Dificilmente teríamos um teste mais exigente para início oficial da época: dois jogos de qualificação para a entrada na Champions League, 42 anos depois do nosso último confronto europeu!

O Sporting entrou na prova com uma vitória por 84-78, na meia-final de apuramento do Grupo C, frente aos campeões suíços do Fribourg Olympic, num jogo onde tivémos 38 minutos e 48 segundos na liderança.

Na cidade de Botevgrad, na Bulgária, o Sporting realizou uma boa exibição, conseguindo uma vitória justíssima, alicerçada numa tremenda performance em termos defensivos e num plano de jogo ofensivo bem delineado: a aposta no jogo interior por John Fields e o lançamento exterior por parte dos nossos atiradores, conforme se pode ver pelo “shot chart” da nossa equipa, na figura abaixo.

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Após um belíssimo 1º período, onde Travante foi um dos destaques, o segundo deu início às habituais rotações de jogadores, sem que isso tenha causado mossa na exibição da nossa equipa. Aliás, foi nesse 2º período que “cavámos” um fosso ainda maior (que chegou a ser de 16 pontos), fruto de boas movimentações e muito critério no ataque, que permitiram, inclusivé, que o “patinho feio” Diogo Araújo brilhasse com 2 triplos consecutivos. O Sporting termina a 1ª parte com percentagens de 52% de lançamentos de 2 pontos, 58% de lançamentos de 3 pontos e 90% da linha de lance livre! Esclarecedor sobre a nossa superioridade!

Ao intervalo, o resultado de 36-50 registava uma diferença de 14 pontos, favorável ao Sporting.

O terceiro período é aquele que muitos especialistas consideram como o mais importante do jogo. Uma má entrada após o intervalo pode deitar tudo a perder e deixar uma equipa sem grandes hipóteses e margem para recuperar no quarto período.

Provavelmente, fruto da vantagem obtida e com a gestão do esforço em mente (pois em caso de vitória, jogaríamos novamente dois dias depois), o Sporting entrou mais relaxado na segunda parte. Este relaxamento, em conjunto com algumas correcções (expectáveis) por parte dos suíços, levaram a uma recuperação no marcador por parte dos nossos rivais. Os suíços apostaram nos “mismatchs”, através de Cotture e Zinn, aumentaram a pressão defensiva sobre o portador da bola (retirando tempo e organização ao ataque do Sporting) e começaram a surgir com mais elementos no ressalto ofensivo. O jogo chegou a estar, perigosamente, a 3 pontos, estando os suíços com posse de bola. Conseguimos sobreviver e, eis que, no 4º período, Flávio Magalhães (nosso timoneiro neste jogo, fruto do professor Luís Magalhães estar infectado com COVID19 – a quem desejo desde já, as rápidas melhoras), coloca em campo a melhor equipa defensiva: Shakir Smith, James Ellisor, Travante Williams, João Fernandes e Cláudio Fonseca.

O Sporting passa a controlar o jogo e consegue distanciar-se novamente no marcador, com Travante a “abrir o livro” (como se diz na gíria), gerindo na parte final, de forma atabalhoada, diga-se, o resultado. Acabamos por ganhar por apenas 6 pontos, num jogo que, com mais cabecinha e discernimento, teríamos ganho por 12/15 pontos de diferença.

A título individual, destaque para Travante com 23 pontos, 7 ressaltos, 4 triplos e 4 roubos de bola, e para John Fields, com 20 pontos e 11 ressaltos. A título de curiosidade, deixo-vos a comparação estatística, de alguns dados, entre as duas equipas.

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Dois dias depois do confronto com os suíços, quis o destino que defrontássemos o KK Igokea, campeões da Bósnia, na final de apuramento do Grupo C, após estes terem vencido os romenos do Cluj, na outra meia-final do grupo C. Quem ganhasse estaria presente na fase de grupos da Champions League.

O resumo deste jogo equilibradíssimo faz-se numa frase: uma exibição agridoce!

