular o jogo de um adversário que é bom, sim, mas que está longe de ser um papão. Acontece que, nos dias que correm, o Leão que joga à bola assusta-se ao mínimo espirro. Vive desconfiado da própria sombra numa espiral de resultados negativos que tornam o cenário constantemente mais negro. Como se inverte isso? Perguntem a quem disse que o futebol era fácil.

Ficha de jogo
PSV-Sporting, 3-2
1.ª jornada do grupo D da Liga Europa

Philips Stadion, em Eindhoven (Holanda)
Árbitro: Ivan Kruzliak (Eslováquia)

PSV: Zoet; Dumfries, Baumgartl, Viergever, Boscagli; Rosario, Hendrix; Ihattaren (Gakpo, 64′), Bergwijn, Bruma (Ritsu Doan, 78′) e Malen (Sadílek, 84′)
Suplentes não utilizados: Ruiter, Schwaab, Teze e Mitroglou
Treinador: Mark Van Bommel

Sporting: Renan Ribeiro; Rosier, Coates, Neto, Acunã; Doumbia, Wendel (Rafael Camacho, 90+1′), Miguel Luís (Pedro Mendes, 80′) Bruno Fernandes; Bolasie e Vietto (Jovane Cabral, 64′)
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Tiago Ilori, Borja e Eduardo
Treinador: Leonel Pontes

Golos: Malen (20′), Coates (25′, p.b.), Bruno Fernandes (38′, g.p.), Baumgartl (48′) e Pedro Mendes (82′)
Ação disciplinar: amarelo a Rosario (12′), Doumbia (3o’), Acuña (44′), Bruno Fernandes (53′), Neto (85′) e Jovane Cabral (90+4′)