Sei que muitos de vocês estão neste momento a pensar e até dizer que neste momento falar de futebol é o menos importante, que isto é muito bonito no papel que na teoria os gajos que lá estão só fazem porcaria, etc. Este texto, fala de futebol. Da minha ideia, ou melhor do que vi e penso da ideia de Ruben Amorim, uma análise ao nosso plantel e ao que poderá chegar dentro daquilo que é a ideia do treinador, e faço também a minha humilde “avaliação” ao trabalho de RA.

Primeiro e para que saibam já, a minha opinião não se baseia nem se altera, pelo valor quer custou o treinador, se têm ou não o nível necessário, se é lampião, ou se usa calças muito justas. Vou falar de futebol, daquilo que verdadeiramente me apaixona e acredito que a muitos dos que estão a ler.

Ruben Amorim, chegou no final de Fevereiro, e encontrou o clube em 4º lugar com mais 2 pontos que o 5º, Rio Ave, e a 4 do seu antigo clube, na altura 3º, Sporting de Braga. A distância para os líderes era de 20 para o 1º (FC Porto) e 19 para o 2º (SL Benfica). 10 Jornadas depois e findo o campeonato, Amorim conduziu a equipa leonina a 6 Vitorias, 3 empates e 2 derrotas, fazendo 21 pontos em 33 possíveis, acabando no mesmo 4º lugar em que começara em igualdade pontual com o 3º (Sporting Braga) a 22 pontos do líder, FC Porto, e a 17 do vice-campeão, SL Benfica. Isto é a análise quantitativa, ou seja, em termos pontuais, que é de facto o que mais importa no futebol.

Olhando e para fazermos um termo de comparação, vejamos o primeiro onze inicial que RA escalou no seu primeiro jogo contra o Desportivo das Aves em casa, com apenas 3 ou 4 dias de trabalho: Max; Ilori; Coates; Mathieu; Ristovski; Battaglia; Wendel; Acuna; Plata; Sporar; Vietto. Olhando agora para os titulares, 5 jogos depois, com o Gil Vicente, também em casa: Max; Coates; Quaresma; Borja; Ristovski; Matheus Nunes; Wendel; Nuno Mendes; Camacho; Sporar; Plata. Finalmente vamos olhar para o 11 deste último jogo na Luz: Max; Neto; Quaresma; Acuna; Ristovski; Matheus Nunes; Wendel; Nuno Mendes; Plata; Sporar; Jovane. Vejamos que ao longo do tempo houveram jogadores como Eduardo Quaresma, Matheus Nunes e Nuno Mendes que não começando como titulares, foram ganhando e bem o seu espaço. Nestes 3 onzes iniciais, nomes de mal-amados como Rosier, Eduardo, Doumbia, Bolasie (que nunca contou para RA) não aprecem.

RA entrou no Sporting numa altura difícil, como tem sido apanágio em quase todos os treinadores que entram. Mas neste caso, entrou num contexto de guerra dentre adeptos e dirigentes, entrou com os adeptos em choque com o valor que custou, entrou com a equipa no 4º lugar, sem Europa (tinha sido eliminada uma semana antes), fora das Taças e numa delas pelo colosso Alverca, o fantasma dos 5 na Supertaça no ar… a juntar a isto, era o 4º treinador da época. Ah e no mês anterior a equipa tinha ficado sem o “faz e resolve tudo” Bruno Fernandes. Resumindo, tinha tudo para dar … (isso que vocês estão a pensar).

O tão aclamado “treinador do projeto” de Varandas tinha chegado pela 3ª vez em ano e meio. A ideia a que RA se agarrou foi e na minha opinião muito bem, á temporada seguinte e preparar a equipa para tal. Lançou muitos miúdos, e ao contrário do que se quer fazer querer, não foi porque não tinha outro remédio, foi porque quis vê-los reconheceu qualidade e quis ver no que podia contar para a próxima época. É que Ilori poderia jogar no lugar de Quaresma, Battaglia e Eduardo fariam fácil o lugar de Matheus Nunes. Borja não dava hipótese a Nuno Mendes. Ah esse Bolasie cá estivesse talvez Tiago Tomás, Joelson e Plata já estariam a treinar com a B ou com o S23. Olhando para o que se passou, foi claramente uma aposta em preparar a equipa, os jogadores para a sua ideia. Sim, para a sua ideia. A espaços viu-se que os jogadores sabiam o que fazer e que estavam trabalhados para o modelo. Muitas vezes faltou qualidade dos interpretes. Ele sabia perfeitamente que não tinha jogadores para o seu modelo e para a sua forma de jogar, mas quis ver de todos quais se adaptavam, porque no fim de contas é na ideia dele que acredita, e que acredito eu, vai montar o plantel na próxima época. Não esteve isento de erros, nem estará na próxima época, mas Amorim, soube criar uma coisa, pelo menos numa grande franja que não mistura, ódios e raiva á direção e a quem o escolheu, empatia e confiança. Talvez seja cedo, mas ao contrário do que pareceu com Silas e com Keizer, a mensagem passa, o discurso não é do “está bem, ok” e parece que se aproveitou a ponta final da época perdida para se trabalhar para a próxima (quantos não queriam que Keizer fizesse isso na época passada?)

