Este período de confinamento em que passamos mais tempo em casa, proporciona-nos pelo menos a possibilidade de revermos alguns jogos de futebol que nos trazem boas lembranças e outras menos boas.

No pouco tempo que me é possível ver televisão, para quem vive 24 sobre 24 horas com três filhos enclausurados em casa, aproveito para ver alguns dérbis e clássicos do futebol português, assim como alguns jogos de fases finais dos Europeus de futebol.

Relativamente a estes últimos, olhando para o lote de jogadores que surgiam nos convocados e principalmente para os que compunham o núcleo duro das várias selecções, ao longo dos anos, tínhamos sempre vários jogadores representativos da nossa formação, e muitos deles ainda a representar naquele momento a equipa do Sporting.

Foi sempre um dos estandartes do Sporting poder dizer que era a formação leonina que alimentava as selecções e, por ser verdade, onde se viu o exponente máximo dessa realidade foi no campeonato europeu de 2016, em França, onde Portugal se tornou Campeão Europeu com vários jogadores formados em Alvalade.

Na equipa titular que entrou em campo no dia da final estavam Rui Patrício, William Carvalho, Adrien Silva e João Mário que, naquele momento representavam ainda o Sporting. Para além desses, estavam ainda na equipa Cédric Soares, José Fonte, Nani e Cristiano Ronaldo que saíram da formação leonina. (Pepe, apesar de ter passado jovem por Alcochete, não esteve tempo suficiente para poder ser considerado como formado nas escolas do Sporting.) Nesse jogo entraram ainda Ricardo Quaresma e João Moutinho. Ou seja, no jogo da final, onde podiam participar no máximo catorze jogadores, dez eram oriundos da formação verde e branca.

Não querendo estar a partidarizar uma conquista tão bonita e importante para o futebol português no seu todo, ter tantos jogadores que iniciaram as suas carreiras no Sporting, deixa-me duplamente orgulhoso. Primeiro como português e depois como Sportinguista.

No entanto, estamos a passar do 80 para o 8 em muito pouco tempo, porque apesar de quase todos os jogadores acima mencionados ainda serem chamados pelo actual seleccionador nacional, já nenhum representa o Sporting. E pior que isso é não ver no actual plantel do Sporting alguém a representar a equipa das quinas, ou a poder num futuro próximo vir a ser seleccionável.

Eu acho que isso não acontece por falta de qualidade, mas sim porque deixou de se apostar nos jovens que são formados em Alcochete. Em vez disso, preferem vendê-los ao desbarato, emprestá-los através de cedências com cláusulas que não lembram ao diabo e preencher os lugares que estes poderiam ocupar com jogadores caros e de qualidade duvidosa. É o poder das comissões, eu sei.

Mas assim, seguindo este caminho, em que os jovens leoninos passam anos a ser emprestados para poderem provar o seu valor, mas nunca lhes sendo dada qualquer hipótese de entrar na equipa principal do Sporting, nunca mais teremos um jogador seleccionável para a “equipa de todos nós”. Isto mesmo andava a acontecer, por exemplo, com William Carvalho que andava perdido na Bélgica e com Adrien que estava na Académica de Coimbra, até que alguém chegou e exigiu que eles ficassem no plantel. E assim, finalmente puderam provar que tinham qualidade técnica para representar o clube leonino. O resto é história.

As comissões voltaram a ter muito peso no Sporting e, por este andar, o velho estandarte da formação de Alcochete na selecção nacional passará, como muitas coisas no nosso clube, a ser apenas história. Algo que nos orgulharemos eternamente, que para sempre será um argumento de grandeza, mas apenas isso. Nada que nos traga vitórias no presente. Será mais uma memória para nos fazer lembrar como era bom ser do Sporting. Já perdemos tanta coisa, não deixem perder mais uma.

Texto escrito por Nuno Almeida no site Bola na Rede