Na 4ª, Feira 27 de Maio, mais uma vez e pela terceira semana consecutiva, o advogado Carlos Barbosa da Cruz vem a terreiro, no seu espaço mediático no pasquim oficioso do Clube (o Record), defender a “sua” peregrina ideia de que vender a maioria do capital da SAD é a melhor solução para o Futebol do Sporting.

Não passa despercebida a “coincidência” da localização do espaço reservado à “crónica” do senhor, “o Cantinho do Morais”: exactamente muito estrategicamente “encafuado” entre uma notícia sobre as Contas Consolidadas do Sporting e o estado preocupante das finanças do universo sportinguista e um título de manchete “Nova emissão de VMOCS de ‘elevada importância’ – operação depende dos Bancos”.

Mas voltarei a essa “coincidência” no final deste artigo. Importa agora analisar a retórica promocional de tão expedito “vendedor” do capital da Sporting Futebol SAD.

Que argumentos usa esta ‘notável’ figura para defender o ‘leilão’ da maioria do capital da SAD a investidor(es) privado(s)?

Primeiro atira a farpa de que os opositores da “sua” solução procuram ATEMORIZAR os sportinguistas com a perda do ecletismo e o definhar e desaparecer de Modalidades do Clube e a cresscente diminuição do interesse dos sportinguistas em se manterem como sócios do SCP. E como “prova” ele que esses “temores” são infundados? Porque “O Sporting … é um clube eclético e esta é uma matriz identitária e um património inalienável do Clube.” E que, por isso, “qualquer negociação que venha a ser feita sobre a entrada de investidores passará por garantir níveis de financiamento do clube que permitam a manutenção e crescimento das Modalidades“.

Ou seja, o senhor acena aos sportinguistas com a “cenoura” de um privado interessado não só em investir magotes de dinheiro na Sporting Futebol SAD para passarmos a “ser clientes assíduos do Marquês de Pombal e recorrentes da Champions“, mas também uma chusma de euros no Sporting Clube pois “quantos mais títulos forem ganhos, maior a projecção e notoriedade da marca e qualquer pessoa percebe isso.”

Como se já não fosse uma tarefa hercúlea encontrar um investidor de monta para apostar no medíocre e corrompido Futebol português, ainda se terá de convencer tal capitalista que o melhor investimento é numa SAD que não consegue ganhar há 18 anos e que apenas ganhou 2 vezes em quase 40 anos (tendo essas honrosas excepções acontecido quando os dois corruptores crónicos estavam distraídos com um terceiro corruptor que se meteu pelo meio). Para cúmulo ainda teriam de convencer um tal “benemérito” a ter que investir também no Sporting Clube e nas suas Modalidades como condição para poder adquirir a maioria do capital de tão “atractiva” SAD.

Mas onde é que irão desencantar uma tal criatura? Espero sinceramente que nunca a encontrem, pois quem estiver disposto a isso ou não estará no seu perfeito juízo ou só é investidor porque ganhou uma choruda herança (a fazer bons negócios é que não teria sido). Com um tal discernimento, suspeito que a sua capacidade para fazer dos adeptos da Sporting Futebol SAD, “clientes assíduos do Marquês de Pombal e recorrentes da Champions” seria ainda menor que a competência actualmente evidenciada por Varandas e sus muchachos.

Não bastando tudo isso, ainda teriam de convencer esse pateta-mor do grande capital de que só poderia vender Gameboxes a quem fosse sócio do SCP. Isto porque o douto advogado Carlos Barbosa da Cruz garante que “uma alteração accionista” não fará os sócios “desertar, antes pelo contrário“. Pois, estou mesmo a ver o accionista principal a querer fazer dinheiro com as Gameboxes e a vendê-las a preço de saldo para acomodar o acúmulo da despesa anual feita pelos Sócios para pagarem as suas quotas, só para que estes não desertem … do Clube; ah! … e só pode vender a estes! … a quem não for sócio não! … porque aí também deixa de haver vantagem em ser sócio. Mais uma vez, não é de um investidor capitalista que se está a falar, mas sim de um tolo com dinheiro, que não gosta de o ter e que não sabe como o gastar.

