É mesmo verdade. O sorriso sarcástico passou ao completo choque e parece que é mesmo verdade: o Sporting acaba de depositar 10 milhões de euros nos cofres do Braga para contratar o seu treinador interino, que venceu 10 dos 13 jogos que disputou na sua carreira.

Se não fosse trágico e um sinal alarmante (mais um) do completo desnorte que se vive em Alvalade, seria um daqueles episódios cómicos do futebol português que comentamos no café daqui a uns anos. Assim, desconfio que ficará mais o trauma que outra coisa qualquer.

Rúben Amorim é hoje o terceiro treinador mais caro da história do futebol mundial, apenas superado por outros dois portugueses: André Villas-Boas e José Mourinho. O primeiro venceu tudo com o Porto, o segundo venceu tudo e o terceiro… é o Rúben Amorim.

E, depois de ultrapassado o pânico inicial e de passar cerca de 24 horas a rir-me nervosamente para uma janela, não posso deixar de admirar a confiança com que Frederico Varandas assume um dos episódios mais caricatos dos últimos anos, durante a pior época desportiva da história do clube que lidera. Quem oiça falar o presidente do Sporting, pagar 10 milhões por um treinador com 13 jogos de experiência é normal. Que o ex-treinador o tenha anunciado em conferência também é normal. Que tudo isto se passe depois do segundo despedimento da temporada, não só é normal como deve ser encarado com alegria. Afinal, que motivos de desconfiança podem ter os sportinguistas depois dos meses de absoluto sucesso nesta gestão de activos?

Parece que Rúben Amorim é o homem certo para o projecto certo. Como é que a estrutura do Sporting teve conhecimento dos absolutos dotes de milagreiro do ex-técnico do Braga, deverá permanecer um mistério. Mas estou convicta que apenas nessa circunstância se arriscaria tanto (é a segunda maior compra da história do clube) em alguém que provou tão pouco.

Rúben diz que conhece a dimensão do Sporting, mais como adversário do que como outra coisa qualquer, e acredita muito no que está a ser planeado. Não promete milagres (como não?) e vai deixar que sejam o trabalho e as vitórias a fazer o barulho. E, perante isto tudo, ainda existem sportinguistas com coragem de dizer “a partir de agora resta-me desejar-lhe sucesso”. Podemos todos escolher iludir-nos de que isto se trata de um passo na direcção certa (ou em qualquer direcção), mas desconfio que seria melhor desejar-lhe noção.

Resta-nos admirar todos os protagonistas deste episódio, que continuam a falar de um projecto excitante e entusiasmante para esta instituição centenária. Mas qual projecto? Qual o plano para a formação? Vamos recuperar /promover jovens jogadores? Os atletas que foram comprados para a próxima temporada têm o aval deste treinador? Qual o objectivo para o final desta temporada? Como vamos cobrir a ausência do dinheiro da Champions League? O orçamento vai manter-se? Faz sentido continuar a gostar de futebol depois disto? Alguma coisa do que pensávamos sobre este desporto está certa? Sabiam que os peixe-palhaço podem mudar de sexo?

O Rúben Amorim nem tem culpa. Não deve ser mau rapaz e acredito que se entregue com tudo o que tem à sua profissão (quem não o fez nos primeiros meses de trabalho?). Mas tudo isto é demasiado mau para inspirar qualquer tipo de esperança.

O Sporting está órfão de competência, de talento, de dinheiro, de objectivos desportivos, de noção e de entrega da massa associativa. A solução não é, não podia ser, um ex-jogador mediano convertido em treinador por força das circunstâncias, que superou as expectativas mas a quem a realidade começava a apanhar. No fundo, este texto é um apelo para todas as pessoas que tomam decisões no Sporting: por favor parem de tomar decisões. E, no caminho, ofereçam-me um bocado do que quer que seja que andam a tomar.

*quando a mostarda lhe chega ao nariz, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa