Com a suspensão das modalidades ditas amadoras no fim de semana passado, a jornada dupla do basquetebol acabou adiada, com o Sporting a jogar na quarta e sábado, ao invés de sexta e domingo, como estava inicialmente calendarizado.
Dois jogos muito semelhantes, em termos de resultado, exibição e estatística, embora contra adversários muito diferentes. O Vitória é, nos últimos anos, uma das principais equipas do campeonato (fora os 4 grandes) e o Imortal veio da Proliga (2ª divisão, onde não perdeu um jogo no ano passado), embora seja este ano um candidato aos playoffs.
Ora vejamos:
Vencemos o Imortal por 101-72 e o Vitória por 112-71;
Em ambos os jogos convertemos 16 triplos;
Fizemos 24 assistências frente ao Imortal e 25 frente ao Vitória;
Tivemos 42 pontos a vir do banco frente ao Imortal e 41 frente ao Guimarães.
E existem tantas similaridades que podia continuar este artigo só com os pontos em comum entre estes dois jogos…
O jogo frente ao Imortal não teve um início com aquele ritmo frenético que vimos na Madeira. Ao invés, o nosso jogo ofensivo teve uma tremenda eficácia.
O Imortal é uma boa equipa em termos ofensivos (é um dos segredos do seu “sucesso”) e, sabendo disso mesmo, Luís Magalhães decidiu emparelhar Shakir com Ty Toney e Ellisor com Derrick Fenner.
Se defensivamente fomos tremendos com a nossa intensidade e capacidade de pressão habitual, ofensivamente Fields era bem alimentado e causava mossa na defesa do Imortal; de tal forma, que os algarvios tentavam fechar os caminhos do cesto com ajudas frequentes, o que libertava imenso espaço na linha de 3 pontos. E o Sporting fê-los pagar por isso! João Fernandes e Travante Williams dinamitam o jogo com uma altíssima percentagem de 3 pontos e, em conjunto com Fields, marcam a grande maioria dos 34 pontos do 1º período!
No segundo período, começou a habitual rotação dos bancos e, do nosso lado, surgem na partida Ventura e Catarino – um a organizar e outro a marcar.
O intervalo surge e já o Sporting vencia por 61-32, isto é, 29 pontos de diferença. Curiosamente, a diferença que se verificou no final do jogo.
No 3º período, o Imortal corrigiu o seu ataque e regressaram do balneário com os dois postes, passando a utilizar mais o bloqueio direto, na tentativa de libertar Ty Toney e Derrick Fenner, de forma a fazerem uso do seu bom jogo exterior. E conseguiram. Acabaram por ganhar esse período por 25-20.
O Sporting entra no derradeiro período com 81 pontos marcados (muitos jogos não chegam a esta pontuação) e do banco vem o pedido: Vamos lá chegar aos 100!
Os comandados de Luís Magalhães arregaçam as mangas, voltam a defender de forma asfixiante e, no ataque, o jogo interior e exterior volta a surgir sem apelo nem agravo.
Muitos lançamentos feitos com oposição, desarmes de lançamentos, pressão de 2×1 sobre o portador da bola, 8 segundos excedidos, tempo de ataque esgotado – este jogo teve de tudo… Nem sempre bem, mas em termos de atitude defensiva, nada mais se pode pedir a esta equipa.
Com Fields (19 pontos e 7 ressaltos) e Travante (23 pontos e 7 triplos) em grande, o meu destaque vai inteirinho para João Fernandes, aquele que considero ter sido a revelação no ano passado. Importantíssimo defensivamente, pois é um jogador que nas trocas defensivas não fica em grande desvantagem perante os adversários, mantém a importância na pressão de 2×1 sobre o portador de bola adversário e, no ataque, tem como missão ser um facilitador, através dos bloqueios que libertam os colegas e surgindo como lançador exterior (sobretudo de frente para a tabela). Terminou o jogo com 17 pontos, 5 triplos e 7 ressaltos. Claramente o seu melhor jogo em termos ofensivos!
Se a bitola estava elevada, o jogo frente ao Vitória mostrou-nos que estes limites não existem para esta equipa. O Vitória via-se privado de 3 elementos (ficaram de fora por lesão), sendo um deles Ricardo Monteiro, jogador com 2,08m e 118kg de peso (tem peso para o jogo interior e um bom lançamento exterior). Ora, tendo só Coreontae DeBerry como elemento mais pesado para o jogo interior, Carlos Fechas tentou colocar uma equipa mais baixa e móvel dentro de campo, utilizando Alex Peacock e Tyler Seibring como elementos interiores, na intenção de tentar cobrir todo o corpo com a manta. O problema é que a manta é curta, quando do outro lado existem Fields e Travante.
O Sporting percebe isso mesmo e carrega no seu jogo interior como ainda não tínhamos visto. Fields termina o 1º período com 16 pontos marcados dos 29 do Sporting. Posições interiores bem ganhas, bom jogo de pés, capacidade de aguentar o contacto e marcar, bom lançamento da linha de lance livre. O 1º período foi um autêntico masterclass de jogo de poste. Infelizmente, o jogo exterior não estava tão eficaz como contra o Imortal, senão podíamos ter ganho o jogo logo ali…
No 2º período, o Vitória reage. É uma equipa com bons jogadores, bem orientada e, com André Bessa a coordenar e Brandon Parrish a atirar, conseguem ganhar esse período por 21-20. Os segundos períodos são quando o Sporting começa a rodar a equipa e, por vezes, o adversário mantém os habituais titulares mais tempo em campo, o que lhes dá alguma vantagem.
O Vitória é aquela equipa que, apesar de por vezes estar a perder por 12/16 pontos, dá sempre a sensação que, a qualquer altura, pode voltar ao jogo e causar perigo. Luís Magalhães e seus adjuntos sabem disto muito bem e, ao intervalo, passam a mensagem. Resultado prático? A equipa vem com uma fome tremenda e aniquila o Vitória em ambos os lados do campo. 32-15 e 31-19 foram os parciais desses 2 períodos. Exímios na defesa e tremendos no ataque. O Vitória ainda mudou para uma defesa à zona, mas o estrago já estava estava feito.
Enorme exibição colectiva (não vou fazer destaques individuais), frente a uma das melhores equipas da liga. Os 5 jogadores acima dos 10 pontos e as 25 assistências comprovam exactamente o que disse.
Notas soltas:
Cada vez melhor o entendimento de 2×2 entre Travante e Fields. Tomem atenção a este Dinamic Duo!
João Fernandes cada vez melhor no seu lançamento exterior.
13 roubos de bola frente ao Guimarães. Esta época estávamos a fazer bem menos que os 8 roubos por jogo que apresentávamos na época passada.
Jalen Henry está claramente fora da equipa. Tem que ganhar confiança rapidamente ou corre o risco de sair de vez da equipa quando Cândido Sá regressar. Eu sempre fui da opinião que podiamos ter apostado num extremo-poste português e contratarmos um americano que pudesse render a vir do banco sempre que Travante e Ellisor precisassem de descansar. Marqueze Coleman (que saiu do Vitória para a Estónia) teria sido uma contratação top nesse sentido!
Para a semana há mais, novamente em dose dupla.
Saudações leoninas a todos! Cuidem-se….
*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta
11 Novembro, 2020 at 21:07
O Henry consegue produzir tanto como o Nazione. Era suposto saber lançar de fora.
O Pedroso parecia o The Dream. Até afundanços de costas. E aqueles LL a uma mão…
11 Novembro, 2020 at 22:24
Ainda hoje fez, creio que 3 triplos. Acho que está a subir e a ganhar mais confiança.
Quem continua a mesma nulidade é o Cláudio Fonseca. Uma boa substituição futura por um português seria Daniel Relvão, poste da Académica bastante intenso e combativo.
Depois, ha mais 1 ou 2 jogadores que, ou dão indicações minimamente positivas este ano (casos de Diogo Araújo e de Jeremias Manjate) ou seria melhor experimentar outras paragens).
