Esta longa paragem de Natal e Ano Novo coincide, quase perfeitamente, com o meio da época. Tal como na semana passada, este é um bom momento para balanços. Estou um pouco receoso do que podemos esperar da equipa. Normalmente deixo que o otimismo tome conta das minhas palavras, desta vez tentarei que seja a objetividade. Vamos por partes:

Campeonato Nacional:
Em termos gerais, poderíamos estar satisfeitos com a atuação e posição da equipa. Vem da 2ª divisão e está, neste momento, em 6º lugar a 4 pontos do 4º lugar. Relembro que os 4 primeiros classificados disputam o playoff de campeão. Está realmente tudo em aberto.
No entanto, durante esta fase da época, assistimos a alguma inconsistência que pode justificar este 6º lugar. Das 6 derrotas há 3 pouco entendíveis: Castelo da Maia GC, Porto Volei e AVC Famalicão. Nos dois primeiros casos porque somos melhores e com o AVC porque não somos assim tão más. O meu receio é continuarmos com oscilações entre vitórias e derrotas e não manter uma estabilidade de vitórias. Será uma luta muito renhida onde há 7 equipas para 4 lugares (e 3 deles parecem já atribuídos).

Plantel:
O plantel tem carências fáceis de identificar para quem acompanha de fora. Nomearei 2 delas, sendo uma de cariz técnico e outra psicológica.
Há lacunas através das centrais. Não que sejam más, mas porque estão num nível competitivo acima do seu, notando-se mais quando jogamos com as melhores equipas. Seria estranho que isto não acontecesse com jogadoras onde a média de idade é inferior a 20 anos. Em todas as outras posições, há uma performance equilibrada, apesar de, na minha opinião, ainda jogarmos aquém da capacidade da equipa.
Ao nível psicológico somos um estranho caso de estudo. Quando estamos bem, somos muito boas, quando estamos mal somos más. Quero dizer que a confiança afeta diretamente o desempenho das nossas jogadoras. Falta alguma inteligência emocional. É normal que um momento mais/menos bom num set afete de alguma forma, mas o foco/concentração pessoal serve como travão desses mesmos excessos. Os melhores atletas do mundo chamam-lhe “Eye of the Tiger” (precisamente como a música).

Melhor jogadora: Fernanda Silva
Já falei muito da Fernanda e não me quero repetir. Neste caso, o melhor elogio que lhe posso fazer é chamar-lhe jogadora profissional de voleibol. Não é só jogadora de voleibol, não é só jogadora profissional de voleibol em Portugal.

Revelação: Carolina Garcez
A grande surpresa da época. Não a conhecia e estou admirado com o seu potencial. Quando a vi jogar pela primeira vez, em Matosinhos com o Leixões SC, achei que podia ter sido “sorte de principiante”. Felizmente enganei-me. A Carolina joga bem, mas a sua grande capacidade é mental. Eu vi as adversárias a jogarem para o erro dela, eu vi as colegas a exigirem mais esforço e a Carolina não tremeu. Errou, sem tremer.
Não conheço muitas atletas, muito menos de 18 anos, com a capacidade de não se autodestruir com tanto (de menos bom) acontecer à sua volta. Repito-me dizendo que não é a melhor do mundo, e não era suposto, mas tem a qualidade para ser a melhor líbero portuguesa em breve. Se a parte psicológica, tão difícil de conseguir, já a tem, a parte técnica vem com o treino e a competição.

Destaque:
Falta um nome aqui. Também na minha cabeça não consegui chegar a ele por isso resolvi não atribuir a ninguém. A razão é simples. Uma equipa que está abaixo das expetativas, pelo menos das minhas, num modesto 6º lugar não pode ter destaques. Tive nomes na cabeça, claro. Cheguei a 3 nomes que gostava muito de ter escrito: Kate, Bruninha e Ana Couto.
A Kate vem de uma grande época onde foi um destaque evidente. Este ano não está nos mesmos patamares. Tem qualidade para a 1ªdivisão e deve ganhar confiança e mostrar isso.
A Bruninha tem jogado mal? Não. Tem sido fantástica? Também não. Portanto, uma jogadora que foi campeã nacional não pode ser normal ou pouco visível. Tem de rebentar com tudo. As suas qualidades fazem dela uma das melhores atletas da liga, tem de aparecer mais.
Deixo para último a Ana Couto (suspiro). Esta nossa atleta é tricampeã nacional, tem um passe lindo e a experiência que é necessária. Então, faço as mesmas questões: Tem jogado mal? Não. Tem sido incrível? Não. Um dia, depois de um jogo intenso, um treinador veio ter comigo e perguntou-me: “Num desporto coletivo como o voleibol, um jogador sozinho ganha um campeonato?” A minha resposta foi não. Ele concordou, mas colocou uma ressalva: “Sim, tens razão exceto se esse jogador foi distribuidor e brilhante.”

Desilusão:
A estrutura diretiva do voleibol do Sporting não está à altura do clube. Primeiro a escolha de Miguel Pombeiro (desaparecido) para diretor e a sua pseudo substituição por alguém (quem?). As discrepâncias de tratamento para o segmento feminino no Sporting são mais que evidentes, o voleibol não é exceção.
Deixo um desejo. Esta equipa podia ter uns ajustamentos. Diria dois. Uma central e uma atacante z4. A central ajudaria numa posição frágil da equipa e a atacante viria morder os calcanhares à Fernanda e Bruninha.

Golden Set
Nestes dias jogou-se em Viana do Castelo a Viana Cup. O clube mais representado no torneio foi o Sporting Clube de Portugal com cerca de 80 atletas. Contar isto já seria prestigiante. No entanto, as meninas, os seus pais e os seus treinadores resolveram ir mais longe e arrepiar quem se orgulha em ser sportinguista.

As Modalidades contam;
O desporto feminino é importante;
As jovens atletas do Sporting têm alma leonina

Viva o Sporting!

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)