A exibição voltou a ser cinzenta e Bruno Fernandes voltou a decidir. É o filme da justa (e à justa) vitória do Sporting no regresso a Barcelos, somando três pontos que lhe permitem continuar a respirar na Taça da Liga

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Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que nao faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual

Numa altura em que se celebra o 75º aniversário do nascimento de António Variações, sou gajo para afirmar que este nome maior da música nacional foi capaz de escrever uma canção que é o retrato fiel do actual Sporting.

Um Sporting que, com mais mudança menos mudança e com Silas a matar a narrativa de que o balneário havia exigido estabilizar em 4-3-3 ao iniciar o jogo em 4-4-2, foi, ao longo dos primeiros 45 minutos, igual ao que havia perdido no domingo, neste mesmo estádio, frente a este mesmo adversário. A diferença, como diria Emanuel Ferro com um brilhozinho de orgulho no olhar, foi que não sofremos golos. E até marcámos um, bem anulado por fora de jogo a Bruno Fernandes.

45 minutos penosos, sem ideias, com futebol mastigado e sem uma aceleração que fosse para desmontar a teia defensiva de um adversário que se dava ao desplante de apresentar oito ou nove mexidas na equipa tipo e por duas ou três vezes ameaçou a baliza do regressado Renan.

No segundo tempo, mesmo sem mexidas, a equipa surgiu mais solta e mais agressiva, como se percebesse que, efectivamente, tinha que ganhar o jogo. Bruno Fernandes falhou de forma inacreditável, já dentro da pequena área, Bolasie marcou um golo que foi anulado e Luiz Phellype obrigou o redes à defesa da noite. O golo justificava-se, mesmo sem brilho, mas o tempo passava e a ausência de ideia acentuava-se.

As substituições foram um verdadeiro desafio à compreensão dos adeptos e entramos para os dez minutos finais sem um homem de área em campo, provavelmente na esperança que uma bola perdida acertasse na franja do Zezé. Claro que tal não aconteceu, claro que Bruno Fernandes acabou a decidir, aos 89′, de livre directo, na cobrança de uma falta que ele mesmo sofreu. E já com Acuña a tomar duche de água fria, o camisola oito ainda assistiu Vietto para o 2-0, na conclusão de uma exemplar saída em contra ataque.

Depois falou-se em sonho de estar na final four e voltou a dizer-se que já no domingo merecíamos outro resultado. Como se estivesse tudo bem, dos jogadores que não sabem dominar uma bola ao fio de jogo inexistente. Zero sinais de vontade de mudar. E até se tolerava esse discurso, se as vitórias se fossem acumulando. O problema é que, agarradinhos a estes pequenos balões de oxigénio, estamos muito mais perto de perder.

É p’ra amanha
Bem podias viver hoje
Porque amanha quem sabe se vais ca estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que esta p’ra durar

Ficha de jogo
Gil Vicente-Sporting, 0-2

2.ª jornada do grupo C da Taça da Liga
Estádio Cidade de Barcelos
Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Gil Vicente: Denis; Alex Pinto, Ygor Nogueira, Edwin Vente, Arthur Henrique; Isaiah, João Afonso, Leonardo (Soares, 77′); Romário (Samuel Lino, 70′), Lourency (Erick, 70′) e Naidji
Suplentes não utilizados: Bruno, Juan Villa, Rúben Fernandes e Sandro Lima
Treinador: Vítor Oliveira

Sporting: Renan; Ristovski, Coates, Neto, Acuña; Miguel Luís (Rafael Camacho, 55′), Doumbia, Wendel, Bruno Fernandes; Bolasie (Vietto, 83′) e Luiz Phellype (Jesé Rodríguez, 77′)
Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Tiago Ilori, Rosier e Eduardo
Treinador: Silas

Golos: Bruno Fernandes (89′) e Vietto (90+4′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Acuña (26′ e 90+2′), João Afonso (26′), Bruno Fernandes (27′), Ygor Nogueira (27′), Wendel (57′), Romário (57′), Coates (80′), Ristovski (84′), Edwin Vente (87′) e Soares (90+2′); cartão vermelho por acumulação a Acuña (90+2′)