Garante o advogado C.B da C. A que “qualquer negociação que venha a ser feita sobre a entrada de investidores passará necessariamente por garantir niveis de financiamento do Clube, que permitam a manutenção e crescimento das Modalidades“. Não sei de onde lhe surgiu tamanha garantia. Terá sido do actual CD? Se foi, não consigo perceber como vão negociar com um investidor u financiamento que eles próprios retiram ao Clube, desviando para a SAD o dinheiro dos direitos televisivos da Sporting TV afectos ao contracto da NOS. Talvez fosse o senhor da Cruz fosse mais útil se ANTES DE TENTAR CONVENCER UM PUTATIVO INVESTIDOR NA SAD A TAMBÉM INVESTIR NO CLUBE, começasse por CONVENCER OS ACTUAIS ÓRGÃOS SOCIAIS DO SPORTING A DEIXAR DE DESVIAR DINHEIROS DO CLUBE PARA A SAD.

Fica assim comprovado que “um cenário de investimento exterior no capital da SAD” tenderá a reduzir drasticamente o número de associados do Sporting. Isso porque uma SAD gerida maioritariamente por um capitalista se estará marimbando para os sócios do Sporting Clube de Portugal. O que quer é cativar os ADEPTOS do Futebol do Sporting, pois, manter o quadro actual de vendas de gameboxes SÓ A SÓCIOS não lhe seria económicamente favorável.

Mas tomemos ainda um outro argumento dirimido (ou uma outra cenoura agitada) pelos defensores da venda da maioria da SAD a um investidor milionário: “não vejo que em Liverpool, em Manchester em Paris ou em Valência haja menos fervor clubista“. Dois realces nesta “constatação” do distinto advogado.

Primeiro, compara realidades que (exceptuada parcialmente a parisiense) que nada têm que ver com as dos 3 “grandes” do Futebol português. Desde logo, porque a paixão ou fervor nessas cidades pelos seus Clubes é quase exclusiva à geografia dessas mesmas cidades (e um pouco às suas envolventes regionais); o Benfica, o Sporting e até o Porto assentam a sua dimensão numa expansão ORGÂNICA de cariz nacional e até mesmo da diáspora. Depois porque não deixa de ser ‘estranho’ que quem atire como ‘garantia’ de manutenção das Modalidades o chavão de que “O Sporting desde a sua fundação é um clube eclético e esta é uma matriz identitária e um património inalienável do Clube.“, não pareça perceber que é ele que está a “confundir as situações” ao comparar clubes ecléticos como o Sporting, o Benfica e o Porto com os clubes de Liverpool, de Manchester, de Valência e mesmo de Paris. Bem vistas as situações a comparação da dimensão orgânica do Sporting deveria ser feita com o Real Madrid e a comparação da dimensão eclética com o mesmo Real, o Barcelona e o CSKA de Moscovo. O CSKA não sei se ainda é Clube do exército russo, mas de Real e Barça tenho a perfeita noção de que as suas ‘SADs’ de Futebol não são detidas maioritariamente por nenhum investidor milionário.

Segundo realce para a nuance de, nesta crónica, ao estabelecer a comparação e agitar a cenoura do “sucesso” não mencionar directamente os Clubes mas sim as suas cidades. Esta nuance não terá sido ocasional ou mero lapso retórico. A intenção é clara. Falar de Manchester deixa no ar o sucesso do Manchester City do sheik Mansour de Abu Dhabi e não o enorme fracasso do United. O futebol do Man Utd foi maioritariamente adquirido pelo americano Malcolm Grazer, em 2005, que transferiu para o Clube uma enorme dívida, o que provocou a crescente ira dos sócios que estão a fundar um novo Clube. E, diga-se, muitíssimo pouco tem ganho o Futebol do Man Utd desde essa aquisição.