Tenho visto muita gente a falar sobre a tática de RA. Para mim e porque não sou um Freitas Lobo a falar, é um 3x4x3. Temos lido e ouvido entre outras: “Jogar 3 centrais com o Setubal, como quer ganhar?” “ Esta tática não funciona neste campeonato” “Defender em linha de 5? Treinador da retranca”. Eu não concordo em nada com estas afirmações. Em primeiro lugar, ainda está para nascer o dia em que alguém vai afirmar que á um sistema tático que dá mais resultados que os outros, e que á um que não funciona. Depois e olhando para o 3x4x3, de RA, é tudo menos uma tática defensiva. Na 1ªa fase vemos por norma uma equipa, que assume os centrais dos lados mais abertos (muitas vezes demais, sobretudo se forem Acuna ou Borja), o central do meio a dar cobertura quando estes tem bola, um interior por norma, do lado contrário ao central que tem bola, arrasta marcação, subindo, baixando o outro médio para ligar o jogo. Nesse momento, os alas estão muito subidos, dando profundidade e largura, tendo os falsos extremos procurando jogo entre linhas. O PL procura normalmente a profundidade na 1ª fase, obrigando a linha a baixar, dando espaço para procurar jogo interior. Isto na 1ª fase. Dificuldades que temos sentido: Centrais a jogar muito perto da linha, cortando logo linha de passa para o ala do seu lado, médio a baixarem demasiado e a receber a bola demasiadas vezes de costas, Dificuldade enorme de Plata e Jovane jogarem entre linhas e de fazerem o último passe.

A colocação de Acuna para central parece tontice. E é. Ou melhor não é! Confuso? Já explico. É porque Acuna poderia jogar fácil como falso extremo dando agressividade, fluidez e qualidade técnica que Jovane e Plata não tem. Por outro, faz todo o sentido, porque é o único “central” capaz de progredir com bola, queimar linhas se a pressão adversária for mal feita (remeber Jeremy?).

Falta dinâmica á equipa sobretudo ofensivamente. Mas mais do que a dinêmica, falta qualidade. Dava jeito um central pelo lado esquerdo que soubesse sair a jogar (Aspeto fundamental nos centrais dos lados num sistema de 3), um ala direito que desse qualidade á equipa, que desequilibrasse (nas alas temos um único homem!), um médio com capacidade de receber de frente para o jogo (a continuar RA, a preferir jogar com 2 médios lado a lado, não estou a ver Wendel e Matheus a coabitarem juntos), falsos extremos a jogar por dentro e entre linhas (o oposto das características de Jovane e Plata).

Defensivamente, eu tenho gostado de ver a equipa. Exceto talvez nas abordagens amadoras ás bolas paradas, com RA não permitimos muitas oportunidades aos adversários (lembram-se com keizer??). Por vezes é verdade, que fazemos linha de 5, mas já o fazíamos. Lembro-me de ver muitas vezes com JJ, Gelson, ser um lateral quando a bola entrava no último terço do lado contrário. Chegamos a discutir várias vezes a necessidade de Gelson descer tanto. A melhorar e a rever a nossa reação á perda.

Não acho de todo, que o 3x4x3, não seja tática para o nosso campeonato, nem desacredito no sucesso com ela. Falta é interpretes para a mesma. Mas quer para esta tática quer para outra. Em breve vou trazer aqui ao Cherba imagens para documentar melhor este meu texto do Sporting de RA.

Olhando para os nomes falados e do que conheço não sei onde Feddal possa encaixar na ideia de RA. Porro e Antunes continuo a achar brincadeira.

Urge trazer um central com qualidade no transporte e no passe (Ruben Semedo?, que acham?); um ala direito ; de for para jogar com dois 8os, falta claramente um médio (não me batam, mas Adrien faz todo o sentido); pelo menos um “falso” extremo (um gajo com as características do Nakajima). Talvez isto seja demais para a super estrutura que temos. A ver vamos.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Luís Miguel
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