Recordo com saudade a minha passagem pela Turquia. País cheio de história, invadido por uma vasta gama de povos. Quando passei por lá, um artista local, de seu nome Tarkan, fazia um enorme sucesso com o seu hit do momento, “şımarık”.

şımarık é sinónimo de “sassy”, ou seja, atrevido em Português, no entanto a canção ficou conhecida por “kiss kiss” ou música do beijinho e, entre muitos outros versos, reza o seguinte:

“She’s lined her eyes with mascara
Her lips coquettishly bright red
Flaunting in front of me audaciously
Grinning, merely to spite me

We weren’t raised that way
She’s making us look like a fool
New customs have come to town
Boys, we’re lost

You vamp you
You lure the snake from its place
My fate’s crazy adventure
If I get a hold of you (kiss kiss)”

Eu sei. Tudo isto é estranho, mas quero partilhar convosco o que passou pela minha cabeça, quando vi o nosso ilustre Presidente a enviar “bitocas” aos “arruaceiros minoritários”, que preenchiam de forma maioritária, o Pavilhão João Rocha.

Fiquei impávido a ver a cena – aquele que prometeu união, estava a provocar uma parte dos sócios presentes, através de um “kiss kiss”. Não sabia o que pensar ao ver “aquilo”. A minha mente viajou. Tal cena poderia até ser considerada como “razoável”, se Frederico Varandas fosse líder de um partido político, enquanto fazia um discurso, mais incisivo, num qualquer parlamento, em direção aos deputados de fações opostas ao seu partido.

No entanto, não estávamos num parlamento, nem o Sporting é um partido político e nem nessas dignas assembleias se devem expedir bitocas em direção à oposição. Bem sei que por aquilo que se lê na blogosfera, o Sporting poderá estar neste momento dotado de vários jovens caciques, de juventudes partidárias, cuja logística e conhecimento ajudaram nas operações eleitorais destitutivas de 23 de Junho, no entanto, quando vi o meu Presidente a “oscular”, provocatoriamente, a sua massa associativa, com uma pose de “Atatürk do Campo Grande”, entendi que naquele momento, o mesmo não tinha capacidade para perceber e interpretar o seguinte:

i. Foi eleito sem ter sido o candidato mais votado;
ii. O orçamento para esta época foi aprovado com dificuldade e por uma maioria reduzida, ao contrário do relatório de contas, referente ao último ano da direção anterior;
iii. Os sócios que agora são chamados de arruaceiros e minoritários também se sabem exprimir de forma ordeira e estão a começar a organizar-se;
iv. Os arruaceiros são uma minoria nesta minoria maioritária;
v. Os truques “democráticos”, levados a cabo pelos ilustres membros da mesa, foram quase insuficientes para ajudar nas iniciativas deliberativas desta direção;
vi. A restruturação apresentada é um pequeno aprimoramento daquilo que já tinha sido avançado pela direção anterior, o que leva os associados a questionarem-se sobre a relação entre o tempo despendido por esta direção para tratar deste tema e os seus resultados efetivos;

Outra coisa que me chamou a atenção foi o convívio, heterogéneo e genuíno, entre sócios do Sporting. Fora do PJR, na zona de fumadores, encontravam-se velhos e novos, ricos e pobres, urbanos e periféricos, cultos e iletrados, irrascíveis e temperados, homens e mulheres. Tudo tranquilo a trocar ideias sobre o clube e sobre os acontecimentos da AG. Este momento confortou-me a alma. Pensei – o Sporting mudou e para melhor. Está mais plural e ativo e isso já ninguém muda.

Mas voltemos às “bitocas” do nosso Presidente e ao comportamento dos ilustres membros da direção.

Durante os seus discursos, ouviu-se muitas vezes a palavra “missão”. Ficámos assim a saber que Frederico Varandas e “sus muchachos” são os novos Jesuítas desta bela América Latina, que é o nosso Sporting. Tivemos um responsável das modalidades a assumir que o Sporting e o seu Jornal tinham estado mal na questão do Jorge Silva, como quem diz – “Se estive mal em roubar laranjas? Estive, mas quem as pôs ali à beira no passeio, mesmo à mão de semear, também esteve”.

Ora, acontece que entendo que ficaram perguntas de maior relevância por responder: mas por que raio o Sporting tinha motivos para estar mal com Jorge Silva? Qual foi o comportamento que o atleta teve para motivar o Sporting a “estar mal”? Não foi profissional? O que será que Jorge Silva fez ou disse que levou o Sporting a censurar ou reprovar o atleta campeão do mundo (e não apenas europeu)?

Adiante. Já João Sampaio, teve um discurso que merecia o seu contraditório. Este sócio foi presidente de mesa da SAD, durante os anos de Bruno de Carvalho. Ele bem saberá que os aumentos remuneratórios da anterior SAD, foram aprovados em sede de assembleia geral do Clube. Uma cortesia que fica bem e que é aconselhável a qualquer direção. Sem querer parecer incoerente, é por este e por outros casos que entendo que uma AG devia funcionar numa lógica um pouco mais parlamentar, ou seja: a mesa e quem discursa devem ser interpelados com pontos de ordem e com pedidos de esclarecimento. De outro modo, quem discursa fala sem ser sindicado e a mesa vai conduzindo os trabalhos sem ser controlada. Só assim evitaríamos requerimentos rejeitados sem fundamento, ou apenas esquecidos pela mesa, assim como a responsabilidade de justificar o que é dito numa AG seria mais elevada.

Mas enfim, voltemos ao discurso do nosso ilustre timoneiro. Quando passei uns dias no Brasil pude constatar que o funk tinha bastante impacto nas atividades lúdicas e festivas daquele país. Quando estava a sair da AG, ainda com a interpretação de Frederico Varandas do “şımarık” na minha cabeça, pensei cá para mim – tenho de escrever sobre isto. Não posso guardar para mim o que vou sentindo na alma, com aquela atitude de “kisses pra’ malta que sou um ganda boss”.

Qual é a intenção deste ato? Qual é o seu conteúdo? Qual é o seu propósito?

Dou por mim a pensar que Frederico Varandas deve achar que quem contesta é ressabiado ou está de mal com a vida. Será que pensa isto? Ou será que pensa que quem o contesta o faz por mal carácter ou por ser aquilo que hoje se designa por “hater”?

Na verdade, começo a achar que sim, apesar de ficar assustado com esta ideia. Se assim for, fico na dúvida. Será que aquela bitoca foi no tom carinhoso e atrevido do Tarkan, com o seu “şımarık”? Ou será que Frederico Varandas teve outro tipo de epifania, sendo o seu beijinho mais na onda de:

“Desejo a todas inimigas vida longa
Pra que elas vejam a cada dia mais nossa vitória
Bateu de frente é só tiro, porrada e bomba
Aqui dois papos não se cria e nem faz história

Acredito em Deus e faço ele de escudo
Late mais alto que daqui eu não te escuto
Do camarote quase não dá pra te ver
Tá rachando a cara, tá querendo aparecer”

Não sei o que vos diga. Terá sido o gesto do nosso Presidente um mix de atrevimento do Tarkan com a ferocidade da Valesca Popozuda? Ou apenas Valesca Popozuda? Da minha parte, nunca pensei pensar ao mesmo tempo em Frederico Varandas, Tarkan e Valesca Popozuda. É uma grande confusão intelectual.

Só espero que estes acontecimentos passem rápido, pois precisamos de nos focar no que verdadeiramente é essencial – Mister Silas, bora pôr os rapazes a jogar à bola e a suar a camisola!

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Bucefalus, The Great
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]