Mas o City também deixou de ser um bom exemplo para a ‘cartilha’ de da Cruz, Fróes, Leitão & outros associados: isso porque “ao Manchester City foi atribuída, no passado mês de fevereiro, a maior penalização até hoje aplicada a um clube: exclusão das provas da UEFA nas épocas 20/21 e 21/22, mais 30 milhões de multa, por ter inflacionado receitas de patrocínios entre 2012 e 2016, no valor de 140 milhões de euros“. Todas essas verbas foram canalizadas para o clube através de empresas detidas por Mansour Bin Zayed, o proprietário do Man. City, e a ‘marosca’ foi descoberta através da averiguação de documentos colocados no Football Leaks. Ou seja, o investidor, na ânsia de fazer chegar o City ao patamar mais alto da Premier League, tentou contornar as regras do fair play financeiro através da injeção ‘camuflada’ de dinheiro na equipa. Ganhou quatro campeonatos ingleses… mas foi apanhado pela UEFA e agora paga a fatura.” (sic José Ribeiro in ‘Lá vem a conversa de alienar a SAD’ – O leonino, 11-05-2020).

Refira-se ainda que outro exemplo citado, o PSG, também não deveria constituir exemplo para ninguém de boa índole, dado que ‘também já teve uma sanção de 30 milhões em 2014, para além de ter sofrido restrições na inscrição de jogadores nas provas da UEFA. O financiamento através de patrocínios inflacionados era feito por empresas do Qatar, país que na prática é o verdadeiro proprietário do PSG através da QSI (Qatar Sport Investment). Depois de novamente apertado por novas investigações na sequência das contratações de Neymar e Mbappé, Nasser Al-Khelaifi, o rosto da QSI no PSG, mudou de estratégia e encontrou forma do grupo hoteleiro Accor tornar-se no patrocinador das camisolas da equipa, a troco de 50 milhões de euros/ano (o quarto maior patrocínio de camisolas no Mundo). Se o City, de forma encapotada, recebeu 140 milhões em cinco anos, agora, às claras, o PSG no mesmo período encaixará de forma legal… 250 milhões. E sabem quem é um dos principais accionistas da cadeia Accor? Precisamente a QIA (Qatar Investment Authority), cujo dono é o… Qatar’ (sic José Ribeiro, ibidem).

Finalmente uma palavrinha para os tais “embrulhos” que envolvem no jornal ‘Record’ esta crónica de Carlos Barbosa da Cruz.

Embrulho 1: as Contas Consolidadas do Grupo Sporting e o respectivo recado do Conselho Fiscal a dizer aos sócios que “não há caminho alternativo ao que está ser seguido, sob pena de ficar em causa a sobrevivência do Clube” ou que “… é neste momento impossível prever a dimensão do impacto negativo que a actual situação pode provocar no PATRIMÓNIO DO CLUBE. (… ) o SCP no seu todo, no qual se inclui o universo de associados, TERÁ DE ESTAR PREPARADO PARA ALTERAÇÕES PROFUNDAS QUE SE VENHAM A MOSTRAR NECESSÁRIAS para assegurar o tuturo do Clube“. Este é o primeiro embrulho: envolve um pacote de MARGARINA VAQUEIRO (para quem viu o “Último Tango em Paris”).

Embrulho 2: ‘Nova emissão de VMOCs de elevada importância – operação depende dos Bancos’. Emitem-se mais Valores Mobiliários Obrigatoriamente Conversíveis (em Acções da SAD) o que constituiria o aumento da dívida do Clube à Banca, tornaria mais difícil ao Clube operar à sua integral reconversão, e abriria ainda mais as portas à venda a investidores privados que, por essa via e SEM QUALQUER INTEVENÇÃO DOS ASSOCIADOS, retirariam do Clube a maioria do Capital da SAD. De qualquer modo, é minha opinião de que esta operação está votada ao insucesso uma vez que depende do investimento dos Bancos. Bancos para quem o Futebol há já 6 anos é considerado um “produto tóxico”. Este é o segundo embrulho: envolve um ELIXIR DE BANHA DA COBRA (para quem lia “Lucky Luck”).

Mesmo com tais embrulhos, dificlmente convencerão um grande investidor a garantir um enorme finaciamento na Sad e no Clube.

Resta o cenário da aquisição ao preço da “uva mijona” da maioria da SAD, não para a fazer dela uma marca competitiva e ganhadora ou sequer financeiramente viável, mas para servir de “entreposto” de negociatas mais escusas ou de plataforma de poder mediático para “capitalistas” da nossa praça.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Álvaro Dias Antunes
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