Jogando novamente em condições climatéricas bastante adversas e com uma lesão de última hora de Paulinho, o Sporting voltou a ser de extrema competência e ainda ofereceu momentos de nota artística. Palhinha foi um verdadeiro monstro, mas nunca lhe faltaram amigos para defender ou para atacar, segredo para os Leões garantirem que chegam ao clássico com pelo menos dez pontos de avanço sobre o segundo classificado

palhinha

A paixão que liga os adeptos ao clube é o mote para o que se sente após cada vitória ou derrota, mas existe algo além desse sentimento que ameaça tornar cada vitória desta equipa do Sporting tão saborosa: a constante tentativa de retirar mérito ao que os verde e brancos fazem.

Ontem, depois de ter chegado a ver a sua equipa andar à procura da bola durante os oito minutos que antecedram o intervalo, Paulo Sérgio (como é que este gajo foi nosso treinador?) foi capaz de chegar à flash e dizer que teve o jogo quase sempre controlado e que, depois, a sua equipa acabou por oferecer dois presentes ao adversário. Duas palermices, chamou-lhe ele depois de ter a lata de dizer tanto disparate em tão pouco tempo, ainda com a azia a queimar.

As duas palermices a que o Paulo se refere são o golo de Feddal, aos 26 minutos, na sequência de um livre bem cobrado por Pedro Gonçalves para o desvio de Coates e emenda na crença do central marroquino que fez uma primeira parte irrepreensível; e o golo de Nuno Santos, cinco minutos depois, na sequência de uma pressão fortíssma do Sporting que obriga a defesa algarvia a errar e que o extremo leonino teve a capacidade de transformar em golo (belíssima primeira parte de Nuno Santos). Mas importa referir que antes das duas palermices, o tal jogo completamente controlado que o treinador adversário viu, o Sporting tinha tido um remate de Nuno Santos que o redes defendeu (7′), tinha tido uma assistência incrível de Nuno Santos que Peter Potter não foi capaz de dominar quando já estava na cara do redes (10′) e tinha deixado os seus adeptos a gritar golo quando Tiago Tomás chegou um segundo atrasado a uma bola cruzada que percorreu toda a pequena área.

Ora, portanto, aos 32 minutos de jogo o Portimonense era um conjunto de rapazes bem empenhados em não deixar o Sporting jogar, com fortes marcações homem a homem das quais apenas parecia estar dispensado o calmeirão Beto, ponta de lança que, na fase de relaxamento leonino, teve, então sim, uma oportunidade de ouro, mas o desvio à boca da baliza saiu por cima. Logo a seguir, Dener marcou mesmo, mas estava em fora de jogo e seria bom perguntar ao Paulo Sérgio o que acha da precisão com que a defesa leonina coloca os adversários para lá da linha permitida, coisa que se vai repetindo todas as semanas e que é fruto de muito trabalho.

Esse cinco minutos de vida que o Portimonense teve depressa foram anulados e dei por mim, nos últimos oito da primeira parte, a pensar que estava apaixonado por esta equipa. A pressão alta, as recuperações constantes, a capacidade de ter a bola (João Mário está em modo Nani e só falta ouvir assobios por saber o que fazer-lhe), o saber quando largá-la, a confiança com que se sai a jogar de trás com o redes a fazer parte do carrossel, tudo isto com uma carrada de miúdos e um grupo de mais crescidos que honram o símbolo do primeiro ao último minuto. E enquanto eu pensava isto, o Palhinha mostrava ao mundo que joga em terrenos ensopados com a mesma leveza com que a Julie Andrews rodopiava na relva enquanto cantava the hills are alive. Uma delícia.

Por falar em delícias e passando para a segunda parte que o Sporting geriu, Peter Potter pregou uma valente cueca ao Lucas possiqualquercoisa e tentou em jeito a primeira vez. Ao lado. Depois repetiu a dose para defesa do redes Samuel, que voltou a ter que ir à relva para safar um remate de Jovane. Do lado dos que tiveram o jogo sempre controlado, duas cabeçadas em bolas paradas, uma por cima e outra à figura, antes de ficar por marcar um penalti claro sobre Porro, mesmo a fechar o jogo e quando Daniel Bragança já andava lá no meio a jogar com os dois pés.

E foi isto. Competência e vitória sem discussão, pese todas as tentativas de minimizar o que de bom se faz. Diria mesmo, que à estrelinha, à vantagem de só estar focado no campeonato, à sorte de ter tido jogadores encovidados logo no arranque da época, aos golos de bola parada que dantes eram laboratório e que agorra são aberrações e ao facto de não haver público nos estádios, este Sporting ainda tem um extra que ajuda a explicar esta liderança no campeonato: tem chovido muito mais do que em anos anteriores.

I’m only happy when it rains
I’m only happy when it’s complicated
And though I know you can’t appreciate it
I’m only happy when it rains

Captura de ecrã 2021-02-21, às 07.44.02

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