Rúben Amorim, após o clássico, pelo que pode ver dentro de campo, mas também pela forma como sentiu que foi tratado, declarou e afirmou alto e bom som que: “O que me revoltou foi a dualidade de critérios, mas estamos sempre a aprender”.

Interessante que, depois 300 jogos como jogador profissional, 150 dos quais no SL Benfica, só agora tenha visto a diferença de tratamento que qualquer atleta, treinador ou dirigente do Sporting CP sofre. Mas é como diz Rúben Amorim, ele ainda está a aprender, e estará a aprender da pior forma, consigo próprio, sofrendo na pele. A verdade é que Rúben poderia ter aprendido com o exemplo de outros, pela observação – essencial num treinador – mas também conversando.

Poderia ter falado com Fábio Coentrão, que foi seu colega nos rivais, e que, no Sporting CP, em 35 jogos, viu 11 amarelos, ou seja, via amarelos ao dobro da velocidade que habitualmente via. Também podia falar com o seu ex-treinador Jorge Jesus, que, no primeiro ano de Sporting CP, já tinha sido mais vezes expulso do que em 6 anos de vermelho vestido. Ou então ver o exemplo do “nosso Enzo Perez” como disse um comentador ao ver um jogo da La Liga, que, enquanto seu companheiro, era poupado pelos árbitros, mas, mal chegou a Espanha, era com um festival de cartões que os árbitros o presenteavam. E Pepe? Que nem no Real Madrid era poupado, mas aqui em Portugal parece o Luizinho – nosso ex-jogador e da seleção Brasileira que desarmava com pezinhos de lã. Em sentido contrário, temos, por exemplo, Bruno Fernandes, que era admoestado frequentemente no Sporting CP, mas em Inglaterra é um “senhor”. Podia continuar por aqui fora dando imensos exemplos, de dualidade, mas nada melhor que transcrever o que Rui Jorge – atual Selecionador Nacional de sub21 – disse numa entrevista em 1999 após um ano, mais um, em que fomos violentamente prejudicados e que levou o calmo e sereno Presidente José Roquette a decretar “Luto pelo Futebol”. Vamos ler o que dizia Rui Jorge:

“[…]. Nunca me senti tão prejudicado pelas arbitragens como me senti este ano, no Sporting. Nunca! Foi um ano excessivamente mau para o Sporting, nesse particular. Inegavelmente. E sabe o que me doeu mais? A maneira como os árbitros lidavam connosco. Má, de mais. Existe uma falta de respeito muito grande dos árbitros em relação aos jogadores do Sporting ou ao Sporting-instituição, se quiser. Prepotência essa que sistematicamente nos prejudicou. Senti isso. Vivi isso como jogador. Uma grande prepotência dos árbitros e, de alguns deles, tinha excelente imagem, muita consideração! Posso dizer-lhe que, esta época, fui admoestado com o cartão amarelo por oito vezes e, destas, sete resultaram de meras conversas que tive. Digo – eles sabem isso – conversas, não insultos! Normal perguntar ao árbitro o porquê de tais decisões. No Sporting éramos dois ou três a perguntar, no FC Porto, sete ou oito! Se calhar essa é uma das diferenças e é capaz de ser mais fácil ao árbitro admoestar um ou dois que cinco ou seis! Não pense que estou a defender-me. Vi os amarelos sem saber porquê! Depois “veio a prepotência! Não aceito. É inadmissível. Noutro sítio, não fariam isso. Não fariam, nem fazem!

Acima de tudo porque o Sporting foi uma equipa extremamente correta. Quem se der ao trabalho de ver as estatísticas dos jogos, o número de faltas cometidas pelos jogadores do Sporting é infinitamente inferior às dos adversários e os cartões amarelos “caíam” só para o nosso lado! Num jogo o Sporting fez sete faltas, o adversário trinta e nos cartões, ficámos com uma expulsão e não sei quantos amarelos e o nosso adversário só com dois amarelos. É um absurdo!

Passaram-se 20 anos e nada mudou. O Sporting CP continua a ser o Clube que tem mais cartões por falta cometida, enquanto os nossos adversários continuam sempre a beneficiar de subjetividade e chavões como “é demasiado cedo e o árbitro não quer estragar o espetáculo”, ou “não tinha a intenção”.

Dizia eu que esta dualidade também se estende aos nossos dirigentes. O tratamento que têm é diametralmente oposto ao tratamento que têm os dirigentes dos rivais. Senão vejamos, ainda esta semana, Luís Filipe Vieira utilizou o Sporting CP para justificar a ausência de debates nas eleições do SL Benfica. No programa “Trio de Ataque”, da RTP3, disse que “não quero aquela palhaçada no meu clube”, ou seja, “palhaçada” é haver pessoas com diferentes visões a debaterem, e a verdade é que em momento algum foi censurado por se estar a imiscuir em assuntos de um rival e demonstrar uma enorme falta de sentido democrático, ele que naquele mesmo programa há três meses foi comparado a, soltem uma gargalhada, Churchill!

Estão a imaginar um presidente do Sporting CP a dizer isto sobre o rival e a passar incólume? Pois, eu não estou, só como exemplo basta ver que Bruno de Carvalho, enquanto Presidente fez um debate em 2017 com o candidato e seu concorrente Pedro Madeira Rodrigues, em plena SportingTV, e mesmo assim era apelidado de “ditador”, ao contrário do “Churchill”, que mesmo não debatendo é um estadista.

Nisto tudo, o estranho é que Luís Filipe Vieira, que é uma pessoa que nunca sabe de nada, não sabe o que se passava no gabinete ao lado do seu – o do seu braço direito – que não sabia que em plena sala de reuniões da SAD se recebiam pessoas para se fazerem negócios fora do âmbito do desporto – pelo seu motorista – , que não sabe nada sobre futebol, que nada sabe acerca das claques do “seu” clube, tenha visto os debates das eleições do Sporting CP e ainda se recorde dos mesmos, ele que às vezes se esquece das coisas.

Texto escrito por Nuno Sousa in Leonino

*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca