É com grande satisfação que a Tasca anuncia o regresso da rubrica dedicada ao Futebol Feminino. Alex será o cozinheiro de serviço, prometendo tempero apurado às quintas-feiras. O contrato tem validade de época e meia, tempo fundamental para percebermos qual o rumo que o nosso clube pretende dar às Leoas que jogam à bola. Bem-vindo, Alex.

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A Liga BPI teve a época 2019/2020 interrompida e anulada devido à pandemia mundial, uma temporada que tanto prometia mas acabou com um sabor amargo… Benfica e Sporting empatados a nível de pontos, apesar do Benfica estar à frente devido ao vergonhoso 3-0 que o Sporting sofreu na Luz (Sim, porque a equipa feminina do Benfica pelo menos consegue um jogo no estádio principal, ao contrário da equipa do Sporting que foi relegada à Academia no meio do mato há 2 anos a esta parte). O Braga já estava fora da corrida pelo 1º lugar, e ainda que pequena, havia esperança para o Sporting caso as estrelas se alinhassem. Não podemos ver o desenrolar do resto do campeonato, não haverá um campeão oficial da época 2019/2020 e a FPF simplesmente irá anunciar o clube que será o nosso representante na UWCL que será provavelmente o Benfica e bem merecido. Um pequeno “recap” depois, já que passaram anos na quarentena, vamos ver o estado do futebol feminino neste momento.

Com uma pausa entre temporadas tão grande, seria de pensar que a FPF teria algum tempo de reflexão para arranjar novas estratégias para promover o futebol feminino em Portugal, ajudar na profissionalização do desporto, talvez uma nova organização a nível das divisões, algo que por acaso já estava a ser comentado (uma possível diminuição de 12 equipas para 10 na Liga BPI e a criação de uma 3º divisão). Ora, já sabemos que nada disso aconteceu.

Novo formato? Uma 1º divisão por séries (Norte e Sul), cada uma com 10 equipas (que diminuirá em 2021/22 para 8) e com fases de campeão e de descida definidas por um novo “mini campeonato” entre os qualificados de cada série. Enfim, uma Liga que deveria tornar-se profissional durante a próxima década (e já estou a dar bastante tempo) a assumir uma organização comparável aos campeonatos nacionais dos Sub-15 e Sub-17 masculinos, nada demais.

E o espetáculo do futebol feminino? Não teremos o Sporting-Braga, e vice-versa, que levanta sempre as emoções ao mais alto nível na 1º Fase do campeonato, nem o Braga-Benfica que como podemos observar nas últimas duas épocas, é sempre um jogo de alta intensidade e fantástico de se ver. Teremos uma Série Sul com duas equipas profissionais e uma equipa insular enquanto que a Série Norte terá apenas o Braga como equipa totalmente profissional. Um pouco desequilibrado não acham? Para além disso, não é possível negar que os jogos das equipas ditas mais “pequenas” que têm como adversário um “grande” são os que atraem mais público e quando vendem bilhetes ou sorteios, está em jogo também uma boa receita tão necessária no futebol em geral (vamos lá ver como é que vai ser num mundo com Covid-19).

E a liga profissional que tanto aspiramos para as nossas atletas? A FPF teve a brilhante ideia de implementar um teto salarial numa liga amadora. Um máximo de 550 mil euros por equipa. Para pôr este teto em perspetiva, um plantel de 25 jogadoras a receber 2000€ por mês, chega aos 600 mil euros, isto sem impostos, sem segurança social… nada. Num mundo onde temos ligas masculinas profissionais sem qualquer tipo de teto salarial, temos a FPF a impôr um na Liga BPI – e vou repetir isto mais uma vez só para ter a certeza – uma liga amadora.

E já podemos ver um possível efeito desta medida. O Braga já se despediu nas últimas 2 semanas cerca de 7 atletas da equipa principal, a maioria que detinha um lugar no onze ou muito perto dele, uma mistura de jogadoras portuguesas mas maioritariamente estrangeiras em que o Braga tinha decidido investir nos últimos dois anos. Já apontaram para um aumento da aposta na formação que pessoalmente sempre irei apoiar, mas há que ser considerada a possibilidade de descida de competitividade visto que a equipa do minho terá de ser altamente modificada.

Ainda não temos saídas do Benfica noticiadas mas sabemos que entraram a apostar forte em jogadoras estrangeiras e não podemos esperar que tenham vindo para Portugal com salários “baixos”. Enquanto isso, no Sporting tivemos até agora duas renovações: Carlyn Baldwin e Amanda Perez, e alguns contratos de formação. Teremos ainda de ver se haverá uma repetição do fim da época passada, onde 6 jogadoras saíram do clube e não houve uma verdadeira tentativa de colmatar algumas dessas saídas, especialmente com um plantel que parece quase idêntico ao da época 2016/17, a primeira época no futebol feminino na Liga Allianz, como era conhecida, atualmente Liga BPI.

Há ainda tantas outras coisas possíveis de criticar nas decisões da FPF que se torna impossível apontar todas de uma só vez, senão ainda se fica com uma dor de cabeça maior do que já se está. Na Espanha vimos ontem, 10 de junho, a federação a considerar tanto a primeira como a segunda divisão de futebol feminino campeonatos profissionais, algo que é neste momento apenas uma formalidade em papel, as jogadoras em si ainda não são profissionais, mas que trará consequências boas ao futebol feminino caso a federação Espanhola apoie os clubes que não têm tanta capacidade financeira como os Barcelonas e Atléticos desta vida. Na Itália, a FIGC deverá remeter cerca de 10 Milhões para a Serie A Femminile para ajudar a tornar o futebol feminino na Itália profissional.

Em Portugal? Temos um campeonato com um formato dos da formação e um teto salarial numa liga amadora. Temos uma Liga que tem dificuldades em ser efetivamente uma Liga.

* às quintas, o Alex deita mãos à tarefa de dizer ao mundo que o futuro do Sporting e do futebol também passa pelo futebol feminino