Este foi um insucesso difícil de digerir. Uma derrota feia porque estiveram à vista “coisas e cenas” que, possivelmente, nos definirão para o resto da época. Em jeito de resumo, penso que a derrota no primeiro set tornou o jogo numa oportunidade para o Gersinho testar mudanças táticas na equipa. Não torna a derrota aceitável, mas torná-la explicável. Tentarei transformá-la em palavras. Não a encontrei no muito que li sobre o jogo, por isso admitam que posso estar errado.

O Jogo
Como disse, foi uma derrota feia, mas isso não muda a minha opinião da semana passada. A grande diferença deste jogo, para o anterior, esteve na abordagem tática. Na minha visão, tentamos discutir o jogo com outras armas que não a da supertaça e ia resultando no primeiro set. O Gersinho, de quem gosto, no jogo que perdemos 2-3 deu tudo o que tinha para ganhar. Em termos táticos, jogou no limite possível, usando substituições e posicionamentos de bloco mais confortáveis para a equipa. Nesta derrota, 1-3, decidiu mudar a abordagem experimentando outras opções, antecipando novas soluções num jogo altamente competitivo. Ele testou e não correu bem. Relembro que tivemos uma pré-época com inexistência de jogos duros e começamos logo com um troféu para disputar. Pela pouca relevância que tem na classificação, pode ter sido o primeiro (possivelmente único) momento onde o mister pôde experimentar variações, dentro de um nível competitivo elevado e sem risco.

Repito que isto é a minha interpretação que, segundo a mesma, só faltou dar mais tempo ao segundo oposto, André Saliba, para ter praticamente todos os processos validados. Que experiências estou eu a falar?

1. Metemos menos bola no Paulo Victor, o que não ajudou a que entrasse no jogo quando era preciso. Pareceu-me que tentamos não o tornar o principal atacante da nossa equipa, dando muita bola aos colegas. Claro que este tipo de jogadores precisa de muita bola e isso pode ter sido decisivo na sua menor eficácia em relação ao último jogo. Recordo-me que o Bruno demorou algum tempo a passar-lhe a primeira bola para ataque (8-7).

2. Por termos uma recepção titubeante, o mister Gersinho costuma optar por colocar o Gil Meireles como jogador de campo, podendo utilizá-lo por troca com o Renan em alguns momentos. Neste jogo, o Gil Meireles aparece como líbero e como recebedor principal. Uma variação enorme face ao último jogo que foi o João Fidalgo assumir todos os momentos;

3. Pareceu-me um Renan mais exposto à recepção ao serviço do SL Benfica. Se, por razões táticas, o adversário já serve bastantes vezes para ele, neste jogo pareceu-me que o nosso jogador tinha indicações para estar mais visível neste momento do jogo, com todas as fraquezas que isto pode custar;

4. O Robinson Dvoranen (Bob) teve bem mais bola que nos últimos jogos, inclusive foi opção de ataque de zona 6, quando o Miguel Maia estava em campo. Está a saltar mais do que há um mês, apesar de que ainda precisa de continuar esse trabalho de melhoria de impulsão para termos, consistentemente, 4 pontos de ataque. Reparou-se que quis a bola na pipe e ficou muito confiante no sucesso do ponto que concretizava;

5. Por último, a prestação dos centrais foi como do dia para a noite. O bloco simplesmente não chegava a tempo às pontas o que limitava muito o processo defensivo. Inicialmente pensei que havia uma atenção maior com os centrais do SL Benfica, mas que na prática não se transformou em nada porque não conseguimos blocar os centrais adversários. Talvez taticamente tenha sido reforçada a importância de blocar o central rival algumas vezes. Esta atenção redobrada pode ter desacelerado a reação dos nossos centrais ao passe para a entrada e saída de rede.

Momento da polémica
“O Gersinho fez-nos perder o 1º set com aquela substituição”. Depois de feita é fácil de dizer que foi mal feita, mas vamos analisar o que aconteceu. Nós tínhamos o nosso distribuidor na rede com Bob e Victor Hugo, o PV estava em zona 1 e o Renan estava na segunda linha de zona 6. Na minha opinião, o Gersinho percebeu que o PV não estava com um nível de eficácia de 2ª linha extraordinário, estávamos a jogar pouco pelo central e as pontas eram o “ponto seguro”. Então, colocando o Miguel Maia ficava com 3 opções de ataque à rede, um bloco mais forte e um distribuidor que, com bola na mão, ainda não existe melhor em Portugal. Este era o panorama apresentado. Há o serviço do SL Benfica, recepção perfeita e o Miguel Maia coloca o Renan a atacar sem qualquer bloco que falha. Não estou a dizer que a culpa é do Renan, estou só a relatar factos porque falhar faz parte do jogo. Novo serviço do SL Benfica, jogamos em esforço para o Saliba, a bola sobra para o Sporting e o Miguel Maia coloca o Hélio a atacar sem bloco, mas também não fecha o ponto. Depois o Gersinho desfaz a substituição e, com o crescendo anímico do rival, já não conseguimos ganhar. A substituição foi mal feita porque, objetivamente, perdemos, mas houve um raciocínio e, na verdade, possibilidades de ter resultado. Se há coisa que se aprende com este adversário é que jogar na expetativa dá merda, temos sempre de cair em cima deles. O Gersinho tentou, não o censuro.

O Segredo do sucesso
Ficou evidente que os jogos com o SL Benfica se ganham nos centrais, tanto ao nível atacante como de bloco. Neste jogo falhou tudo. Certo é que tiveram pouca bola pela pouca confiança do Bruno Alves ou por intenção tática do treinador. Passávamos “horas” sem meter uma bola no central, o que torna o jogo previsível. Com a altura de passe que temos e a altura de ataque dos nossos centrais, a bola no meio é quase sempre ponto. O rival fez isso e viu-se o sucesso. De todos os centrais em campo, nenhum tentava adivinhar o passe no central, jogavam todos na reação e, com bola lá bem em cima, não forma de blocar. Se me lembro bem, só blocamos o central do SL Benfica uma vez e já no último set. Os centrais preferem dar prioridade ao apoio de bloco nas pontas de rede, percebe-se.

O Gersinho montou um sistema defensivo que não permite que o central bloque mal. Isto porque há um espaço vazio na defesa que deve ser compensado pelo bloco (o cantinho do campo lá do fundo). Se este chega tarde ou junta mal, levamos ponto na certa. Parece matemática o nosso sistema defensivo. Se o bloco juntar bem, temos o João na diagonal pronto para defender tudo. E isso acontece tanto. É aqui está o segredo.

O Adversário
O SL Benfica teve-nos respeito. Claro que o perdeu com o ritmo do jogo, mas teve. Há 2 jogadores que o Sporting CP deste ano consegue “mexer” psicologicamente. O Tiago Violas e o Rapha. Claro que se eles lerem o post vão-se rir e achar uma idiotice o que vou dizer, mas também é só a minha opinião. Eles cederam à pressão na supertaça tal como iam quebrar também neste jogo. Ambos, depois de acelerarem, ninguém os parou, no entanto houve um momento de limbo de confiança que podíamos ter atacado mais. Tivemos quase atingi-lo, mas infelizmente, o Marcel Matz também sabe ler o jogo e como tem um banco forte, mexe imediatamente na equipa.

Equipa feminina
O Covid fez-nos parar este ritmo muito positivo com que começamos o campeonato. Relativamente a este adiamento só quero realçar um ponto rápido: um jogo de voleibol só existe porque há público, de outra forma não atrairia receita e não geraria um movimento de dinheiro para ter, por exemplo, atletas profissionais. Há aqui um pilar crítico do sucesso que são os adeptos da modalidade.

Por exemplo, se eu vou ter uma conferência, onde sou palestrante, e a mesma já não se vai realizar, o mínimo que eu posso fazer é? Avisar os participantes! Devemos, portanto, tratar bem quem mais importância tem. Nós, Sporting, há uma semana comunicámos ZERO de voleibol feminino e esta semana que terminou comunicámos ZERO de voleibol feminino. O nosso jogo foi adiado e não existiu nenhuma comunicação sobre esse adiamento. É uma falta de respeito para quem segue a modalidade e uma falta de respeito para com as jogadoras (e neste momento está alguém a dizer “e quem é que quer saber de voleibol feminino?”. Um dia respondo a isso). Mesmo a Federação limitou-se a um “Devido ao adiamento do encontro Castelo da Maia GC x Sporting CP, no qual contava com transmissão em direto, a Volei TV levará até si o seguinte jogo”.

O próprio Castelo da Maia GC também fez um comunicado giro sobre o jogo que ia ter no Sábado, esqueceu-se foi do nosso jogo. No dia 14 diz que acede ao pedido de adiamento do jogo do dia 17, com a AA São Mamede, por estas terem atletas infetadas. Perfeito! Interpreto que não esperavam ter de adiar o jogo de domingo senão o comunicado seria diferente. É público que os testes demoram 2 ou 3 dias a ter os seus resultados, portanto para pedir adiamento do jogo de domingo, os resultados chegaram, pelo menos, até sexta-feira (dia do comunicado da Federação). Para isso, o Castelo testou no dia 13 ou 14 de outubro, logo no dia do comunicado certamente que havia suspeitas de infeção na equipa. Só na minha cabeça é que este comunicado não faz sentido nenhum? E o Sporting como fica nisto tudo? Vangloriam-se por terem adiado o jogo, mas não falam que também estão infetadas?

Se calhar sou demasiado exigente no que respeita à comunicação e gestão desportiva. Deve ser isso.

Um abraço leonino aos irmãos Cavalcanti que hoje têm o seu aniversário. Os mais velhos vão-se lembrar deles. O Maurícia já esteve connosco na Tasca (aqui).