«E então, ó Cherba, ainda achas que não devíamos ter feito acordos com os jogadores?»

A pergunta foi-me feita algumas vezes desde que saiu a notícia de que a FIFA não tinha dado razão ao Sporting nos casos das rescisões de Rafael Leão e Ruben Ribeiro, um bocado ao jeito daquele gajo que te diz que não devias ter escolhido aqueles números no euromilhões depois de ter sido realizado o sorteio. Mas, vamos lá.

Sim, ainda acho que não devíamos ter feito acordos com os jogadores e que não devíamos ter desistido das acções de tribunal. Dizer-vos o contrário, e peço desculpa se vou ferir susceptibilidades, faria de mim um gajo parvo.

Recapitulando:
– continuo a achar que em termos de gestão empresarial o que Bruno de Carvalho fez – incompatibilizar-se com os principais activos, os jogadores – foi uma profunda estupidez
– continuo a achar que os principais culpados disto tudo são os imbecis que resolveram ir à Academia agredir os jogadores
– continuo a achar que, na sua maioria, os jogadores que rescindiram o fizeram por aproveitamento da situação, vendo uma janela de oportunidade para se pôr ao fresco, seja porque quisessem mudar de campeonato, seja porque estavam incompatibilizados com o presidente
– continuo a achar que a nenhum deles devia ter sido aberta a porta do regresso e que devia ter-se começado do zero com quem tinha querido ficar e com os miúdos que acabámos por emprestar e desperdiçar
– continuo a achar que devíamos ter lutado até final na barra do tribunal. No TAS, não na FIFA, sem abdicar dos serviços do advogado especializado

Agora, é fácil vir dizer o que a capa do Record vomita, hoje: do que o Sporting se livrou! Tínhamos perdido cento e tal milhões!

Talvez sim, talvez não. Alguém pode garantir isso, caso não tivéssemos sido os primeiros a dar um passo atrás e a mostrar-nos conformados com a ideia de que podíamos “não ter assim tanta razão”?

«E então, ó Cherba, ainda achas que não devíamos ter feito acordos com os jogadores?»
A pergunta, já respondida, torna-se ridícula pelo tom em que é feita e que a torna, infelizmente, em mais um daqueles momentos em que as guerrilhas e os odiozinhos pessoais se sobrepõem a tudo. Como se o facto de achar tudo o que já disse achar acima, fizesse com que eu ficasse incomodado com o facto de termos ganho muito dinheiro com o Bruno Fernandes. Ou como se esta decisão da FIFA, passível de recurso, fosse uma derrota pessoal, tal como uma decisão contrária serviria de arma de arremesso contra quem defendeu os acordos. O Sporting, esse, vem logo a seguir.