Foi com o basquetebol que iniciei este blog, em Setembro de 2019. Na altura, fiz a análise ao plantel que estava a ser composto para o regresso da modalidade, 24 anos depois e que podem recordar aqui. Tentarei fazer o mesmo exercício para a nova época de 2020/2021.

O Plantel – Entradas e Saídas
O plantel sofreu poucas mexidas. Saíram 3 americanos e 1 português: o base Ty Toney (emprestado ao recém-promovido Imortal de Albufeira), o extremo/poste Brandon Nazione (que esteve lesionado praticamente toda a época), o poste Abdul-Malik Abu (com destino ainda desconhecido) e o segundo base André Cruz (para o Belenenses, não se sabendo se por empréstimo, se definitivamente, o que seria um erro).

André Cruz é um jovem de grande potencial, que passou quase a totalidade da época a jogar na Proliga (2ª divisão), na Academia do Lumiar (a nossa “equipa B”), pelo que a sua saída não deverá ter impacto no plantel principal.

Embora fosse bom jogador, a saída de Nazione também não teve impacto em termos desportivos, porque, na realidade, praticamente não jogou… Com muita pena, porque poderia ter sido um elemento importante na época!

Ty Toney chegou ao Sporting como um dos melhores bases da liga da época anterior. Jogador que gosta de ter a bola e penetrar para o cesto, não conseguiu adaptar-se, sobretudo porque nunca percebeu bem o seu papel (Ellisor e Travante eram os líderes e não ele). Acabou perdendo a titularidade, terminando a época num papel de jogador a vir do banco para contribuir com pontos, quando um dos americanos descansava.

Abdul-Malik Abu era um dos preferidos do público e uma das boas revelações da liga. Jogador bastante atlético, talvez, até, o mais atlético na sua posição em Portugal, e muito importante na luta pelas tabelas. Impossível não gostar da energia que colocava em campo!

O Sporting atacou o mercado muito bem, a meu ver.

Para base, chegou Shakir Smith. Um base americano com 27 anos, 1,85m, já com experiência de basquetebol europeu (Bulgária, Suécia, Macedónia) e com alguns jogos nas competições europeias. Shakir destaca-se, desde logo, por ser uma autêntica “carraça” na defesa. Lembram-se do Travante Williams a defender? Pois bem, agora vamos ter dois Travante Williams a defender! Roubos de bola, desarmes de lançamento, Shakir dá tudo dentro de campo. Ofensivamente, é um jogador com bom controlo de bola, tem alguma capacidade organizativa, destacando-se claramente pelo seu lançamento de média e longa distância. Vamos ver triplos e lançamentos de frente para o cesto, próximo da linha de lance livre (aquilo que os americanos chamam de “top of the key”). Tem tudo para encaixar que nem uma luva nesta equipa!
Para o lugar o lugar de extremo/poste, chegou também outro americano. Jalen Henry tem 24 anos, 2,03m e após uma breve passagem por França, fixou-se na Finlândia. Henry é a maior incógnita das contratações. A lesão do Nazione criou um problema que João Fernandes conseguiu colmatar muito bem, ao ponto de eu achar que foi o jogador revelação de todas as modalidades. Henry é um jogador que se destaca essencialmente pelo seu jogo exterior. Aquilo que está muito em voga no basquetebol nos dias de hoje, é ter um jogador alto nesta posição, mas que saiba lançar de 3 pontos e, assim, espaçar o ataque, enquanto defensivamente dá uma ajuda nos ressaltos. Esse será o papel do Jalen Henry no Sporting.

Abu foi a saída que mais custou aos adeptos, mas parece-me, a meu ver, muito bem colmatada pela entrada de John Fileds. Fields, ex-UD Oliveirense, tem 32 anos e 2,06m e muita experiência acumulada nos campeonatos da Grécia, Bélgica, França e Alemanha. Fez apenas 18 jogos pela Oliveirense, mas estava a ser, até então, um dos postes mais dominadores da liga e ajudou os Oliveirenses a ganharem a Taça Hugo Santos (a Taça da Liga do basquetebol), eliminado o Sporting nas meias finais e o Benfica na final.
Comparando com Abu, que é aquilo que vocês querem saber, são dois jogadores de características completamente diferentes. Abu é um tipo de poste moderno da escola americana. Um jogador que não é forte no 1×1, que lança razoavelmente, que não tem jogo de costas para o cesto e que funciona muito com o jogo de 2×2 com o base e cortes no lado contrário da bola para o cesto; isto é, na maioria das situações, Abu necessita que o colectivo desequilibre para também ele brilhar ofensivamente. Abu era muito útil funcionando, também, como “trailer” no contra-ataque e defensivamente é um poste mais móvel que Fields, o que facilitava bastante a pressão 2×1 sobre o portador da bola que o Sporting por vezes exerce.
Fields, como já disse, é um jogador de características diferentes. Mais alto, menos atlético, mas não menos poderoso. Usa e abusa do seu corpo e do seu jogo de pés para desequilibrar no 1×1 próximo da área pintada. Tem aquilo que faltava ao plantel e que os americanos chamam de “post-up”: Trabalhar 1×1 de costas para o cesto, na posição de poste médio/baixo (ali a 45 graus do cesto), obrigando a defesa a ajudar, fazendo-lhe 2×1 e deixando, assim, um homem livre para receber e marcar. Se a defesa não contrair, Fields vai carregar sobre o seu adversário directo indo para o cesto, marcando ou ganhando uma falta. É um monstro nas tabelas fruto da sua altura, peso e óptimo bloqueio defensivo. Ter um jogador com estas características no ataque vai permitir “carregar” mais no jogo interior e quem vai sair beneficiado será precisamente o Jalen Henry e os restante atiradores. Ao termos um jogador como Henry, que abra mais o ataque, vai permitir também a Fields que tenha mais espaço para trabalhar próximo do cesto. É um win-win situation.

Fields era 3º na corrida para MVP da liga (14,5 pontos por jogo de média), 2º da liga em ressaltos (10,1 de média), sendo que era também o 2º da liga em ressaltos defensivos (6,3 de média) e ofensivos (3,5 de média).
Se Abu ficasse, estaria feliz. Com a vinda de Fields para o substituir, fico igualmente feliz. Ficarem os dois parece-me uma utopia, até porque, para além do desinvestimento, não faz sentido ter mais que 5 americanos e ter que deixar sempre um na bancada (só podem constar 5 NFL – Não Formados Localmente – na convocatória).

O poste Jeremias Manjate, que passou parte da época emprestado ao Academia do Lumiar, tal como André Cruz, deverá fazer parte do plantel principal, sendo mais uma opção para a rotação nos jogos menos exigentes da liga.

Este é o plantel que regressará aos treinos, já esta semana.

plantel basquetebol sporting

Antes de fechar a questão do plantel, de ressalvar ainda que o Sporting renovou os contratos de Pedro Catarino e Travante Williams, naquela que me parece uma medida de antecipação, pois Travante pode atrair candidatos mais poderosos financeiramente, com a nossa participação europeia. Ou então, é uma renovação como a de outros jogadores de outras modalidades, onde o atleta baixa ordenado, mas prolonga-se o contrato no tempo.

Breve Análise
O estilo de jogo manter-se-á com pequenas nuances no ataque e também na defesa, fruto das características dos novos jogadores, mas, no essencial, seremos uma equipa fortíssima na defesa e com uma boa variação entre jogo interior e exterior no ataque.

Sinceramente, acho até que estaremos mais fortes este ano que na época passada!

Ellisor e Travante continuarão a ter a habitual preponderância na equipa, um a dirigir a orquestra e outro a brilhar nos grandes momentos, com John Fields a abusar dos adversários próximo do cesto e Shakir Smith a lutar para ser um dos melhores defensores da liga.

Todavia, não pensem que tudo é perfeito! O plantel continua a não ter solução para fazer descansar convenientemente James Ellisor e Travante Williams. Marqueze Coleman, do Vitória Sport Clube (vulgarmente conhecido como Guimarães), teria sido uma boa opção para ter muitos minutos, atrás dos já referidos, mas teríamos que abdicar de um dos outros americanos, sendo que, o Marqueze também teria que aceitar esse papel… A entrada de mais um base português para libertar uma vaga de NFL era uma hipótese, mas nenhuma opção disponível seria tão boa como Shakir Smith.
O extremo Jorge Embaló terá forçosamente que ganhar mais minutos, sobretudo à custa de Diogo Araújo.

