Foi a 11ª vitória em 11 jogos, o que nos permitiu virarmos o ano de 2020 na liderança da Liga Placard de basquetebol.

O registo vitorioso continua, mas este Sporting 63 – 57 FC Porto voltou a ser um jogo bastante atípico, embora bastante diferente daquele que vimos contra o Benfica. Mais abaixo irei tentar explicar o porquê desta minha afirmação…

O Sporting entrava para este jogo como tendo o melhor ataque da prova, com cerca de 88 pontos marcados por jogo, e o FC Porto como a melhor defesa do campeonato, com cerca de 64 pontos sofridos por jogo.

Em termos exibicionais, antes deste jogo, o FC Porto estava fortíssimo e a grande dúvida seria como se iriam apresentar sem Max Landis, líder da equipa em pontos marcados (20,1 ppj) e em minutos por jogo (29 minutos de média). Já o Sporting, vinha de 3 exibições menos conseguidas frente a Benfica, Lusitânia e Esgueira, embora se possa argumentar que foram 3 jogos com um grau de dificuldade superior aos restantes do campeonato.

O Sporting começou com Diogo Ventura (base mais alto para marcar Brad Tinsley), Ellisor, Travante, João Fernandes e Fields. Tudo normal até aqui! O FC Porto inicia a partida com Brad Tinsley, Larry Gordon, João Soares, Tanner Mcgrew e Eric Anderson Jr. E aqui começou a batalha dos duelos individuais que se prolongou por todo o jogo!
Se, na Taça de Portugal, o Sporting explorou em termos ofensivos (e muito bem, diga-se!) a diferença de altura entre Landis e Ellisor (que o levava invariavelmente para zonas próximas do cesto e tirava partido da sua maior estatura), Moncho López não cometeu o mesmo erro, deslocando Larry Gordon para a posição 2 (segundo base), emparelhando-o com Ellisor, e fazendo entrar João Soares para a posição 3, para marcar Travante Williams.
Com estas mudanças, o FC Porto ganhava mais altura e peso, nas posições 2 e 3.

Este foi, mais uma vez, um jogo onde as defesas se sobrepuseram aos ataques. Ambas estudaram-se muito bem e o FC Porto nunca permitiu que os melhores do Sporting conseguissem fazer os lançamentos que queriam (salvo algumas excepções). O Sporting exerceu desde cedo a sua habitual pressão de 2×1 sobre o base adversário, na tentativa de retirar organização ofensiva ao FC Porto, que, tal como eu já tinha falado na crónica anterior, é uma equipa muito bem organizada e com um “playbook” muito interessante.

O FC Porto vinha preparado para isso e, como um dos dois elementos que exercia essa pressão era João Fernandes, muitas vezes eram feitas trocas defensivas, ficando Fields com Tanner Mcgrew. Ora, Fields não sai para fora da linha dos 3 pontos, o que dava muito espaço e luz verde ao americano do FC Porto para lançar. E ele assim fez, convertendo logo os 2 primeiros lançamentos de 3 pontos que fez.

O resto da primeira parte foi quase como um jogo de xadrez. As equipas anulavam-se mutuamente, as defensivas empurravam os melhores jogadores para áreas onde se sentiam menos confortáveis e as percentagens de lançamento caíam drasticamente (20% de 2 e 3 pontos para o Sporting, e 20% de 2 pontos e 30% de 3 pontos para o Porto). O Sporting, felizmente, ia conseguindo carregar no jogo interior, fruto de segundas bolas ganhas em ressaltos e Fields consegue 8 pontos, todos da linha de lance livre.
Ainda no final do 1º período, começou uma rotação louca de parte a parte e que se prolongou por todo o segundo período, sobretudo no FC Porto. O Porto tentava, não só encontrar alguém que atinasse com o lançamento e conseguisse causar algum desequilíbrio, mas também nunca ficar a perder nos duelos individuais. Do outro lado, Luís Magalhães tentava o mesmo.

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Se entrava Jalen Riley no Porto, no Sporting entrava Shakir Smith, se no Porto saia o Eric Anderson e entrava o Miguel Queiróz, no Sporting, Jalen Henry e Claúdio Fonseca eram chamados a jogo e para a combater a entrada de Amiel, o Porto levava a jogo Pedro Pinto. E por aí fora…

Ao intervalo, o resultado de 27-19, com 15-11 no 1º quarto e 12-8 no 2º quarto, espelhava bem a pouca eficácia e a sobreposição da defesa sobre o ataque de ambas as equipas.

Foi também ao intervalo que fiz um tweet a dizer que tinha a ligeira sensação que este jogo iria ser ganho nos balneários e que Luís Magalhães e a sua equipa técnica iriam corrigir posicionamentos, movimentações e os jogadores iriam acalmar e atinar com o lançamento. Errei! Quem mexeu melhor foi Moncho López!

Na segunda metade, o FC Porto tentou jogar de forma mais simplificada do que faz habitualmente: bloqueios directos e aproveitamento do 1×1 de Jalen Riley ou do desequilíbrio defensivo resultante desses mesmos bloqueios. Riley, que já tinha começado a mostrar um pouco do seu jogo no 2º período e que realizava o seu primeiro jogo oficial pelo FC Porto, explodiu (terminando o jogo com 22 pontos)! Foi um constante quebra-cabeças para Travante Williams, seu marcador directo, o que obrigou Luís Magalhães a mexer. O Porto fez o seu melhor período do jogo, com 19 pontos marcados (marca que repetiu no 4º período).

