No sábado temos o grande evento de pré-temporada com o Open Day de voleibol. Para mim, a melhor notícia que o voleibol masculino podia ter para ambicionar longevidade no Sporting.

Não faz muito tempo, nem pouco, tive a oportunidade profissional de elaborar um plano estratégico de marketing para um clube de voleibol. Entre as várias visões necessárias para a sustentabilidade da modalidade no clube, uma era a criação de equipas de formação, no caso feminina. Com a devida autorização, achei interessante partilhar, com ajustes, alguns pontos pertinentes para entendermos esta nova iniciativa do Sporting.

Colocarei algumas notas sobre o Sporting que serão evidentes durante a leitura. O post será longo e incompleto, mas encurtar iria torná-lo incompletíssimo. Aqui vamos:

“(…) Objetivos Estratégicos
Dos objetivos definidos, há alguns que se apresentam como críticos nesta fase de lançamento da formação de voleibol. A importância deles traduz-se no facto do seu sucesso de implementação ser decisivo. De todos os objetivos mencionados, destacam-se:

– Criação de 2 equipas de Minis A (até 10 anos);
– Criação de 1 equipa de Minis B (10 a 12 anos);
– Criação de 1 equipa de Infantis (13 anos);

(…)”
(No plano elaborado, havia mais equipas para constituir, mas no caso no Sporting, na minha visão, seriam apenas estas. Estamos a falar de cerca de 50 crianças, todas abaixo dos 13 anos.)

“Estas serão as melhores equipas para uma fase tão prematura do projeto porque, potencialmente, todas estas crianças estarão a iniciar a prática da modalidade. A partir desta idade, o potencial já está identificado e o atleta está envolvido num projeto, dificultando uma mudança de clube. É também possível existir um custo associado pelos anos de formação na prática de voleibol. “

(Quando for estudado o projeto, havia um valor monetário que podia ser exigido pelo clube formador, no caso de transferência do atleta. Admito que não sei se esta informação está atualizada. No caso do Sporting, pela notoriedade que tem, acrescento que muitos atletas, mais velhos que 14 anos, se forem segundas linhas dos seus clubes, possam tentar a mudança. Podem dar “corpo” à estrutura de formação, mas possivelmente poucos frutos desportivos. Subscrevo as palavras do capitão Miguel Maia na entrevista que realizou, dizendo que podemos esperar retorno desportivo em 7 ou 8 anos. Concordo totalmente, precisamente porque coloco toda a expetativa em atletas entre os 8 e os 12 anos.)

“(…) Papel da comunicação em Marketing
Não chega ter um bom serviço, é necessário dar a conhecer e potenciá-lo. É o objetivo da estratégia integrada de comunicação para alcançar e convencer o mercado por si trabalhado. Entende-se por comunicação o conjunto de sinais emitidos em direção aos seus alvos. Decidir comunicar impõe uma pergunta central, que pode parecer retórica, mas não o é: para que serve a comunicação, qual o seu contributo específico para a obtenção de determinados resultados?

As respostas aparentemente óbvias – informar, divulgar, dar a conhecer, anunciar, transmitir, outras – são desadequadas, pior ainda, são irrelevantes porque não permitem atingir o porquê e o para quê efetivos da comunicação. Esta é, porventura, a área de maior dificuldade para quem decide comunicação: ter a certeza do papel singular que a comunicação pode ter no êxito de um projeto.

Enquanto instrumento de operacionalização de marketing, a estratégia de comunicação nasce da estratégia de marketing. Parte-se, assim, desta estratégica para a estratégia de comunicação com sustentação em 3 ideias fundamentais:

a. Deverá contribuir para os objetivos de marketing definidos (qualidade de serviço e satisfação de Clientes);
b. Deverá considerar os alvos de marketing como seus alvos;
c. Deverá respeitar e reforçar o posicionamento definido.

(…)

– Comunicação das escolas
Começando pela divulgação nas escolas como a mais crítica do sucesso, sendo o local onde estão os miúdos que estamos interessados em recrutar.”
(No entanto, as escolas estão fechadas porque as aulas ainda não se iniciaram. Claro que podemos pensar se o timing foi o mais adequado, mas assumindo que sim, a pergunta continua: Sendo as escolas um local centralizador de quem nós queremos acolher no Sporting, como podemos fazê-lo? A melhor hipótese, sendo a mais simples e rápida, é ir à lista de contactos dos amigos (e amigos de amigos) que sejam professores em escolas onde o voleibol é uma modalidade querida e pedir colaboração. Pedir a esses professores para identificarem alguns alunos, contactarem-nos, para que depois o Sporting os pudesse receber no open day.”

“- Comunicação nas Redes Socais
As redes sociais são um elemento facilitador de todas as interações entre indivíduos ou entre indivíduos e marcas”
(Aqui o Sporting tem feito um ótimo trabalho com um cartaz, alguns vídeos partilhados e o ritmo interessante de divulgações. Claro que pouco interessa, mas qualquer olho mais apurado nota que fizemos um cartaz com fotografias da época passada. Como gravámos um vídeo, até tivemos a possibilidade de criar conteúdos novos. A foto da Bárbara, por exemplo, é a foto oficial da época anterior, a mesma utilizada na comunicação da renovação desta época e ainda do Open Day. Às tantas a nossa jogadora não gosta de tirar fotos, sei lá. No vídeo, o equipamento que usa é, também, do ano passado e o do Miguel Maia é o novo. Desconfio, por isso, que os equipamentos do voleibol feminino devam estar a ser fabricados à mão, para a Bárbara não ter um.)

“- Sócios
A utilização da base de dados extensa do clube, através da sua ferramenta de Customer Relationship Management (CRM), proporcionará a assertividade necessária para o contacto direto com os potenciais interessados no projeto de formação.”
(Aqui está outro segredo do sucesso para este dia. O Sporting tem uma base de dados de sócios, com as respetivas idades e contactos. Dentro do perfil definido para o jogador, o Sporting tem a possibilidade de contactar diretamente os pais (ou mesmo os filhos sócios), convidando-os para o Open Day. Um trabalho muito fácil de ser desenvolvido, barato e que aporta qualidade de serviço.)

“- Resposta à inscrição do atleta
Um bom atendimento mostra a valorização feita por uma marca ou clube a quem o contata. Então, sentir-se apreciado num mundo onde tudo é imediato, rápido e simplista, pode significar um enamoramento identitário.”
(Não experimentei enviar um email para perceber que tipo de resposta foi dada a cada pré-inscrição porque seria indelicado, no entanto está aqui também uma oportunidade. A pessoa que enviou o email está a entrar no mundo do Sporting, logo tem de ser muito bem tratada. A equipa de comunicação do Sporting deve, certamente, ter criado uma resposta standard visualmente atrativa com notas importantes do dia, ainda para mais em tempo COVID-19. Tudo o que esteja relacionado com logística e, principalmente, higiene: Por onde se entra, onde equipar, se já vem equipado, se fornecem máscara, se pode tomar banho, se tem mesa de apoio com um snack, se tem um custo, se há calçado próprio e tem de ser trocado para pisar no pavilhão e por aí fora. A mensagem a passar é: «Bem-vindo ao Sporting! Estamos a preparar tudo para que te sintas confiante e seguro.»

“- Presença do líder do Clube
Um dos requisitos mais importantes para as empresas, marcas ou clubes desportivos ambicionarem a longevidade é uma boa liderança, mas não apenas no nível estratégico. É crítica a presença do líder, ou da sua equipa de liderança, em todos os níveis da organização. Um dos principais motivos é a credibilidade do projeto representada na pessoa ou equipa.”
(Dado ser um projeto impactante para a modalidade e, claramente, a grande novidade deste ano, é imprescindível a presença dos jogadores do Sporting e do responsável do clube, no caso, pela hierarquização do Sporting, o líder das modalidades. Não sou dos que acha que o responsável deve estar em todos os jogos, mal seria, mas há momentos críticos. Este é um deles. Se o Miguel Maia é a credibilidade que sustenta esta iniciativa desportivamente, o responsável máximo é o impulsionador estratégico.)

Conclusão:
Eu adoro voleibol e adoro o Sporting. Em conjunto, fazem uma mistura explosiva e tornam-me mais aferroado à modalidade. Quero muito que isto corra bem! Tento-me focar na excelência da iniciativa, mas há fragilidades que podem comprometer o sucesso do Open Day. Depois de sábado, podemos tirar as conclusões necessárias.

Que sábado seja um grande dia de Sporting Clube de Portugal!

open day voleibol

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol) –