Aproxima-se mais um Dia Internacional da Mulher e, como tem sido hábito, o Sporting celebrará a data durante o jogo da principal equipa de futebol.

Durante a semana, muitos foram os sportinguistas que apresentaram formas alternativas de comemorar um dia tão relevante, longe dos habituais cachecóis cor de rosa (tão badalados pelos piores motivos) com a já clássica frase inscrita “Mulheres com Garra”.

Antes de continuar naquela que considero uma discussão relevante e uma oportunidade perdida de marcar pela diferença, tenho de ser justa. O problema do Sporting em mostrar-se pouco criativo, pouco activo nos problemas que parecem importunar toda a sociedade e a falta de capacidade de comunicar bem as suas iniciativas não é de agora. Há muito que por aqui temos falado da necessidade de encontrar formas diferentes de comunicar com os sportinguistas nas principais plataformas do clube. Há muito que as preocupações do Sporting não contemplam as questões do mundo actual.

Poucos sectores da sociedade terão uma desigualdade tão vincada e palpável como o desporto. Não importa aqui discutir o porquê, as tendências de mercado ou o contexto histórico. Aqui tratamos apenas os factos e grave diferença que existe entre mulheres e homens, particularmente no desporto em Portugal.

Para mudarmos mentalidades, não chega entregar uns cachecóis e gritar o nome de umas associadas que decidiram ir ver o jogo em família. Uma instituição com tantos milhões de seguidores tem a obrigação de ser mais, de pensar diferente e tentar (dentro das naturais limitações) mudar formas de encarar a vida.

Importa perceber, num dia que infelizmente tanto sentido continua a fazer, quais são as dificuldades reais das mulheres no desporto no nosso país e no mundo. Importa conhecer as mulheres que elevaram o nome do nosso clube todos os dias e as dificuldades acrescidas que tiveram, apenas por terem nascido com o género errado. Importa eliminar linguagem machista das bancadas e dos relvados. Importa que raparigas que gostam do Sporting sintam que também podem fazer história no mesmo e que esse privilégio não está reservado a metade da população.

Como conseguir isto? Não será no dia 8 de Março certamente, mas eis algumas ideias que podem transformar a data num primeiro passo importante:
Dedicar um ciclo de palestras aos problemas do sexismo no desporto. Criar uma pequena revista com inúmeros testemunhos de adeptas e atletas que nos fizeram crescer (e distribuir a mesma pelo estádio). Promover o desporto feminino com jogos, apresentações e dias abertos para a formação. Dedicar um email / mensagem a todas as sócias retribuindo-lhes um pouco do carinho que dedicam ao Sporting. Envolver os nossos jogadores e jogadoras numa mensagem comum de esperança, igualdade e futuro. Captar vídeos, imagens, recuperar momentos que elevem a importância das mulheres na construção do Sporting.

Todas estas foram ideias que sportinguistas partilharam em redes sociais, logo após ter sido anunciado mais um ano de cachecóis e pouco mais. E vendo o exemplo do que estão a fazer outros clubes (https://twitter.com/i/status/1235882820180078592) e a preocupação que o assunto trouxe para cima da mesa, temos a confirmação de que é um tema real que preocupa pessoas reais e que merece muito mais cuidado.

Podemos e devemos discutir a desigualdade e os problemas de género em clima de festa. Mas não podemos negar os mesmos nem fazer um aproveitamento vazio de um dia que deve ter como único objectivo construir o futuro e eliminar distâncias.

Está na altura do Sporting (e o desporto português em geral) entender que dependemos da voz dos clubes e da sua capacidade de agregação para que a mudança aconteça de facto. Continuar a desperdiçar o potencial para fazer melhor e diferente é virar as costas às milhões de mulheres que todos os dias colaboram para que o Sporting esteja mais vivo e seja mais competitivo.

*quando a mostarda lhe chega ao nariz, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa