Impossível esconder a cratera nas contas do Sporting, não há herança, covid, claques, escumalha, não há desculpa possível, não há nada que possa, já nem digo esconder, mas atenuar a incompetência de quem gere o destino do clube.
Seja qual for ângulo de análise das contas apresentadas a conclusão é sempre a mesma, sem estratégia, sem ideias, sem rumo, sem futuro, navegação à vista derretendo tudo que possa ter algum valor e nem assim conseguem os mínimos, que seriam pelo menos pagar os gastos correntes evitando o aumento das dívidas.

Começando pelas disponibilidades (dinheiro em caixa) existente e facilmente se verifica que a tesouraria está perto do colapso.
Nos bancos em 30/09 existiam 4M, uma redução de 10M face a 30/06 e já não chegava para pagar um mês de salários, percebe-se assim, a necessidade urgente de negociar o Wendel de forma a garantir liquidez para pagar salários até final deste ano, que recorde-se, excluindo indemnizações, estabilizaram nos últimos anos numa média de 5M por mês, um acumulado de 60M no ano.

Nos valores a receber de clientes correntes, uma redução no trimestre de 6M, há agora cerca de 12M a receber, sendo que metade é divida do WBA relativo à transferência de Matheus Pereira e duvido que seja paga nos próximos meses. Em todo o caso, fica evidente que os clientes, com covid ou sem covid, estão a cumprir com as suas obrigações, ao contrário das nossas dívidas a fornecedores que não param de aumentar. Seria ridículo, face às esperadas dificuldades aparecer novamente na praça publica a notícia encomendada que o Sporting não cumpre as suas obrigações porque os seus clientes também não pagam.
Abordando agora o resultado, negativo no trimestre em 4.1M e sabendo que habitualmente é no primeiro trimestre que se concentram grande parte das receitas e por esse fato, ocasiona elevados resultados positivos que vão sendo absorvidos ao longo dos trimestres seguintes em que a receita é menor.
Prova disso são os resultados no 1º Trimestre dos últimos anos:
2016: 62.9M
2017: 24.7M
2018: 16.0M
2019: 21.0M
2020: -4.1M
De notar que em 2019, apesar dos 21M de resultado positivo houve necessidade de vender em janeiro Bruno Fernandes por 55M e ainda Matheus Pereira em junho de forma a garantir liquidez e resultados equilibrados no final do ano. Julgo que isto é suficiente para se perceber a dimensão do desastre que se avizinha.

Entrando agora na falência técnica, todos nos lembramos da celeuma em 2018, que foi a notícia em toda a comunicação social da situação de falência técnica ocasionado pelos 13M de capitais próprios negativos. Agora que os capitais próprios negativos são superiores, em apenas 3 meses passaram dos -9.8M para -14M, seguramente que quando escrevo esta análise já terá sido notícia em todo o mundo a situação de falência técnica que a Sporting SAD atravessa.

Entrando no reino dos agentes, impressionante a longa lista de agentes e o valor total 27.7M que atualmente está em dívida a comissionistas.
Se à lista de agentes acrescentar os 30M de dívidas a clubes relacionadas com aquisição de jogadores, estamos já num patamar de 57.7M, algo nunca visto e que deveria preocupar o mais fervoroso defensor do atual conselho diretivo e que em 2018 tão perturbados e temerosos estavam com o buraco da dívida de 44M a fornecedores.
Para compor o quadro há ainda que acrescentar as dívidas a fornecedores correntes que totalizam 6.4M que elevam o total da dívida a fornecedores CORRENTES para 65M. Interessante nesta altura perceber a evolução da herança de dívidas a clubes e comissionistas que o Dr. Varandas está a construir, sempre a bater records, seguramente o céu será o seu limite pois não será ele quem está preocupado e que um dia as terá de pagar:
Set20-65M
Jun20-55M
Jun19-47M
Jun18-44M
Jun17-41M

Dos fornecedores passamos aos financiamentos obtidos, ou seja, aos bancos, que no curto espaço de 3 meses viram aumentar o valor corrente em 12M, passando dos 37M em junho para os atuais 49M. Sabendo que em novembro do próximo ano há o empréstimo obrigacionista para regularizar é confrangedora a falta de visão estratégica e capacidade para solver compromissos desta direção. Em bom português, vai ser bonito, vai …
Mas a surpresa não termina aqui, pois se compararmos o total dos financiamentos atuais 129M com os valores em junho de 2018 que eram de 111M, um aumento de 18M, coisa pouca, ninguém está preocupado, seguramente …

Outra enorme preocupação em 2018 era o passivo de 282M, pois nada melhor que elevar o valor para 298M pois clube grande e com glamour é assim que funciona.

Bem vistas coisas já estamos em condições de afirmar que comparado com o atual, o buraco aberto pelo Godinho Lopes afinal era um buraquinho. Mais impressionante quando sabemos que chegamos a esta situação depois de se ter desbaratado um plantel valioso, que mesmo mal negociado rendeu mais de 200M e de se ter efetuado um generoso adiantamento de receitas futuras da Nós, tudo isto para produzir uma cratera financeira e para amealhar uns míseros 600 mil euros na conta reserva destinados a garantir o futuro do clube com a compra por 40M das vmocs e 2026 é já ali. O tempo das vacas gordas terminou, entramos no tempo já não digo no tempo das vacas magras porque é ainda pior, será o tempo das vacas partilhadas.

Termino este exercício penoso de análise das contas trimestrais garantindo que estou triste, revoltado por perceber que mais uma geração de miúdos talentosos está a ser preparada para venda pelas primeiras ofertas que cheguem a alvalade e não é para garantir a desejada sustentabilidade futura, mas tão somente para garantir o pagamento de salários, água e luz. É terrível perceber que a única alternativa será aquilo que a direção garantiu não fazer, adiantar receita da nós para além do seu mandato, influenciado desde já, a estratégia de uma próxima direção. É forte, é enorme a herança que está a ser construída.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Malcolm
a cozinha da Tasca está sempre aberta a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]