Chama-se Sr. João. João Dinis. Foi cozinheiro do Sporting nas deslocações ao estrangeiro dos anos 70 aos 90. E em entrevista ao MaisFutebol, traz duas mãos cheias de histórias que são de comer e chorar por mais (ou não fosse ele cozinheiro na Churrasqueira do Campo Grande.

[Churrasqueira]
Amigo Rui, está bom? Entre aí. Vamos ali falar num café em Santo António dos Cavaleiros, é mais sossegado.

À vontade. Quando é que começou aqui, na Churrasqueira?
Há 48 anos, em 1971.

Uyyyyyy, isso é muito. E o Sporting, começa quando?
É o tempo do Allison, quando o Sporting fazia o estágio na Churrasqueira. Ou seja, os jogadores iam almoçar lá na véspera e no dia do jogo, sempre às 11 da manhã. Quem tratava da ementa era o senhor Manuel Marques. Telefonava-me e dizia-me de sua justiça. Por norma, era um menu à descrição na véspera.

E no dia do jogo?
Sempre sempre sempre mas sempre canja, bife do lombo com esparguete ou arroz e leite creme, que eu fazia muito bem.

E os jogadores?
Havia um que nos trocava as voltas nas vésperas dos jogos. Se era peixe, queria carne. Se era carne, queria peixe. Era o Rui. O Jordão.

Ai era?
Que jogador. Completo, digo-lhe. À mesa, causava mais problemas que à defesa adversária, ahahahahah. E o senhor Manuel Marques vinha desabafar comigo: ‘ò João, já não sei o que dizer ao Rui.’ E eu fiquei de tratar do assunto.

Como?
Disse-lhe que ia fazer uns escalopes, cortados a minha maneira. Lá os fiz, juntei umas especiarias e servi. Morfou aquilo tudo, ahahahah. A partir daí, era sempre escalopes. E, às vezes, duas canjas. Ele esteve sem ir à Churrasqueira durante uns anos e agora reapareceu, levado pelo Manuel Fernandes, antes de um jogo com o Porto, parece-me. O gajo está impecável; se ele pintasse o cabelo, tinha 30 anos. O gajo está bem conservado. E perguntou-me pela canja.

A famosa.
Agora só aos domingos, disse-lhe. Ele ficou de lá ir. Piada teve o senhor Manuel Marques quando os escalopes entraram no goto do Jordão: ‘Todos os burros gostam de palha, temos é de a saber dar.’ O senhor Manuel Marques tinha sempre umas frases dessas, ahahaha. E também tinha sempre consigo uns quadradinhos de marmelada. Da confeitaria Vitória, ainda me lembro. Aquilo dava energia, sei lá eu, e os jogadores lá comiam. Sabe quem conheci na Churrasqueira em 1978?

Nem ideia.
O Filipe Vieira.

Quem?
O Luís Filipe Vieira. Ele trabalhava numa casa de pneus e o seu patrão ia muitas vezes à Churrasqueira. Na altura, éramos 82 colegas na Churrasqueira e os empregados ganhavam mais que os médicos.

Quanto?
Levavam três contos para casa, à vontade. Veja bem, a renda dessa altura era de 150 escudos. A Churrasqueira estava sempre cheia e eles ganhavam uma percentagem da conta. Dizia eu, o patrão do Filipe Vieira ia muito à Churrasqueira e todos nós tínhamos carros do seu stand, ou Volkswagens ou Fiats. Eu mesmo comprei-lhe um Fiat 128, quilómetro zero, todo bonito. Na mesma altura, o Bastos Lopes, central do Benfica, comprou um igual ao meu. Esse patrão levava muito os seus empregados à Churrasqueira e foi então que conheci o Filipe Vieira. Um sportinguista ferrenho, nem imagina. Sócio e tudo. Se não deixou de pagar as quotas, deve ser o número dois-mil-e-tal. A gente falava muito do Yazalde, dos seus golos, das suas jogadas. Era um fenómeno, o Chirola. Onde quer que fosse, gostava de pagar a conta toda. Grande jogador e grande pessoa. Muitos são assim.

