Num jogo com arbitragem à moda antiga, onde quase voltámos a ver João Pinto, André e Paulinho Santos em campo a distribuir porrada de criar bicho, os adeptos leoninos chegaram ao final da partida entre o amargo de dois pontos que fogem e o sentimento positivo da equipa não ter desistido de inverter uma derrota caseira e entre a irritação pela insistência em opções tácticas questionáveis e a esperança deixada por um grupo onde existe talento e parece não faltar personalidade

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Nem um miúdo de 17 anos nem o ponta de lança que existe. O Sporting enfrentava o clássico com um trio de ataque onde Tiago Tomás ficava surpreendentemente de fora e onde Jovane era o mais próximo de referência ofensiva, com Peter Pote e Nuno Santos a fazerem-lhe companhia mais próxima.

O objectivo era claro: jogar em transição. E nesse aspecto o Sporting esteve bem ao longo da primeira parte, pese aqueles dois sustos ainda nem dois minutos de jogo estavam jogados, obviamente resultantes de bolas paradas que são um verdadeiro tormento para a nossa defesa. Nuno Santos foi figura maior, não só pelo golo que marcou, num remate de primeira, mas pelas arrancadas que resultaram em vários cruzamentos para uma área onde a nossa presença era praticamente nula. O Sporting só sabia jogar para as costas da defensiva adversária e foi assim que Peter Pote apareceu embalado por Palhinha, perdendo no confronto com o redes azul. E o camisola 28 voltaria a desperdiçar, já perto do intervalo, num remate cruzado que passou muito perto.

Nos entretantos, Porro era vítima de entrada assassina de Zaidu e o árbitro dava amarelo. Pouco depois, o mesmo Zaidu tinha influência directa na jogada que dava o golo do empate, ao cruzar para a entrada de Uribe, outro rapaz que esteve em destaque pela quantidade de vezes em que acertou nas pernas adversárias, um verdadeiro clássico por parte de quem ocupa a zona central do meio campo dos dragões.

Também clássica é a mania do Sporting sofrer golos estúpidos. Na sequência de um canto a seu favor, a turma leonina colocou o seu meio campo nos anúncios do imovirtual e ainda se fez rogado a fechar a porta quando Diaz veio por ali fora a brincar ao futebol de praia. Resultado? Ressalto para Corona e momento artístico desviando de Adam. 1-2 para os azuis num golo inadmissível!

E quanto todos pensava que o resultado estava feito na primeira parte, Peter Pote voltou a ser lançado nas costas da defesa e caiu na área. Zaidu, que tinha corrido atrás dele, colocou claramente o braço no ombro do jogador leonino e o árbitro não teve dúvidas: penalti e segundo amarelo para o jogador azul e branco. Mas estamos em Portugal, país onde se perde na memória a última vez em que o fcPorto perdeu dois jogos consecutivos para o campeonato nacional, e face à pressão do banco portista a equipa de arbitragem lá acabou por activar o VAR e reveter toda a situação. Nem penalti e, pasme-se, expulsão, sim, mas para Rúben Amorim, que naquele exacto momento percebeu que Conceição e companhia podem dizer o que quiserem e que ele deve manter-se calado caladinho.

No recomeço, Amorim esperou 10 minutos até mexer na equipa, trocando um inexistente Jovane por Vietto. Cinco minutos depois, tirou um susto chamado Neto e um Nuno Santos em perda de gás e colocou Tiago Tomás e Gonzalo Plata. E se os tremeliques na defesa pareciam diminuir, o problema maior mantinha-se: ausência de referência na área, tornando mais simples a tarefa da defesa do fcp, também ela uma verdadeira casinhas de canas mal aparadas, ir resolvendo os problemas.

Não admira que o golo do empate tenha aparecido da forma que apareceu, já depois de Sporar e João Mário entrarem para o lugar de Porro e de Matheus Nunes. Pese a espécie de anarquia que passou a reinar na táctica leonina, bastou Tiago Tomás ganhar uma vez a linha na direita para o cruzamento fazer mossa: Sporar tentou de calcanhar e na recarga à defesa Vietto teve o espaço resultante do arrastar do central atrás do outro avançado. 2-2 que quase virou 3-2, quando a cena se repetiu e Tomás cruzou para a inversão de papéis entre Sporar e Vietto, com o argentino, de cabeça, a quase causar a cambalhota no marcador.

Pouco depois o jogo terminava e para lá da revolta em relação à arbitragem, o Sporting ficava dividido no sentimento sobre o clássico. De um lado, a teimosia táctica e aquela forma de estar em campo encolhidos, com três rapazes rápidos na frente para as transições rápidas onde, de quando em vez, se junta um dos laterais, coisa pouco coincidente com o que os adeptos desejam. Por outro, os claros indícios de que há talento, de que há personalidade e de que existem soluções no plantel para mudar e melhorar. E nunca é fácil dizermos se gostámos ou não de Chop Suey, ainda por cima quando parte do molho envolve fé e paciência, numa altura em que os Sportinguistas estão exaustos…