Se o Sporting jogasse sempre assim, seriam poucas as vezes em que perderia. Seria necessário falhar uma mão cheia de golos de baliza aberta e oferecer dois golos ao adversário. Exactamente o que aconteceu no clássico

Sporting vs FC Porto

Estas são as derrotas que mais custam aceitar. Quando se vê a nossa equipa a não conseguir criar jogo, a não criar oportunidades e a ter jogadores a fazer figura de corpo presente, gera-se um sentimento de revolta e a vontade de virar-lhe as costas. Quando, pelo contrário, vês os jogadores a disputar cada lance até terem pernas, a meter o adversário lá atrás e a criar oportunidades de golo que dariam para ganhar o jogo tranquilamente, gera-se um sentimento de irritação e frustração que alguém, iluminado, certamente, um dia conseguiu sintetizar num “foda-se!” vindo das entranhas.

Em noite de clássico, onde o Sporting jogava a última cartada de esperança no que toca à luta pelo segundo lugar da tabela e o fcp estava impedido de escorregar para não deixar fugir o benfica, este que vos escreve perdeu a conta às vezes que soltou um “foda-se!” vindo das entranhas. E começou cedo, logo aos cinco minutos, quando o catrapila do Marega apanhou o Coates, o Ristovsky e o Max a dormir e transformou, tranquilamente, um passe de não sei quanto metros do Corona no primeiro golo da partida.

Depois seguiram-se cerca de 25 minutos de futebol embrulhado, sem qualidade, onde Pepe acabou a sair lesionado, onde Coates ameaçou de cabeça, Nakajima tentou um golaço e Alex Telles escapou à expulsão ao não ver o segundo amarelo. Até que Bruno Fernandes e Vietto começaram a conseguir sair das zonas de pressão, encontraram espaço para jogar e inspiraram-se na raça de Acuña para agarrar o jogo. E porque o karma nem sempre castiga o mesmo lado, seria o argentino, que já tinham tentado provocar algumas vezes, a conseguir o empate: grande recuperação de bola a meio-campo, antecipando-se a tudo e todos na reposição de bola de Marchesín, e finalização em fúria, fuzilando o redes, depois de grande assistência de Vietto por baixo das pernas de Mbemba. Ficava tudo em aberto para a segunda parte.

E que segunda parte fez o Sporting, pelo menos até voltar a sofrer um golo, aos 72 minutos, altura em que, na sequência da marcação de um canto, a defesa leonina voltou a ficar a dormir e permitiu a Soares cabecear sem oposição.

Mas antes disso, com Acuña e Vietto a dinamitarem a esquerda, Wendel e Bruno Fernandes a serem capazes de jogar entre linhas e Luiz Phellype a ser capaz de ganhar quase todas as bolas que disputava, o Sporting teve oportunidade de deixar o adversário ko. Com as linhas bem subidas, os Leões foram autoritários, pressionaram e ganharam o meio-campo e jogaram a toda a largura do terreno.

Vietto desperdiçou a primeira oportunidade, levando a bola a embater com estrondo no poste. Novamente pela canhota, Acuña sacou cruzamento à medida da cabeça de Phellype que disparou em antecipação a rasar o poste. A avançado, depois de ver Bruno Fernandes rematar na passada para mais um momento de perigo, isolaria Vietto para um remate cruzado com sorte madrasta a empurrar a bola para um palmo ao lado do alvo. E como não há duas sem três, aos 63, Vietto, bem no coração da área, tentaria de pé direito o que não conseguia com o esquerdo, mas a bola passaria por cima da baliza adversária.

O Sporting tinha o adversário no canto, mas não conseguia desferir o golpe certeiro. E veio o balde de água fria e arrepio que Max evitou com uma mancha a Diaz, mantendo no jogo uma equipa que, já mais com o coração do que com a cabeça, não quis deixar de acreditar e que só percebeu que a noite estava mesmo ao contrário quando viu Coates subir onde ninguém conseguiu chegar e enviar a bola à trave da baliza de um já batido Marchesín, deixando a nação leonina de mãos na cabeça, num sentimento de irritação e frustração que alguém, iluminado, certamente, um dia conseguiu sintetizar num “foda-se!” vindo das entranhas.

Ficha de jogo
Sporting-FC Porto, 1-2
15.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto)

Sporting: Luís Maximiano; Ristovski (Rafael Camacho, 79′), Coates, Mathieu, Acuña; Doumbia (Gonzalo Plata, 79′), Wendel, Bruno Fernandes; Bolasie (Jesé Rodríguez, 86′), Vietto e Luiz Phellype
Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Tiago Ilori, Borja e Battaglia
Treinador: Jorge Silas

FC Porto: Marchesín; Corona, Pepe (Mbemba, 24′), Marcano, Alex Telles; Danilo, Uribe, Otávio (Sérgio Oliveira, 86′); Marega, Nakajima (Luis Díaz, 66′) e Soares
Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Wilson Manafá, Aboubakar e Zé Luís
Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Marega (6′), Acuña (44′) e Soares (73′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Uribe (17′), Acuña (22′), Alex Telles (29′), Bruno Fernandes (36′), Marcano (68′), Doumbia (71′), Soares (74′), Wendel (78′), Otávio (81′) e Jesé Rodríguez (90+1′)