Felizmente para o Sporting, começou também a surgir na partida Diogo Ventura. Muitas vezes ignorado, Ventura foi lendo bem o que a defesa lhe ia dando. Com Travante em dia não, Ellisor muito marcado, Fields no banco, o base sportinguista aproveitou e chegou-se à frente. Um lançamento de dois fácil, um triplo, uma entrada para cesto convertida, lances livres, Ventura foi ganhando confiança… Confiança essa que levou para o quarto período.

Ainda na parte final do 3º período, Travante saiu para dar lugar a Catarino. Objectivo: colocar alguém mais rápido e pressionante e que só se iria concentrar em andar atrás de Riley. Sabem aquela do “Se ele for à casa de banho mijar, tu vais estar lá a segurá-la!”? Foi quase isso…

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No 4º e último período, a defesa sportinguista conseguiu finalmente começar a abrandar Riley. Sempre que o americano do FC Porto conseguia ter bola e colocá-la no chão, era “empurrado” por Catarino para a linha lateral, onde depois surgia a ajuda de Ventura, que fazia o 2×1. E a estratégia resultou. O Sporting voltou à liderança e voltou a colocar o marcador com 10 pontos de diferença.

No ataque, íamos marcando aqui e ali, até que, a 7 minutos do fim, o Porto muda a sua defesa para uma defesa zona 2-3. O Sporting, diga-se, não atacou muito bem a zona. Raramente fez sobrecarga de um dos lados, não bloqueava um dos dois homens da frente para libertar Catarino (que é bom lançador de 3 pontos) e poucas foram as vezes que colocou a bola dentro no topo do garrafão (a única vez que o fez Jalen Henry marcou). Contudo, ainda assim, Ventura foi descobrindo caminhos. Com confiança, entrou para o cesto, sacou faltas, marcou da linha de lance livre, de 3 pontos, etc. Um dos raros erros de Ventura no jogo foi uma falta ofensiva a 36 segundos do fim do jogo, que lhe valeu o único turnover que cometeu em toda a partida!

O Sporting esteve quase sempre na frente do marcador, só perdeu o 4º período (por 4 pontos) e é por isso um justo vencedor.

O jogo terminou com o Sporting a fazer uns respeitáveis 44% de lançamentos de 2 pontos, contra os 35% do FC Porto, 17% de percentagem de lançamentos de 3 pontos (5/29!) contra os 25% do FC Porto (9/36!) e 81% da linha de lance livre contra os 61% do FC Porto. O Porto termina o jogo com mais ressaltos (50 contra 43) ofensivos e defensivos, mas com muitos mais turnovers que o Sporting (17 contra 9).

E aqui está uma das razões de eu dizer que este jogo não foi tão mau quanto aquele contra o Benfica. Contra os nossos rivais da cidade de Lisboa, tivemos maus passes, perdas de bola infantis, más tomadas de decisão e muitos lançamentos forçados. Tudo junto levaram a 20 turnovers nesse jogo. Neste jogo, tivemos “n” bons lançamentos. A diferença para outros jogos é que não os convertemos. Mérito também ao FC Porto que colocou sempre pressão no jogo, o que pode ter dificultado, psicologicamente, esses lançamentos.

Eis um pequeno vídeo daquilo que refiro.

Não é minha intenção dizer mal deste ou daquele jogador. Estas foram boas tomadas de decisão nos lançamentos. Muitos treinadores aprovavam-nas. A diferença é que não convertemos os lançamentos…

Ventura fez 24 pontos, 4 triplos, 4 ressaltos, 3 assistências, 1 roubo de bola e 1 turnover.
Fields, 9 pontos e 7 ressaltos.
Travante 8 pontos, 8 ressaltos, 5 assistências e 2 roubos de bola.
Ellisor 8 pontos, 6 ressaltos, 1 assistência e 2 roubos de bola.
Finalmente, João Fernandes fez 8 pontos, 1 triplo, 9 ressaltos, 1 assistência e 3 roubos de bola.
Do banco, vieram apenas 6 pontos (4 de Jalen Henry e 2 de Shakir), mas sobretudo o bom desempenho defensivo de Catarino e Henry! Algo que foi importante, mas que não aparece na folha da estatística.

Posto isto, este jogo mostrou que o Sporting é fortíssimo defensivamente e consegue sempre encontrar solução para os problemas que lhe criam na liga. Limitar uma equipa como o Porto a apenas 8 pontos num período e 19 numa parte é obra!

O problema, ultimamente, tem sido o ataque. Se chegou até agora (com 11 em 11), não podemos “reclamar”; pode não chegar lá mais para a frente, quando realmente interessa, e de certeza que não chega para a FIBA Europe CUP, competição que começa no final de Janeiro e onde eu acho que, normalmente, tínhamos equipa para acabar nos 2 primeiros lugares do grupo, não em formato de bolha (algures por essa Europa), com jogos de 3 em 3 dias (as datas e sistema e local ainda estão a ser afinados).

O Sporting necessita urgentemente de pontos a vir do banco, sobretudo nestes confrontos, pois temos apenas 3 estrangeiros que realmente acrescentam em jogos importantes. Henry é importante em termos defensivos, tal como Shakir, mas ofensivamente têm oferecido pouco. Volto a dizer o que disse a semana passada: “A bola está do lado do recém premiado com o prémio Stromp, e do departamento de basquetebol!”. Depois não digam que eu não avisei…

Saudações leoninas e feliz 2021 a todos, com muita saúde e sucesso!

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta