Grande Vitória. Vai ser difícil encontrar as palavras certas para elogiar e elevar a vitória que aconteceu ontem no Pavilhão João Rocha. Apesar disso, vou fazer o meu melhor.

Chegamos à 16ª jornada e defrontamos o AJM/FC Porto. Uma equipa fortíssima, com um orçamento superior ao nosso e que chega como líder do campeonato com 15 jogos e 15 vitórias. Vamos assumir o que todos no voleibol sabem, o nosso adversário, esta época, foi montado para ganhar. Conseguimos ver tudo: dinheiro, capacidade e arrogância.

A nossa equipa tem feito um campeonato algo irregular, mas começou o ano de 2020 de uma forma diferente. Quem as viu jogar, e vencer, os jogos contra o Porto Volei e Castelo da Maia GC percebia-se, a milhas, uma mudança de atitude. Esta grandíssima vitória contra a AJM/FC Porto confirmou esta renovação. Vamos aos destaques:

Equipa
A vontade de ganhar jogos viu-se em dois momentos. (1) Quando as atletas, todas, sem treinadores, se fecharam em roda antes de começar o jogo. Aquilo foi demorado. Foi mesmo demorado. Quando vi isso só me apeteceu sorrir. Um sorriso de “elas sabem o que estão a fazer” e “estão com tudo”. (2) O outro momento é a forma como festejam. Sem euforia, sem excessos, sem desconcentrar. Tudo ao contrário disto! Alegria, foco, união e garra leonina.

Fernanda Silva
A AJM/FC Porto veio com a estratégia de servir para cima da Fernanda. Só um treinador muito desesperado acharia que isso ia resultar com a melhor jogadora do campeonato. A Fernanda é uma obra de arte, uma master piece. É impossível estragar, ou sequer, arranhar o que é perfeito. A Fernanda é perfeita.

Bruninha
Disse em Dezembro: “A Bruninha tem jogado mal? Não. Tem sido fantástica? Também não”. Quero reformular para 2020. A Bruninha tem jogado BEM? SIM. Tem sido fantástica? Também SIM! O ataque é claramente a sua praia. Neste jogo foi muito solicitada pela distribuidora, tanto em zona 4, como em zona 6. O seu poder de explosão no remate, juntamente com a sua capacidade de impulsão, fez a diferença e continuará a fazer para o resto do campeonato. Esta é a Bruninha! Esta é a grande Bruna Gianlorenço.

Bárbara Pereira
Estatisticamente, já a vi fazer melhor prestações em campo. No entanto, tacticamente esteve irrepreensível. Numa metáfora futebolística, imaginem um guarda redes com zero defesas, num jogo com 30 remates para fora da equipa adversária. Quer dizer que o guarda redes é tão bom e enche tanto a baliza que a necessidade de “fugir” dele, obriga ao erro. A Bárbara foi a nossa guarda redes. A incapacidade da AJM/FC Porto fechar pontos deve-se a uma ótima marcação de bloco da nossa atleta. Os Simon & Garfunkel descreveriam bem a sua exibição. The sound of silence. Esteve brilhante no decisivo 23-20 no 1º set.

Amanda Cavalcanti
É jovem. Tem potencial. Serviu bem e fez os seus pontos. Jogou (e joga) o suficiente para não baixar a cabeça depois de falhar. Depois de falhar não pode sair um “porra”, tem de sair um “para a próxima sai perfeito”. Devo destacar a sua constante atenção na rede, sempre em movimento e disponível para o bloco ou proteção ao ataque das colegas. Jogou contra umas das melhores centrais da liga e elas viram-se f*** lixadas.

Ana Couto
Obrigado! Obrigado! Obrigado por estares! O passe é limpo, perfeito e lindo. Parece-me o melhor jogo que fez com o leão ao peito. A sua concentração e garra contagia até quem não está a jogar. É o Eye of the Tiger. Leu bem o jogo, distribuindo com pluralidade, no entanto, sempre atenta aos seus 3 pontos de segurança: Bruninha, Fernanda e Maria Maio. Faz de tudo para que eu continue a ser seu admirador. Ai, aquele ponto aos 13-14 no 2º set. Podem-lhe pedir um autografo para mim, por favor?

Maria Maio
Na SportingTV, a comentador soltou que a Maria Mario “faz muitos pontos quando está feliz”. Ontem estava tão feliz! Recordo um post de há uns meses, quando contei que, no jogo em Matosinhos com o Leixões SC, comecei a ouvir uma atleta a cantar música do Sporting quando íamos servir. Era a Maia Maio. Ela canta-nos e encanta-nos. Ontem jogou muito bem, com destaque para o serviço e marcação de bloco. São dela os momentos decisivos do 2º set com um serviço e uma defesa de altíssimo nível. Está em boa forma e o Sporting agradece.

Daniela Loureiro
Cheguei/Cheguei chegando, bagunçando a zorra toda/E que se dane, eu quero mais é que se exploda/Porque ninguém vai estragar meu dia/Avisa lá, pode falar/Que eu cheguei. E chegou mesmo! A Daniela é uma grande jogadora de voleibol no sentido mais completo que isto possa ter. Um exemplo prático foi o que fez aos 25-22 do 1º set. Brilhante na recepção, brilhante na defesa, brilhante na comemoração dos pontos, brilhante no apoio às colegas e brilhante no confronto às adversárias. Se ainda não decoraram o nome, façam-no. Dani. Daniela.

Beatriz, Kate, Natali, Matilde
O jogo exigiu substituições e mudanças que serviram para acalmar, virar o jogo ou manter um ritmo importante. A Beatriz e a Kate foram bastante solicitadas, a Natali e a Matilde menos. De todas, realço a Beatriz com entradas em campo de qualidade e sem receio. Ajudaram, e muito, a esta vitória.

Rui Costa
Se tivesse de escolher apenas um nome a destacar, teria de escolher o treinador Rui Costa. O jogo pediu constantes alterações tácticas que, em alguns casos, implicava descontos de tempo, outros obrigava a substituições. A AJM/FC Porto quis explorar muito a nossa zona 1 de recepção e a Fernanda em particular. Isto obrigou a retoques e mais retoques para nunca se comprometer a performance da equipa. Se no papel não somos a melhor equipa do campeonato, na prática estas diferenças são atenuadas com a competência do nosso treinador.

Secção de Voleibol
Valha-nos o brio e competência de quem representa, aos olhos dos sportinguistas, o voleibol do Sporting. Estes, atletas e treinadores, são a pedra angular de uma seção incompetente, desorientada e anónima. (O João Fernandes é um oásis. Até ontem se percebeu na transmissão. Obrigado.) Um jogo que, para começar, não foi transmitido pela SportingTV. E até foi feita a antevisão ao jogo, durante a semana, mas é pouco. Os responsáveis continuam a praticar o “Marketing de Esperança”. Eles têm esperança que os adeptos apareçam. Não acontece. Quando não se faz nada, temos afluências reduzidas, como a deste jogo. Merecia mais adeptos.

Por último, é uma pena perceber que um reforço, nesta equipa, podia tornar um movimento de superação de vitórias, num movimento consistente de vitórias. Não há dinheiro, dizem. Eu cá digo que não há é capacidade de perceber onde o gastar.

Em resumo, posso dizer que foi uma grande vitória do Sporting Clube de Portugal. Espera-se uma continuidade nos próximos jogos para que um sonho comece a ser possível de ser tornado realidade. Parabéns a todas!

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol) – esta semana o homem emocionou-se tanto que bateu a bola antes do tempo!