O cansaço e gestão do plantel, bem como as lesões, podem ter uma palavra a dizer ao longo da época, mas isso funciona também para os nossos adversários.

Estou com as expectativas em alta, relativamente ao basquetebol!

Expectativas e Objectivos
Campeonato, Taça de Portugal, Taça Hugo dos Santos e Supertaça (que este ano será em formato de final four, fruto das competições terem sido interrompidas anteriormente), somos candidatos a ganhar todas as competições nacionais!

Já falei acerca das competições europeias anteriormente (podem ler aqui).
Os adeptos terão que encarar a participação na Champions e a mais que provável queda para a competição abaixo, a FIBA Europe Cup, como uma muleta para as competições nacionais. A Europa vai dar-nos mais ritmo, intensidade e experiência, para o confronto frente aos outros grandes da liga – Benfica, Oliveirense e FC Porto.
Por isso, os objectivos da época cingem-se às competições nacionais e essas, como já disse acima, são todas para ganhar! Nem o nosso treinador, Luís Magalhães, pensaria de outra forma!

Rivais
Por falar nos rivais, a ainda bicampeã e vencedora da Taça Hugo dos Santos, UD Oliveirense, perdeu Fields, Corey Sanders e Duda Sanadze, 3 dos seus melhores estrangeiros. Manteve Marc-Eddy Norelia e o núcleo duro dos portugueses e fez regressar o belga que foi campeão, Thomas de Thaye. Os americanos contratados carecem de confirmação em termos de qualidade, mas a Oliveirense já nos habituou a descobrir bons jogadores debaixo de uma pedra da calçada! Continuam, obviamente como candidatos!

Na época passada, o Porto teve duas lesões graves em dois jogadores muito importantes; Max Landis e Tanner McGrew nunca foram devidamente bem substituídos e o Porto optou por mantê-los, pois percebeu-se claramente a qualidade que tinham. Manteve também Brad Tinsley, mas perdeu no Preston Purifoy um dos bons defensores da liga e importantíssimo na manobra defensiva da equipa. O americano que o substituiu, Larry Gordon, é muito experiente, mas mais forte ofensivamente que defensivamente. Os principais portugueses mantiveram-se e a outra nota de destaque vai para a saída do Sasa Borovnjak, um dos meus postes preferidos na liga, tendo sido substituído pelo americano Jonathan Augustin-Fairell. O Porto terá o plantel fechado e vai continuar, obviamente, a ser candidato!

Quanto ao nosso outro rival , o Benfica, manteve o núcleo duro dos portugueses de qualidade que já têm. Saiu o poste Gary McGee, Damien Hollis (o experiente 6º homem) e o ex-NBA Touré Murray. A permanência de Micah Downs é uma incógnita, e este pode ser um factor decisivo.
Sem terem o plantel completo e fechado, arrisco-me a dizer que baixaram o orçamento “pornográfico” que tinham, nomeadamente ao nível dos estrangeiros. O Benfica continua também como candidato, fruto do excelente núcleo duro de portugueses que têm, aos quais se juntam Eric Coleman e as contratações Caleb Walker e Scott Lindsey, um vindo da G-League americana e outro da 2ª divisão francesa.

Notas finais
Quanto ao orçamento, questão que muitos sócios e adeptos levantam por ter sido esta uma modalidade que a direcção fez regressar, penso que será semelhante relativamente ao ano anterior. Não tenho dados que me permitam dizer se houve desinvestimento ou investimento no basquetebol, embora creio que a diferença, para cima ou para baixo, deve de ser baixa. Aliás, acredito que com a participação nas competições europeias, o orçamento tenha subido, quanto mais não seja, por causa das deslocações inerentes a essa participação.
O que sei é que o regresso do basquetebol foi um sucesso! E refiro-me apenas ao basquetebol (que é isso que a mim me interessa, a modalidade) e não ao impacto que este regresso possa ter tido no orçamento de outras, com o Sporting a ter a melhor assistência da Liga e o melhor ataque da prova da última década.

Esperamos que esta época não volte a ser interrompida, porque prevejo que seja uma época de sucesso para a modalidade e consequentemente, para o clube!

Saudações leoninas a todos e força Sporting!

Texto escrito por tigas68 in Modalidades Sporting

*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca