Ao fim de oitenta minutos sem ideias e a insistir em erros que se arrastam no tempo, o Sporting virou o galo do avesso à conta dos jogadores que saltaram do banco. Tem sido assim há três jogos

3-1gil

Se vos disser que o único remate à baliza do Gil Vicente, durante a primeira parte, nasceu de um quase autogolo, creio que estarei a dizer-vos quase tudo sobre a forma miserável como a equipa entrou em campo para a partida que lhe podia dar o segundo lugar isolado. Além disso, vem-nos à memória uma combinação entre Pedro Gonçalves e Jovane, que terminou com o remate desastrado do primeiro.

O Sporting ia para o intervalo a zero, o número coincidente com a sua capacidade criativa para desmontar um Gil que veio defender, defender, defender, e que, sem saber como, acabaria por colocar-se na frente do marcador através de uma bola parada, poucos minutos após o início da segunda parte.

Amorim puxava da garrafa de água, como que a empurrar essa chatice de ter que mexer na equipa e abdicar daquele desenho táctico que soa cada vez mais a equívoco, nomeadamente pela falta de um ponta de lança. Lá viria o Sporar, lá viria o Tiago Tomás, depois viria o Daniel Bragança, e quando dávamos por nós já não havia quem ocupasse a posição em que tinha começado a partida, numa espécie de desespero colectivo em busca de evitar a derrota caseira.

Mais com o coração do que com a cabeça, a recompensa para o acreditar acabaria por chegar. Primeiro por Sporar, mostrando a diferença que faz ter um homem na área que preocupa os centrais e abre espaço para a presença de colegas em zona de finalização. Depois por Tiago Tomás, num toquezinho Bergkampiano após assistência pinga cueca de Daniel Bragança. No espaço de dois minutos o Sporting provocava a cambalhota no jogo, confirmando a vitória já em tempo de desconto, com assinatura de classe por Peter Potter.

No final, Amorim diria “não jogámos como um grande, mas ganhámos como um grande”. A questão, meu caro Rúben, é que não jogamos como um grande há muito e isso começa quando entramos em campo sem pontas de lança, com três centrais em que nenhum deles sabe propriamente sair a jogar e com dois médios centro em que não há um deles com as características de rasgo.

Por isso, meu caro Rúben, enquanto for dando para emendar, podes continuar feito louco, como se estivesses no centro da pista com a música no máximo, incapaz de ouvir quem quer que seja, arriscando as entradas em falso e só metendo lá para dentro quem devia jogar de início quando sentes os gémeos apertados. Dificilmente jogaremos como um grande, mas poderás dizer que ganhámos como tal. Até o dia em que correr mal.