O blogue Modalidades Sporting publicou uma entrevista muito interessante com o mister Thierry Anti que vos convido a ler aproveitando, também, para convidar-vos a visitar este cantinho leonino.

Monsieur Anti, está a gostar de Lisboa e de Portugal? O que gosta mais no nosso país/cidade? Gosta mais da cozinha francesa ou portuguesa?
Anti: Eu gosto de Lisboa. Gostaria de visitar o norte, o sul, as ilhas, mas não tenho tempo. Espero poder… Sinto-me bem aqui, mas sou francês e nasci em Paris, por isso não quero comparar a cidade, o país ou a cozinha!

Já conhecia o Sporting? Já tinha visto algum jogo da equipa de andebol antes de assinar?
Anti: Nunca joguei contra o Sporting. Nem com o Créteil, nem com o Paris Saint Germain, nem com o Nantes, mas eu segui os resultados e assisti a alguns jogos da última temporada. Depois de saber que vinha para o Sporting muito tarde (final de Junho), finalmente eu assisti aos dois jogos contra o Veszprém.

Quando é que percebeu que o Sporting era um grande clube da Europa – quando entrou no museu, ou quando percebeu que seja em que pavilhão for, estão sempre adeptos do Sporting a puxar pela equipa?
Anti: Um clube que tem um museu significa que tem uma história. Eu amo a história: do mundo, de um país, de um homem, de um clube; Isso dá-me uma emoção. É o que eu acho que é diferente aqui. É como uma família. Há uma identidade forte e que logo me invadiu. Foi muito importante na minha decisão de vir para cá.

Nos treinos, é um treinador mais sério, ou um treinador mais descontraído? É próximo dos jogadores ou acha que tem que haver um certo distanciamento?
Anti: O treinador deve ser um líder. Ele deve mostrar o caminho e convencer os jogadores a segui-lo. Tenho uma mão de ferro numa luva de veludo, mas preciso de uma aventura humana com os jogadores: viver momentos de alegria, de dor, permanecendo unidos.

E como é que tem visto a evolução da equipa? O caminho ainda é longo até chegarem aquilo que pretende?
Anti: Em França, temos sempre uma grande exigência. Nós ensinamo-la aos jovens, aos profissionais, sempre! No treino, no jogo, ao longo da temporada. É um nível muito alto… Nunca cair no caminho mais fácil!
Aqui há hábitos a mudar… A equipa precisa disso e de alguns novos jogadores para estar no nível mais alto. Leva tempo, mas estamos a avançar!

No andebol actual, cada vez mais se vêem mais equipas a praticar um andebol mais rápido no ataque. Acha que esse é o futuro do andebol, ou no final das contas, peso e altura ainda ganham jogos?
Anti: Há já algum tempo que o andebol se tornou mais rápido. A regra do “contragolo” mudou muitas coisas (“contragolo” = reposição rápida = possibilidade de uma equipa poder atacar, após sofrer um golo, sem ter que esperar pelo recuo da equipa adversária). Os jogadores mais pequenos recuperaram o seu lugar neste jogo. Depois, numa equipa e, em função da táctica, todas as morfologias são possíveis, mas um jogador grande que defende mal e não corre depressa, para mim é uma desvantagem. Em seguida, permanece o problema do pivô, um ponto de fixação. E lá está completamente dependente da arbitragem. É tolerante, e como? Estou surpreso aqui com a apreciação da defesa no pivô; nós somos muito mais severos em França.

Então, como podem equipas mais altas e lentas combater equipas mais baixas e rápidas? Passa pela atitude defensiva ou uma mudança de estratégia, defendendo mais nos 6m?
Anti: É difícil para jogadores grandes defender diante de jogadores pequenos, rápidos e móveis. É preciso saber como fazê-lo e adaptar a sua equipa para isso. Ficar nos 6m nem sempre é uma boa solução, pois os duelos podem ser facilmente punidos com uma penalidade.

Se tivesse que escolher, o que preferia: uma boa prestação defensiva ou uma boa prestação ofensiva?
Anti: Prefiro um bom desempenho ofensivo. Nós temos que proporcionar um espetáculo bonito. Temos a sorte de ser pagos para isso. Nós temos que pensar nos espectadores. Estou a trabalhar na defesa para ganhar balões (de oxigénio) e usar o grande espaço (contra-ataque) para marcar golos. E isso permite-nos ter fracassos no ataque…

O que pode um jogador estrangeiro com uma grande carreira, como o Vujin, o Ruesga ou o Nikcevic, acrescentar ao andebol português e, neste caso, ao Sporting?
Anti: Acho que podem trazer mais profissionalismo e rigor nos treinos e nos jogos. Um pouco de tática, por vezes, mas, sobretudo, enriquecer a cultura dos jogadores portugueses que não saem muito do país. Contar-lhes o que está acontecendo noutros lugares e como é muito mais difícil, mais exigente e com um nível muito alto.

Na próxima época, o formato da Champions League vai mudar. Acha que é ainda mais fundamental este ano ser campeão nacional?
Anti: A Liga dos Campeões deve ser, acima de tudo, uma competição para os campeões. Haverá ainda dois países que poderão ter duas equipas. Eu não quero uma liga fechada, mas é preciso manter a recompensa desportiva. Só o campeão a merece.
Em contrapartida, o Campeonato da Europa será melhor e mais interessante. Agora, para jogar a Liga dos Campeões, a única solução passa por ser campeão! E participar vai dar muito dinheiro a cada clube…

Gostava de ir a Colónia (Final 4) com o Sporting? Acha possível o Sporting ou outra equipa portuguesa lá chegar no futuro?
Anti: Colónia é o melhor andebol do mundo. Melhor do que tudo! Eu vou desde 2010. Em 2018 joguei a final. Dessa vez, eu estava no campo, não nas bancadas. Quero voltar, mas só se for para ganhar! Para chegar até Colónia tens que ter uma equipa muito boa. Para ganhar em Colónia tens que ter uma equipa maravilhosa.
Desejo que um clube português consiga chegar à Final Four. Se pudesse ser o Sporting e comigo como treinador… Seria incrível! Mas há muita coisa a faltar neste momento.

E agora, para terminarmos, do Sporting, qual o jogador mais brincalhão e qual o mais sério?
Anti: O mais brincalhão? Talvez o Frankis. O mais sério? Talvez o Yvan (Nikcevic).

Merci beacoup Monsieur Anti. Merci d’être venu au Sporting Clube de Portugal et bonne chance pour le reste de la saison!

*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na blogosfera verde e branca