Estivémos muito bem defensivamente (com momentos brilhantes) e mal (com alguns momentos muito maus) em termos ofensivos. Acabámos por perder por 70-64, tendo ficado, assim, afastados do feito inédito que seria ter uma equipa portuguesa na fase de grupos da Champions League.

O bósnios são uma equipa alta, forte fisicamente e mais experiente e fizeram valer tudo isso neste jogo. Defenderam muito bem a área pintada e carregaram no ressalto ofensivo. O Sporting tinha dificuldades em termos ofensivos e ia conseguindo manter-se em jogo, fruto da sua defesa. Tal como os bósnios, íamos fechando a zona pintada como podíamos e anulando os bons atiradores adversários. O jogo foi um festival de lançamentos falhados de parte a parte!

Ao intervalo, o resultado registava um 32-27 favorável aos bósnios, mas, ao contrário da meia-final, o Sporting entrou muito bem no 3º período. Maior critério no ataque, com Amiel a surgir muito bem neste período do jogo, levaram a maiores percentagens de lançamento e melhores concretizações. Conseguimos recuperar no marcador, deixando a sensação que poderíamos ir buscar este jogo e arrancar para uma parte final de bom nível.

Pura ilusão… Os bósnios corrigiram defensivamente e, ofensivamente, fizeram precisamente aquilo que deveríamos ter feito.

Se uma equipa não consegue ter vantagem na área pintada, seja através dos seus postes, seja através de penetrações para o cesto, então a solução é retirar os postes adversários das zonas próximas do cesto e abrir mais o jogo. Realizar jogo de 2×2 com bloqueios altos (os chamados pick and roll) e colocar 2 atiradores na linha de 3 pontos. Se o bloqueio e consequente jogo de 2×2 com o base e o poste for bem realizado, está criado o desequilíbrio na defesa que pode, depois, ser aproveitado com penetrações para o cesto ou para um lançamento exterior com menor oposição.

E foi isso que os bósnios fizeram, através do seu base Stefan Pot e do seu poste Jovanovic, jogador com 2,11m, bom jogo de pés e entendimento do jogo. O Sporting nunca conseguiu defender o jogo de 2×2 dos bósnios e acumulou faltas (a meio do 4º período já tínhamos atingido a 5ª falta) que levaram os bósnios a amealhar pontos fáceis. Juntem a isto o mau bloqueio defensivo colectivo, que levaram a 3 ressaltos e 6 pontos fáceis consecutivos, e está explicada parte da vantagem que os bósnios ganharam e foram gerindo até final. Ofensivamente, a exibição foi também agridoce. A bons momentos individuais de Jalen Henry e Travante Williams, juntaram-se outros horríveis e que deitaram tudo a perder! Erros infantis, fruto de precipitações, desconcentrações e cansaço.

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19 perdas de bola, que proporcionaram 16 pontos ao adversário, fracas percentagens de lançamento de 2 pontos e de lance livre, 19 ressaltos ofensivos conquistados pelo Igokea e quase metade dos pontos na área pintada relativamente ao nosso adversário, explicam na perfeição aquilo que aconteceu em campo.

Foi pena, porque o Sporting mostrou que tinha equipa para levar de vencida os campeões bósnios e fazer um feito histórico. Faltou experiência, frescura física, um plano de jogo alternativo e mais contribuição por parte do banco.

A entrega, esforço e dedicação estiveram lá, presentes nas lágrimas de Travante Williams no final do jogo!

Com esta eliminação, fomos despromovidos para a “Liga Europa”, ou como quem diz, a FIBA Europe Cup, que se iniciará em Janeiro. O Sporting ficará no Grupo C, com as equipas do Szolnoki Olajbanjasz da Húngria, o Ironi Ness Ziona de Israel e o BM SLAM da Polónia.

A análise a estas equipas e expectativas para a prova ficarão para segundas núpcias. Agora, resta-nos aproveitar o ritmo ganho pela Champions para entrarmos nas competições internas da melhor maneira!

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta