Ricardo Oliveira tem 49 anos e é um dos rostos da iniciativa ‘Sporting com Rumo’. Gestor de carreira, é administrador da Eurodolar Capital e um profundo apaixonado pelo Sporting, cuja vida acompanha a par e passo. Em entrevista a A BOLA, aponta o dedo a algumas decisões e defende que os leões têm de seguir outro caminho.

– O Sporting com Rumo divulgou as conclusões das jornadas que realizou. Porque organizaram esta iniciativa?
– Esta iniciativa nasceu depois de algumas conversas que fui tendo com o Agostinho Abade e com outros sportinguistas, muitos almoços em que discutíamos o estado do Sporting e sobretudo o porquê de nas últimas décadas obtermos resultados tão aquém daquilo que a grandeza do Sporting exige. Entendemos que entre todos aqueles que conhecíamos e os que outros conheciam, poderíamos tentar responder a essa pergunta e quem sabe, com a ajuda de um capital humano riquíssimo que o Sporting tem, poderíamos retirar conclusões que ajudassem o clube a tomar um rumo que o levasse a reencontrar o sucesso. Infelizmente, o clima no Sporting não é dos melhores e as profundas divisões levaram a que muitas interpretações fossem feitas. Nunca fomos sequer um movimento, apenas uma iniciativa que pretendia dar voz a sportinguistas, com currículo e poder de influência, que pode ser útil ao Sporting, uma vez que essa é uma das suas maiores carências – a fraqueza institucional nos meandros do futebol. Aliás, hoje [ontem] encerrámos as Jornadas sem Rumo, pois cumprimos aquilo a que nos propusemos, ou seja, entregámos um documento, creio que muito bem elaborado, que pode servir de referência para aquilo que é mais urgente no Sporting.

– De uma forma breve, qual o balanço que faz das jornadas recentemente organizadas pela iniciativa, como diz, Sporting com Rumo? Governance (1 e 2); Revisão Estatutária; Sustentabilidade Financeira; Futebol e Modalidades; Estratégia Institucional e Segurança; Marca e Comunicação foram os assuntos abordados…
– Extremamente positivo. Primeiro porque conseguimos juntar sportinguistas das mais variadas fações, que se portaram irrepreensivelmente e conseguiram debater ideias de forma educada, elevada e com muito respeito entre todos. Esse era um dos objetivos. Demos voz a todos aqueles que quiseram ter voz e as jornadas decorreram ordenadamente. Afinal é possível os sportinguistas sentarem-se e em conjunto delinearem um futuro de forma construtiva e sem quezílias pessoais que normalmente são o principal entrave a que rememos todos no mesmo sentido, contra os nossos adversários e não afundando o próprio barco. Acho que as jornadas tiveram muita qualidade e agradeço a todos os que participaram. Para mim, foi bonito ver como todos acudiram ao chamamento e se prontificaram a participar de forma a ajudar o Sporting. Na minha opinião foram abordados todos os temas fraturantes do Sporting, e tudo ficou resumido num documento entregue ao presidente da Mesa da Assembleia Geral, que foi aquilo a que nos propusemos. Estou muito orgulhoso em ter feito parte desta iniciativa e das conclusões retiradas depois de resumidas e pesadas as opiniões de todos os participantes – membros de painel e moderadores, muitos deles com cargos no passado ou atualmente em meios de comunicação e que disseram sim ao chamamento do seu clube.

– Que conclusões retira sobre o Sporting depois de chegar ao fim das jornadas?
– Não digo que as conclusões que retiro são fruto do que se passou nas jornadas. As jornadas foram um veículo para ouvir e aprender muito do que se passa no clube, muito da sua história e da realidade do dia a dia. Participaram pessoas muito competentes e apresentaram um caminho futuro. Infelizmente tudo o que vivemos durante as jornadas serviu para ver também o lado mau do Sporting e daqueles que se movimentam dentro e à volta do Sporting, que, por vezes, não visa o melhor para o clube que dizem ser do seu coração. O Sporting vive uma guerra interna gigante e um clima de instabilidade que torna quase impossível a sua gestão. Em algum momento os sportinguistas terão que entender que não é a agredirem-se uns aos outros diariamente que vão conseguir levar a máquina Sporting às vitórias. Creio que foi consensual que o Sporting é gerido de forma muito amadora, embora existam, e graças a Deus, muitos quadros intermédios de grande qualidade no Sporting. E se assim não fosse não sei onde estaríamos. Fiquei com uma visão muito negra do que vivemos atualmente e vai ser preciso muito trabalho e tempo para o Sporting voltar a afirmar-se como um sério candidato ao título e ser competitivo no futebol europeu. Quem vier dizer o contrário estará a mentir e não passará de um discurso populista e galvanizador que infelizmente continuará a levar ao insucesso. O Sporting precisa sobretudo de verdade. Verdade aos sócios.

– Qual dos temas lhe parece ser de mais urgente resolução?
– É difícil apontar um tema mais urgente, e o nosso documento creio que aponta 20 coisas importantes ou 20 coisas a seguir de acordo com a opinião da grande maioria. Mas se tiver que falar dos mais importantes para mim teria que dizer que seriam a garantia da recompra das VMOCS aos bancos, para que o Sporting continue nas mãos dos seus sócios como sempre foi e para mim deverá ser. E vejo a revisão estatutária, nomeadamente a nível eleitoral, que o presidente só possa ser eleito por maioria. Por isso defendo uma segunda volta, e os órgãos devem ser eleitos independentemente com o método de Hondt, o que permite um maior rigor naquilo que é a transparência na gestão do clube e informação disponível aos sócios. Mas isso tem de ser feito já.

– Como gestor, como comenta o atual estado do Sporting?
– Creio que é evidente o atual estado do Sporting. É um clube dividido, com maus resultados desportivos, e em ebulição completa. Não sei quanto tempo esta Direção conseguirá aguentar as notícias diárias de más contratações, de dívidas, de insucessos desportivos, e sobretudo de apresentar um rumo, uma luz ao fundo do túnel. Não gosto de mandatos incompletos, pois acho que devemos dar tempo às equipas para mostrarem os resultados. Mas creio que são culpados em causa própria, pois quem muito prometeu foi a atual Direção e agora as expectativas são altas. E os resultados estão muito aquém, são paupérrimos. Não me surpreenderia se o mandato não chegasse ao fim, pois a contestação começa a ficar ensurdecedora, e, ou a Direção tira os tampões dos ouvidos, ou em breve teremos notícias do presidente da MAG. Em termos de gestão, o que ouço de dividas e antecipações de receita faz-me temer o pior. É que quem vier um dia vai ter que gerir sem as receitas que supostamente seriam dele mas que entretanto já foram gastas…

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