Com seis jogadores formados na Academia no onze inicial e dois no banco de suplentes, o Sporting derrotou o Braga e venceu a Taça da Liga. Num relvado encharcado e com zonas impraticáveis e com uma arbitragem patética, Coates foi digno de um sentido “O Captain! My Captain!”, Palhinha foi um monstro no miolo e Porro mereceu ser o herói improvável de uma equipa que merece todos os sorrisos conquistados

(Pedro Correia/Global Imagens)

(Pedro Corrreia/Global Imagens)

Levaram-se os últimos dias a falar no encaixe tático, na importância de ganhar o meio campo, na pressão alta para não deixar o adversário construir a partir de trás e quando chegas ao Municipal de Leiria… quando chegas ao Municipal de Leiria percebes que o relvado não aguentou a chuva e que quase metade está tão ensopada que a bola não rola. Por outras palavras, será um risco sair a jogar, ainda maior se for sair a jogar pelo meio, entregando a bola ao João Mário, como o Sporting tanto gosta.

Mas é nestas alturas que se vê o carácter dos jogadores e cedo se percebe que faz todo o sentido escrever coisas como #OndeVocesForemEuVou. Logo nos primeiro minutos, Coates está-se nas tintas para o risco e só com Adán nas costas passa com classe pelo meio de dois adversários, dando o mote para uma das melhores exibições (ou a melhor) com a verde e branca vestida. No meio de tanto miúdo, Sebastião foi o patrão que a equipa precisava e o sinal de segurança e confiança que fez a diferença ao longo dos quase 98 minutos.

O exemplo foi seguido por todos os outros, sem excepção. João Mário, por exemplo, mostrou a quem gosta de falar em intensidade ou falta dela que é possível jogar de pantufas de biqueira de aço. Ao seu lado, Palhinha parecia estar a jogar na relva mais macia e bem cortda do mundo, impondo a sua presença em duelos de uma lateral à outra. Feddal estava intratável e contagiava o jovem Gonçalo Inácio para uma exibição onde até ganhou em corrida a Galeno. Jovane, além de ser quem mais procurava as saídas com variação de flanco, disputava cada lance como se fosse o último e era brindado com o primeiro amarelo pateta do jogo. Pedro Gonçalves fazia peito a gajos com o dobro do tamanho e Tiago Tomás encarnava Rocky Balboa, dizendo “You ain’t so bad, you ain’t so bad” aos adversários que lhe batiam como Clubber Lang. Do Adán falo-vos na segunda parte e, não, não me esqueci de Pedro Porro, rapaz que contagia pela qualidade e pela raça e que voltou a meter no bolso um tal de Galeno. E como se isso fosse pouco, o lateral direito recebeu um passe longo de Inácio (na marcação de uma falta que resulta de um pontapé na barriga de Palhinha que um trolha foi à sala de imprensa dizer que não tinha existido) arrancou decidido, entrou na área e marcou um golaço num remate cruzado.

Faltavam cinco minutos para o intervalo e ambas as equipas jogavam com os treinadores na bancada, depois do árbitro ter resolvido mandar ambos para o cantinho da pausa por estarem a ser feios um para o outro. O Sporting marcava numa altura crucial e logo a seguir teve oportunidade de fazer o segundo: Peter Potter aproveitou uma nesga de relvado mais seco e ensaiou um passe de magia que o deixou na cara do redes. Faltou metê-la lá dentro.

A chuva parou ao intervalo, o relvado melhorou um pouco, menos na zona do desgraçado do Nuno Santos que entrou para o lugar de Jovane e que de cada vez que tentava arrancar via a bola ficar presa na água. Depois viria Sporar para o lugar do exausto Tiago Tomás e pronto a levar a mesma porrada que o puto, mas com um extra: teria nos pés a oportunidade de matar o jogo. A dez minutos do final, Matheus Nunes, entrado para o lugar de um João Mário que parece ter saído por precaução, arrancou pela direita e cruzou para a entrada do esloveno e para uma emenda que foi na direcção do redes bracarense.

Antes disso, o Sporting havia passado por calafrios, até porque Carvalhal jogou mão daquela coisa que costuma correr bem aos adversários: meter jogadores formados no Sporting. Esgaio já lá estava, depois veio Iuri Medeiros para ensaiar aqueles remates banana da direita para a esquerda. O criativo ameaçou uma vez, à figura de Adán, e voltou a tentar provocando a recarga de Esgaio (lá está) para um golo bem anulado por fora de jogo. Também em fora de jogo estava Paulinho, o avançado de quem tanto se fala, quando no único lance em que a defesa do Sporting se deixou apanhar nas costas rematou com estrondo à trave, com ligeiro desvio de Adán. Por falar no nosso redes, foi assinalável a competência com que geriu os lances bombeados para a área que Coates não conseguiu limpar. A punhos, que o tempo não estava para brincadeiras, ou tirando literalmente da cabeça do adversário uma bola cruzada para a boca da baliza.

Quando isso aconteceu já passavam quatro minutos dos cinco que o árbitro havia dado de descontos. Nuno Mendes, o puto, tinha ido duas vezes lá à frente e tido o desplante de fintar dois e três adversários de cada vez. Pedro Gonçalves tinha questionado uma bola que era sua e que o bandeirinha ofereceu ao adversário, levando um amarelo que passaria a dois quando já para lá da hora que estava para lá da hora, arregalou os olhos em direcção do Tiago do apito por este ter soprado uma falta que só ele viu e que dava um livre muito periogoso. Adán defenderia para canto e só quando o canto foi marcado e em nada deu, o tal do Tiago teve vergonha na cara e mandou dizer a todos que o canequinho era do Sporting e desta equipa que merece todos os sorrisos que se seguiram.

Captura de ecrã 2021-01-24, às 00.46.00

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