Outro, por exemplo?
O Oliveira, o António Oliveira. Ainda me lembro um dia em que perguntei a um dirigente do Sporting se íamos mesmo contratar o Frasco, do Porto. Falava-se muito do Frasco. E ele respondeu-me: ‘Frasco? Para quê, se já temos um garrafão?’ Não entendi na hora. Dois dias depois, é apresentado o Oliveira no Sporting., Ele era, digo-lhe [uma careta] [outra careta] [e mais outra] um génio. As botas dele tinham olhos, fazia cada coisa com a bola. Se ele jogasse agora, valia milhões. Nem Messis nem nada. Lembro-me de um jogo [mais caretas] em que marcou três golos ao Dínamo Zagreb ou lá o que foi. Um dos golos foi um cruzamento-remate em que a bola cai na baliza como se fosse uma folha seca. Formidável. Ele vivia perto da Churrasqueira e andava muito por aqui. Naquele tempo, o bairro não era nada daquilo, havia a Churrasqueira, o estádio e pouco mais.

Ia sempre a Alvalade?
Sempre, e até fora. Só que deixei de ir aos jogos a partir do very-light do Jamor, na final da Taça de Portugal com o Sporting [1996]. Fui ver o jogo com a irmã do Nélson, lateral-direito do Sporting e irmão do Albertino do Salgueiros. Pois bem, nesse dia, o very light passou mesmo por cima de nós. Aquilo fez-me desistir de ir à bola.

Deve ter visto uma série de craques?
Vi-os todos, desde pequenos até à afirmação total: Futre, Figo, Ronaldo. E vi outros craques em pequenos que, depois, não deram o salto.

Como quem?
Fábio Paim. Aparecia muito na Churrasqueira e, de repente, deixou de aparecer. Um belo dia, reapareceu. Acompanhado pelo senhor Aurélio Pereira. Estava todo contente. Meti-me com ele e o Paim respondeu-me que já era sénior. E tenho um empresário, dizia-me ele. Ai sim, quem? “Jorge Mendes, que me ofereceu um Mercedes CLX e um apartamento em Alcochete”.

Qual foi a sua primeira viagem com o Sporting para o estrangeiro?
Em 1982, acho. Minsk, URSS. O Sporting foi a primeira equipa portuguesa a levar um cozinheiro para fora do país.

E a URSS?
Que decepção. Pensava que era um país super-desenvolvido e, afinal, era só passeios em terra batida e muitos bêbados na rua. Depois, as pessoas sempre muito desconfiadas. Mesmo no hotel do Sporting. Veja bem, o Oceano partiu um cinzeiro e tivemos lá uma hora a argumentar com os empregados.

Passou a eliminatória, o Sporting?
Eliminado nos penáltis: 2-0 em Alvalade, 2-0 em Minsk. Nos penáltis, o Carlos Xavier falhou. O que ele chorou, nem imagina. Chorava, chorava, chorava e chorava para caramba. Estava mesmo inconsolável. É o tempo do Oliveira, ainda. Grande homem, fantástico futebolista. Já o irmão Joaquim nunca fez nada, andou sempre à custa do António. Só não sei se o Oliveira era jogador-treinador. Depois apareceu o John Toshack.

E que tal?
Um gentleman em toda a linha. Vivia no Hotel Alfa, na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro. Ia jantar quase todos os dias à Churrasqueira e gostava muito da minha pescada grelhada. Passava-a na grelha com farinha, só um toquezinho, e depois fazia à menuière. A acompanhar, uma garrafa de vinho de 1978. Ainda hoje tenho garrafas 1978 na minha arrecadação, era um vinho extraordinário e o Toshack adorava. Tive pena de o ver ir embora. Ele já arranhava o português quando se foi embora. Fui eu quem o acompanhou ao aeroporto, mais o Penálti, um homem grande, musculado, guarda-costas do Sporting. Ele dizia-me, pouco antes do embarque: ‘João, Pedro Gomes muito mau para mim, muito mau.’

E depois do Toshack?
Tenho ideia de ter sido o Venglos, um homem da Checoslováquia. Que via filmes de cinema da BETA, lembra-se?

Antes do VHS, certo?
Isso mesmo, a BETA. Eram vídeos trazidos por um amigo meu da TAP chamado Mário Rui. Ele conseguiu contagiar uma série de malta, como alguns jogadores. O Litos, por exemplo. Às vezes, o Litos apanhava o autocarro até ao Senhor Roubado e depois ia a pé até à minha casa para levar uns filmes BETA. Há uma coisa curiosa sobre o Litos, não sei se sabe.

Diga.
O Litos e o Mário Jorge, duas jóias de moço, são cunhados. Casaram-se com duas irmãs, ahahahah.

Essa é boa, ahahahah. E mais do Venglos?
Um dia, perguntei-lhe: ‘Mister, vai mesmo emprestar o Futre à Académica?’

E ele?
É para crescer.

Tssss tssss. Foi crescer para o Porto.
Sabe de onde é que o Futre saiu directamente para o Porto? Da Churrasqueira. Levou-o o Domingos Pereira, dirigente do Porto. O Futre era um cromo, não existe. Ainda hoje, abraça-me e beija-me quando me vê. Digo-lhe sempre para me largar. Qual quê, aperta-me com mais força e beija-me na cara com mais empenho. E eu todo envergonhado à frente dos clientes e amigos, ahahah. O que o Futre fazia muito era entrar na Churrasqueira acompanhado pelo guarda-redes Sérgio Louro e pedia-me para almoçar à conta dos seniores. Fazia-lhes a vontade, claro. E depois o Futre ainda me pedia um maço de tabaco. Perguntava-lhe se não achava que era demais e ele nada, insistia no pedido. Ahahahah, que figura. Olhe, lembrei-me de outra do Toshack.

Então?
A malta gostava de beber o seu copo de vinho na véspera do jogo. No dia é que não, era impensável. Só que o Toshack não permitia. Um dia, o Manuel Fernandes foi falar com ele, disse-lhe de sua justiça e a de todo o plantel sobre a vontade da maioria em beber.

E?
O Toshack deixou, claro. Até porque ninguém ia beber água a acompanhar um cabrito. Isso não se faz, ahahahah. Nem imagina, amigo Rui, o Toshack era um companheiro para a vida. No Porto também havia essa tradição, ligeiramente mais torcida.

Então?
Naquela altura, a comida do hotel era má e os clubes iam comer à Churrasqueira. Clubes como Porto, Braga e Boavista. E o Porto tinha uma coisa com piada. O treinador deles, acho que era o Hermann Stessl, não os deixava beber nem um copo. Então os malandros, como Oliveira, Rodolfo e um brasileiro chamado Ronaldo, pediam-me para encher as garrafas de Sumol com vinho branco. Aquilo passava sem se notar, ahahahah.

Falou de Minsk como estreia internacional. E a segunda viagem?
Albânia, com o Dínamo Tirana. Zero-zero. Valeu um golo do Venâncio em Alvalade. O treinador já era o Manuel José. Certo dia, foi visitar-me à Churrasqueira como treinador do Braga e disse-me ‘se o Fernando Mendes quisesse, era o melhor lateral-esquerdo do mundo’. Percebi-o perfeitamente, o Fernando Mendes era cá uma peça. O gajo mudava de carro umas três vezes por ano. Vi-o fazer uma exibição do outro mundo com o Barcelona, em Alvalade: 2-1 para o Sporting. Um golo do Roberto nos últimos minutos deitou tudo a perder.

E mais viagens?
Olhe, Turquia com o Robson.

Kocaelispor, 0-0?
Deve ser, deve. O Robson era um senhor. Digo sem qualquer problema: ninguém motivava as pessoas como ele. O seu dom era natural e engraçado. Um dia, em Salzburgo, antes daquele jogo com o Casino, o doutor Fernando Ferreira pediu-me para alterar a sobremesa à última hora. E eu todo atrapalhado. Pediu-me arroz doce e nem tinha levado nada. Estava cheio de medo, que desse buraco, está a ver? No final do jantar, o Mourinho vai lá abaixo e pede-me para falar com o Robson lá acima. Bem, tremi tanto. Cheguei lá acima e toda a gente começa a aplaudir. O Robson fez um discurso sobre o arroz doce, traduzido pelo Mourinho, e foi uma alegria imensa. O pior foi o dia seguinte.

Pois, imagino.
Que desastre, 3-0. Dois golos ingénuos, com culpas no cartório para o Costinha e o Paulo Torres. O amigo Rui nem imagina, o Balakov estava desvairado e dava cabeçadas nos armários do balneário. Atirou-se mesmo ao Paulo Torres. É verdade, nunca vi um homem tão revoltado. Como conhecia bem o Balakov, agarrei-o de um lado. Do outro, o Valckx agarrou o Paulo Torres. Aquilo estava quente, a ferver. Nessa manhã do jogo, o doutor Fernando Ferreira tinha proibido os jogadores de entrar para a sala de pequeno-almoço depois de uma certa hora, até porque o almoço seria servido às 11 da manhã. Pois bem, o Paulo Torres aparece-me às 10h30 para o pequeno-almoço. Disse-lhe que não podia ser, que estava a cumprir ordens. Ele foi-se embora a resmungar. À noite foi o que se viu.

E essa viagem de avião?
Pois, foi outra. O Leonel Pires disse-me ‘vão correr com o velho’ e eu incrédulo. Como assim? O Sporting estava em primeiro lugar do campeonato. O Leonel apontou-me então para a frente do avião, onde estavam reunidos o General Melo Egídio, uma figura do mundo sportinguista, mais o Ribeiro Cristóvão e o padre Melícias. A verdade é que o Robson foi mesmo embora.

Chega o Queiroz.
Um indivíduo que não podia ouvir não de ninguém. E deu-se mal com uma série de gente: correu com o Cadete, correu com o Balakov, correu com o Valckx. Muitas coisas do Queiroz não faziam sentido, como marcar palestras para depois dos almoços. A malta adormecia. Outra do Queiroz: um dia, o Sporting foi fazer a pré-época para a Holanda e o senhor Mário Lino falou comigo para ir com o plantel. Só que eram oito dias na Holanda, oito dias fora da Churrasqueira. Isso não podia ser. Uma coisa era ir e vir numa eliminatória europeia, outra era afastar-me do restaurante por uma semana. Recusei. Sabe uma coisa?

Diga.
O Queiroz nunca mais foi à Churrasqueira. E ele ia quase todos os dias, com o adjunto José Alberto Costa.

Disse há pouco que conhecia bem o Balakov?
Mal chegou a Lisboa, o Balakov foi almoçar à Churrasqueira. Apareceu lá com o Vítor Cândido, d’A Bola, e estava lá, por acaso, o Paulo de Carvalho. Até tiraram juntos uma foto. Bons tempos., Um dia destes, entrou-me lá o Bernardo na Churrasqueira e falei-lhe do pai.

O Bernardo?
O Agir, não é? Ele chama-se Bernardo. Quer dizer, para mim é Bernardo.

Ahahahah. E mais, e mais?
Naquele tempo, ainda havia o Cherbakov. Outra figura, sempre animado. Como o Porfírio. Quando íamos para o estrangeiro e, antes de aterrar em Lisboa, o monitor do avião mostrava imagens de discotecas, o Robson virava-se para o Porfírio e dizia ‘Porfírio, Porfírio, é para ti’. Era só rir, o Robson. Boa gente. Há muitos assim. Antes, por exemplo, havia os brasileiros. O Douglas era gente boa. O Silas demorava uma meia-hora para começar a comer, entre rezas e mezinhas e sei lá o que mais. Craque da bola, outro.

Então e o trio Manuel Fernandes, Jordão e Oliveira?
Uyyyyyyy, aquilo havia ciúmes entre eles. O litígio era evidente, mas jogavam à bola como ninguém. Uma vez, na final da Taça de Portugal, coitado do Braga. Acho que a primeira parte foi tranquila, porque eles não passavam a bola uns aos outros. Na segunda, abriram o livro. Era ver quem corria mais. Acabou 4-0 e todos eles marcaram. Acho que o Oliveira marcou dois. E há um golo espectacular do Manuel Fernandes, de livre directo.

Grande memória.
Esse dia é memorável, porque pediam-me para levar uns temos com café e chá para os jogadores no Jamor. Combinou-se uma hora, 16h30, acho. Às 16h00, a A5 está toda parada, culpa de um acidente. Aquilo não andava. Então, saí por minha conta e risco. Cortei caminho e cheguei ao Jamor à hora marcada, com as calças todas rasgadas mas com a missão cumprida. Ahahahah

E o Figo?
Fazia toda a diferença, dentro e fora de campo. Gostava muito do meu frango frito. Ele, o Cadete e o Mourinho. Iam lá de propósito para jantar frango frito. Um dia, o Figo apareceu-me na Churrasqueira antes de seguir viagem para o estágio da selecção em Chaves, o do Euro-2000. Estava vai-não vai para sair do Barcelona e assinar pelo Real Madrid. O Figo era rijo. Depois dos treinos, ficava lá a trabalhar no ginásio. Tal como o Ronaldo.

Olhe, e o Ronaldo?
Passava na Churrasqueira de vez em quando, ainda júnior, com um carrapito.

A sério?
A sério mesmo. Com o carrapito à Roberto Baggio. Modas, ahahah. E o Quaresma, quer saber a melhor?

Então?
A sua alcunha era o caga no saco. Um dia, estava aflito da barriga e teve de aliviar-se numas oliveiras ao lado da Churrasqueira, onde agora é o edifício da NOS. O César Nascimento, pai de todos esses miúdos, à imagem do Aurélio Pereira, meteu-lhe a alcunha ‘caga no saco’.

E o Dani?
Saía sempre pela porta 8, por causa das miúdas. Era só gajas atrás dele e não havia maneira de sair pela 10-A, ahahahahah. Quer saber outra boa?

Conte.
Era amigo do João Bartolomeu, presidente da U. Leiria, e cheguei a indicar-lhe jogadores como Bilro, Porfírio e Poejo. Antes, os irmãos Chow. Eram centrais, cuidado com eles: bons, muito bons. Perderam-se, mas eram craques na formação. Via-os a jogar e pareciam o futuro do Sporting. Outro jogador do futuro era o Mantorras. Que força. Vai muito à Churrasqueira, pede sempre a minha sangria de espumante.

Pois, já falámos muito de bebidas.
Nunca mais me esqueço do Jardel. Uma vez, já na fase mais frágil dele, almoçou uma dose de bacalhau, uma de cabrito e garrafa e meia de verde. Depois foi treinar para Alcochete. Já estava noutra, tsss tsss.

E presidentes: João Rocha?
Cinco estrelas, dava gosto trabalhar com ele. Tinha uma casa na Estrela, com piscina e discoteca. Nunca vi nada daquilo, os filhos dele tinham todo o equipamento de som dentro de casa. Daí o nascimento de Kapital e Kremlin. Jantei duas vezes em casa do João Rocha. A famosa paella feita por ele. Nesses jantares, era só vedetas entre comandantes, generais, comendadores e eu ali no meio.

E o Sousa Cintra?
É um louco do caraças. Sentava-se de lado e passava o tempo a olhar para toda a gente.

E o Jesus?
Acompanhei-o mais como jogador do Sporting do que agora.

Quando?
Júnior e sénior, quando era suplente de Yazaldes e Manéis Fernandes. Um dia, apareceu-me lá como treinador do Felgueiras e ficou espantado em ver-me. Imagino agora, ahahahah.

Imagino eu, o espanto das pessoas que o encontram anos depois.
É um fartote. Já lhe falei do Jordão, mas há casos e casos. O António Oliveira foi outro exemplo, quando era comentador. Da SIC; se não me engano. Falei ao Toni, que também entrava no painel, e o Oliveira ligou-me no dia seguinte para metermos a conversa em dia. E há jogadores que nunca mais vi. Como o Keita, por exemplo. Isto das conversas serem iguais às cerejas é mesmo assim.

Ai sim?
Lembrei-me de uma outra história, com o Jaime Pacheco. A Churrasqueira fechava ao domingo à noite e convidei-o mais a namorada para ir comer um cabrito à minha casa. Nós gostávamos do vinho Solar das Bolsas. Já bem bebidos, tive coragem de lhe perguntar sobre a força do Porto no futebol português. E ele disse-me, há uns 30 anos hein?!, disse-me isto: ‘João, vou contar-te, não digas a ninguém: quando o delegado ao jogo entrava no balneário do árbitro, entregava as fichas dos jogadores titulares e uma nota de 100 dólares.’ Amigo Rui, vamos embora?

Siga a marinha (Santo Antonio dos Cavaleiros, Calçada de Carriche, Avenida Padre Cruz e Churrasqueira a falar do Bela Katzirz)
Um dia, convidei-o a ir lá a casa. Mal entrou, tirou os sapatos. ‘Desculpa lá, João, eu sou assim.’ O Bela. Chegou para o lugar do Meszaros, que foi campeão pelo Sporting em 1982 e depois cometeu aquela gafe dos passos a mais dentro da grande área em San Sebastian, com a Real Sociedad, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões. Foi livre indirecto e golo. Que sina!