Atenção que não deve ser minimizado o resultado de hoje. A Académica ainda só tem uma vitória mas já jogou em casa com Sporting (derrota por 33 pontos), Benfica (derrota por 19 pontos), Porto (derrota por 7 pontos) e fora com o Lusitânia (derrota por 10 pontos), com o Esgueira (vitória por 8 pontos) e com a Oliveirense (derrota por 3 pontos APÓS PROLONGAMENTO; estava empatado nos 40 minutos usuais de jogo). Estes 2 últimos jogos e o de hoje foram os mais recentes, todos em Novembro. Isto numa equipa que conquistou o acesso à Liga Placard num Play-off menos de 1 mês antes de iniciar a competição principal. A sua construção terá sido um pouco mais incerta. Mas tem bons jogadores portugueses e está muito bem trabalhada.
Um abraço e saudações leoninas
12 Novembro, 2020 at 12:03
Caro Álvaro, você quer-me estragar o próximo artigo? LOL
12 Novembro, 2020 at 12:24
Como já havia referido, a base nacional foi a que se pôde arranjar. Os restantes clubes protegeram-se, blindaram os (que achavam) melhores.
Com o tempo, e com o Sporting consolidado (os próprios atletas devem ter pensado duas vezes em mudar de vida para vir para uma equipa feita do nada), É natural que se vá melhorando a qualidade dos portugueses.
Para mim, olhando para o actual plantel, faria sentido trocar o Shakir por um PG português (tipo Barbosa), e ir buscar um base/extremo americano que pudesse funcionar como marcador da 2ª linha.
Curiosidade, o Araújo e Fonseca (mais Ventura e Catarino) vão à selecção, o que diz muito.
12 Novembro, 2020 at 15:14
Concordo.
11 Novembro, 2020 at 22:25
Acho que foi o segundo jogo do Cadu, a fazer 100% da lunha de lance livre. Lidem haters… ahahaha
12 Novembro, 2020 at 8:16
Cláudio Fonseca… Pedroso também é mão na bola, mas outra.
12 Novembro, 2020 at 9:31
Um texto esclarecedor para quem como eu não viu nenhum dos jogos.
Deixo uma questão ao Tigas: Ty Toney será para regressar ou não? A ideia que tenho é que é jovem, com margem de progressão e que rodar o pode ajudar, ou a pouca estatura é um handicap que condiciona globalmente o rendimento em jogo?
SL
12 Novembro, 2020 at 12:02
Olá assentador. Antes de mais obrigado pelos elogios.
O Toney deve ter sido contratado por 2 anos e, se assim for, este será o seu último ano de contrato.
Eu acho o Toney é bom jogador. Aliás, foi um dos principais bases da liga há 2 anos. O problema é que ele não se adaptou ao estilo de jogo da equipa. É um jogador que gosta de ter bola e usar o bloqueio para penetrar ou lançar de 3. Gosta de ser protagonista. Não é tanto um organizador, como o Diogo Ventura. E com Travante e Elisor na equipa, o Sporting não precisa de um jogador como o Toney. Magalhães ainda tentou fazer dele um 6th man, a vir do banco, sobretudo quando Travante ou Elisor descansava, mas nunca rendeu o que se esperava.
Portanto a minha resposta é que, não acho que volte ao Sporting. Não pela falta de qualidade, mas pela características não encaixarem na restante equipa.
SL
12 Novembro, 2020 at 14:47
Grato pelos esclarecimentos, abraço e SL
12 Novembro, 2020 at 16:16
Acho que ambos (Araújo e Fonseca) têm problemas em dar consistência ao seu jogo. Parece que têm vários momentos de “brancas”, de quase relaxamento no jogo (noto mais isso no Cláudio Fonseca que tanto falha afundanços por excesso de força como perde inúmeros ressaltos por “mãos moles”). Parece que ambos têm vários momentos em que colocam pouca agressividade no jogo e isso numa equipa como ESTE Sporting, nota-se.
No entanto, é apenas uma opinião. Posso muito bem estar errado.
Um abraço e saudações leoninas
12 Novembro, 2020 at 16:34
Mas o que eu acho mesmo difícil de aceitar é que uma rubrica tão assertiva, numa Modalidade em que estamos bastante bem, apenas se vejam 1 dúzia de comentários.
SL
12 Novembro, 2020 at 22:08
Tenho sido um assiduo espectador… ja no ano passado fui algumas vezes ao PJR.
Estamos mt bem… com equipa reforçada e com produto nacional do melhor q ha.
Um bem haja ao Prof. Luís Magalhães!